O que se pode esperar da Roma de Di Francesco?

Mais uma vez, a Roma bateu na trave. Na temporada 2016-17, terminou o Campeonato Italiano na segunda
posição, vendo a Juventus triunfar. A falta de conquistas, bem como a evolução de alguns desgastes, levou o clube da capital a trocar de
treinador: saiu Luciano Spalletti e chegou Eusebio Di Francesco. O ex-comandante
do Sassuolo terá uma missão longe de ser confortável. A pressão por títulos e o fato de o time não contar mais Francesco Totti têm
peso. Será também o primeiro trabalho do técnico à frente de uma equipe de
maior porte. O que se pode esperar?

Eusebio Di Francesco Sassuolo Roma


O trabalho desempenhado por Di
Francesco nos Neroverdi foi
espetacular e é dele que se extraem as impressões iniciais quanto ao futuro Giallorossi. Com 96 anos de história, o
Sassuolo disputou apenas quatro temporadas na elite do futebol italiano, justamente as mais recentes. Nos
últimos anos, tem vivido tempos positivos. Em 2007-08, sob o comando de
Massimiliano Allegri, conseguiu acesso à segunda divisão, e em 2012-13 à
primeira. Neste turno, liderado pelo responsável por conduzir a Roma em
2017-18.

Exceto por um período breve,
entre janeiro e março de 2014, Di Francesco foi o treinador do clube da
província de Modena entre 2012 e 2017. Foram cinco temporadas à frente do time –
ou 209 partidas (83V, 54E e 72D), consolidando um trabalho, uma linha de
pensamento. Anteriormente, como jogador, destacava-se pelo empenho e pelo
jogo pelos flancos, em especial o esquerdo. Disso se retira a primeira de
algumas características importantes do técnico: o especial apreço pelo sistema
4-3-3, com apelo pelo ataque pelas pontas.

Era facilmente perceptível a
mentalidade ofensiva de seu Sassuolo. Os jogadores de frente contaram sempre com
muita liberdade para expressar suas qualidades. Essa foi justamente uma das razões
que conduziram à projeção de alguns atletas, como os atacantes Simone Zaza e
Nicola Sansone. Foi também a veia ofensiva do lateral croata Sime Vrsaljko que
levou o Atlético de Madrid a o contratar junto aos Neroverdi.

Luciano Spalletti Roma ManagerA despeito disso, quem mais se
beneficiou dessa proposta de jogo foi o jovem e talentoso Domenico Berardi, winger canhoto que atua pela faixa
direita. Velocíssimo, criativo e bom finalizador, aos 22 anos é uma das
esperanças para o futuro do futebol italiano. Mesmo com a pouca idade, já
disputou 159 jogos e anotou 59 tentos pela equipe. Não há dúvidas de que se trata
de seu principal destaque. Curiosamente, Spalletti, conforme foi veiculado no
site da UEFA, já elogiou Di Francesco, justamente pelo privilégio do jogo bem
jogado:


“Di Francesco é um treinador que tornou o futebol italiano mais
atraente com a equipe do Sassuolo”
, disse seu antecessor.


Apesar da mentalidade voltada
para o ataque, o Sassuolo também sofreu para encontrar seu melhor equilíbrio
defensivo. Nas quatro temporadas em que o clube disputou a Serie A, em apenas uma conseguiu ter saldo de gols positivo. Sua
defesa foi sempre muito vazada, o que poderia ser ainda pior, não fosse a
oportuna presença do goleiro Andrea Consigli, outro destaque da squadra.

Ainda assim, a princípio, deverão ser notadas características dos Neroverdi na Roma.
Foi isso o que se pode extrair de sua entrevista coletiva ao ser anunciado o novo treinador Giallorossi:

“Quero criar entusiasmo, ataque e
a formação 4-3-3 […] Quase sempre joguei no 4-3-3. Prefiro uma defesa com
quatro homens, e só usei três atrás quando foi absolutamente necessário. Para
crescer, um treinador precisa saber transmitir sua filosofia para o elenco. Por
agora, a defesa com quatro homens é a base para essa Roma”
, revelou.


