Vender Shaqiri foi um erro

Conhecido por suas invenções e
inovações táticas, Pep Guardiola pode ter cometido um deslize gravíssimo na
última janela de transferências: vender Xherdan Shaqiri para a Inter de Milão.
Evidentemente, o suíço-kosovar não é um grande craque, mas um jogador de grande
utilidade e versatilidade. As ausências de Arjen Robben e Franck Ribery deixaram
bem clara uma lacuna grave no elenco do Bayern – sobretudo nas partidas contra
o Barcelona.

Hoje, o que se percebe
taticamente no time bávaro são algumas variações táticas no setor de defesa,
com recuos eventuais de Xabi Alonso para compor uma linha de três beques e
liberar os alas e também com a fixação de um dos laterais na primeira linha da
defesa, formando, também, uma linha de três defensores e liberando o ala
contrário para avançar, como Pep já fazia nos tempos de Barcelona, prendendo
Eric Abidal de forma a conceder maior liberdade aos avanços de Daniel Alves.
Na linha de meio-campo, há uma
versão sofisticada do “trivote”, nome comumente utilizado para descrever uma
formação com três meio-campistas defensivos. Todavia, diferentemente da ideia
que se tem do trio, os meias bávaros não limitam-se à marcação – longe disso.
Xabi Alonso, Philipp Lahm, Thiago Alcântara ou Bastian Schweinsteiger fazem de
tudo. Excelentes passadores, conseguem criar bastante, fomentam o ataque e também
destroem. São atletas dinâmicos.
Completando o time – ao menos a
equipe ideal – Robben e Ribery agregam velocidade e imprevisibilidade pelos
flancos, decidindo jogos e ajudando Robert Lewandowski na tarefa de marcar
gols. Além disso, há a vital presença de Thomas Müller (foto), este sim “o” faz tudo da
equipe, a engrenagem crucial. Peça útil pelos flancos, como “falso 9” ou no
meio-campo, o alemão movimenta-se incansavelmente, oferece uma riqueza imensa
de opções aos seus companheiros e desmonta as marcações adversárias.

Assim, com toda a equipe
disponível, o Bayern de Munique é um time assustadoramente letal. Não obstante,
as ausências de Robben e Ribery aleijam a equipe. Sem eles, a equipe mantém sua
excelente gestão da posse de bola, mas perde seu diferencial. Não há ninguém no
atual elenco bávaro que exerça com um mínimo de semelhança as funções de
holandês e francês. Esse alguém era Shaqiri.
Espere um momento? Não seria
Mario Götze essa figura? A resposta é taxativamente negativa. E logo será
explicada. Com o baixinho atarracado que hoje representa as cores da
Internazionale, o Bayern tinha uma opção para ambos os flancos, com velocidade
e características semelhantes às dos craques do time de Guardiola. Poder-se-ia
arguir que o suíço ansiava por mais minutos e que desejava sair. Nesse caso,
sendo sua permanência impossível, o time deveria ter buscado alguma alternativa
no mercado, de forma a não permanecer tão refém de suas estrelas. Os rumores
recentes de um interesse no brasileiro Felipe Anderson (foto) indicam a percepção do
erro.
Guardiola e a direção do Bayern
pecaram, e o futebol não perdoa erros. Prova disso foram as lesões
concomitantes de Robben e Ribery. Sem eles, o Bayern mostrou um jogo pragmático
e sucumbiu diante da riqueza do futebol imprevisível do famigerado trio “MSN”,
formado por Lionel Messi, Neymar e Luis Suárez
.
O que acontece com Götze?

Contratado após brilhantes
temporadas com o Borussia Dortmund, onde recebeu o rótulo de “Messi Alemão”, Mario
Götze até chegou a viver bons momentos com a camisa do Bayern, mas estes foram
uma gota no oceano
. Além de um problema de desmotivação, o garoto – sim, Mario
ainda é muito jovem – não se encaixa no estilo de jogo do Campeão Alemão.
Camisa 10 natural, dono de
excelente trato da bola, habilidade e criatividade, não dispõe dos atributos
físicos e do dinamismo necessários para atuar na linha de meio-campo bávara e
não tem velocidade para ser escalado pelos flancos. Uma alternativa algumas
vezes utilizada foi sua colocação na função de “falso 9”, mas a presença de
Lewandowski, camisa 9 natural, impede esse uso.
No Borussia Dortmund, atuando
pelo centro de uma linha de meio-campistas mais avançados, o “3” do afamado
esquema 4-2-3-1, Götze tinha tempo para pensar, liberdade para criar e encostar
nos outros meias e no centroavante. Da forma como o Bayern se formata, não tem
se encontrado e, não raro, deixa-se abater e não mostra competitividade.
Definitivamente, o alemão não é a solução para as ausências dos grandes e
decisivos diferenciais do Bayern
. Potencial, o garoto tem de sobra e, sobre
isso, Franz Beckenbauer pode ter mostrado certa razão em suas últimas críticas:
Ele está estagnado. Ele joga como um adolescente. Assim que perde
a bola, ele abaixa a cabeça. É o momento de ele se tornar um adulto e explorar
o seu potencial extraordinário,”
disse o Kaiser.
Falta ao Bayern um equilíbrio maior
em seu elenco, sobretudo na linha de frente. Vender Shaqiri foi realmente um
erro.

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