Tal ideia poderá ser importante
para a afirmação de uma nova identidade no clube. Muitas vezes, Spalletti
utilizou uma defesa com três zagueiros na última temporada. Em grande medida,
isso se deveu ao fato de que possuía um trio de beques de alto nível – Antonio Rüdiger,
Federico Fazio e Konstantinos Manolas – e laterais ofensivos – Bruno Peres e
Emerson Palmieri. É muito pouco provável que isso volte a acontecer, até
porque, para além da visão de Di Francesco, a Roma deve perder ao menos um de
seus defensores: Manolas e/ou Rüdiger.

No meio-campo, deve ser privilegiada
a presença de um trivote, padrão básico adotado pelo treinador Rudi García, mas que foi suprimido na
Roma de Spalletti. Isso significa que, provavelmente, um volante se
postará à frente da primeira linha de defesa (Daniele De Rossi), enquanto
outros dois, imediatamente postados à frente, com tarefas ofensivas e
defensivas, ajudarão a dar consistência ao time – papel a ser desempenhado por Kevin
Strootman e Radja Nainggolan sobretudo, mas que poderá também ser atribuído ao jovem Leandro Paredes.

Domenico Berardi SassuoloNo comando do ataque, Edin Dzeko segue sendo a referência, podendo ser contratada alguma alternativa ao
bósnio.

Isso nos leva a um ponto chave:
as pontas. É notório o fato de que Mohamed Salah está de saída. Por
essa razão, inicialmente, Di Francesco só terá à disposição Stephen El Shaarawy
e Diego Perotti para a missão. É pouco. Evidentemente, contratações serão
feitas e são necessárias para que o treinador consiga explorar da melhor
maneira seu estilo de jogo. Nenhum dos dois citados é tão agressivo quando
Berardi (foto), por exemplo. E é justamente o garoto um dos atletas que estariam na
mira do clube da capital.

Além dele, também atletas do Neroverdi, o experiente zagueiro
Francesco Acerbi, o jovem meio-campista Lorenzo Pellegrini (formado na Roma,
que detém cláusula de recompra) e o atacante Grégoire Defrel, artilheiro do
Sassuolo na temporada com 16 gols, estariam na mira da Roma. Por hora,
certa é a chegada do polivalente defensor mexicano Héctor Moreno, ex-PSV
Eindhoven, que pode atuar na zaga, pela lateral esquerda e como volante.

Chegamos, pois, a outra chave da
temporada da Roma: a atuação do espanhol Ramón Rodríguez Verdejo, o Monchi, novo diretor esportivo,
ex-Sevilla. O dirigente traz consigo a esperança de obtenção de boas e baratas
oportunidades no mercado de transferências, o que pode verdadeiramente mudar os
rumos da equipe, como foi com os Rojiblancos
nos últimos anos, encontrando atletas de baixo custo em mercados periféricos
e os negociando por fortunas.

Gerson RomaOutro ponto que merece
consideração é o desenvolvimento de jovens, figuras como a do brasileiro
Gerson, do lateral Abdullahi Nura e de outros garotos da base romanista. Trata-se
de um trabalho importante e necessário, na medida em que têm sido formados bons
valores — os quais nem sempre recebem a devida atenção. Nos últimos anos, a
equipe Primavera conquistou o
Campeonato Italiano da categoria (2015-16) e a Coppa Italia (2017). Essa foi
uma das fundações do trabalho de Di Francesco no Sassuolo e é uma das principais
demandas da direção da Roma.

Como atleta, o novo treinador Giallorossi obteve seu maior destaque
justamente representando o grená da capital e, por isso, conhece o time e é
identificado. Ele estava lá quando a equipe conquistou, pela última vez, o
título nacional (2000-01) e conhece a pressão vivida no estádio Olimpico di
Roma. Foi escolha pensada e chega credenciado por um trabalho de qualidade. Suas ideias são claras, razão pela qual é possível esboçar expectativas. No entanto, maiores conclusões só aparecerão quando se encerrar a janela de transferências e se souber quais serão as
peças disponíveis para o italiano.

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