Em 2017-18, um Dortmund sem identidade
QUANDO RESSURGIU no cenário internacional, o Borussia Dortmund era treinado por Jürgen Klopp e seu jogo tinha feições próprias. O famigerado Gegenpressing estava em alta, perfeito para um time que contava com a juventude de peças como Mats Hummels, Nuri Şahin e Mario Götze. A equipe ficou caracterizada pela forma intensa como pressionava seus adversários, evitava sofrer contra-ataques e apanhava os rivais desprevenidos, com seus próprios e vertiginosos contragolpes.

Foto: Alexandre Simoes/Borussia Dortmund/Getty Images
Esse estilo foi, gradativamente, modificado. Thomas Tuchel, o sucessor de Klopp e que era apontado como a alternativa ideal para aperfeiçoar seu trabalho, implementou o jogo de posição. Embora tenha conseguido propor variações até então inexistentes, ele se desgastou internamente e deixou o clube. A proposta de Kloppo terminou de ser deixada de lado na gestão fracassada de Peter Bosz. O time perdeu sua eletricidade e passou a gastar a bola sem objetividade.
A aposta em Peter Stöger demonstra que o clube está sem direção e procurou um nome para apagar o incêndio que se alastrou pelo Signal Iduna Park.
No início da temporada 2017-18, tudo indicava que os aurinegros haviam feito a aposta perfeita quando foram a Amsterdã convencer Bosz a deixar o Ajax e partir para Dortmund. Dos seus sete primeiros jogos, venceu seis, com um saldo de 24 gols positivos. Entretanto, os adversários entenderam a forma de neutralizar a equipe. Forçando o clube a sair jogando com sua primeira linha defensiva, sem o auxílio de um meio-campista, os rivais fizeram com que o time ficasse sem saída; com a bola, sem nada produzir.

Foto: Imago/Rene Schulz
Criticado por suas escolhas frequentes — como a contínua opção por Gonzalo Castro – Bosz foi cavando a própria cova. O time previsível começou a cair pelas tabelas. Chegou à sexta colocação da Bundesliga e foi eliminado da Liga dos Campeões, restando a Liga Europa no horizonte. O tradicional esquema tático 4-3-3, como executado, mostrou-se demasiado rudimentar e carente de alternativas. Em menos de seis meses, os resquícios de um futebol Heavy Metal desapareceram e o holandês perdeu o emprego.
A direção do Borussia Dortmund conhecia as ideias de Bosz ou apostou apenas em seu retrospecto recente, com o vice-campeonato da Liga Europa de 2016-17? Jogados às traças, os aurinegros perderam sua identidade. E o que dizer das propostas de Stöger, escolhido para suceder Bosz?
É impossível questionar que o trabalho do austríaco à frente do Colônia foi positivo. Sob sua direção, 1) o time retornou da segunda divisão, em 2013-14; 2) evitou o rebaixamento em 2014-15; 3) terminou na parte de cima da tabela em 2015-16 e; 4) classificou-se à Liga Europa em 2016-17. Foi uma escalada impressionante. No entanto, as aspirações do Bode não se assemelham às do Dortmund. Chegar às competições europeias é um protocolo; a luta verdadeira é pelo título.

Foto: Lintao Zhang/Getty Images
Em um primeiro momento, a missão de Stöger é evitar que a temporada se torne ainda mais fracassada. Seus feitos no Colônia não o credenciam como uma boa aposta. Na última temporada, montou um time coeso e teve em Anthony Modeste um artilheiro implacável. Mas era uma proposta carente de ideias, embora equilibrada. O time perdeu poucas vezes, mas foi o segundo que mais empatou na Bundesliga. Em geral, jogou no esquema tático 4-4-2, com duas linhas de quatro bem estruturadas e aposta em bolas despejadas na direção de seu centroavante — não muito mais do que isso.
Na Bundesliga 2016-17, o Colônia foi o terceiro time com menos chutes, em média, por partida; foi também o terceiro que menos tempo conservou a posse de bola e, em razão da procura constante por Modeste, acabou ficando com o terceiro lugar na estatística de impedimentos por jogo. Em compensação, foi o quinto no ranking de desarmes, com média de 20 a cada encontro. O modelo de jogo foi bem definido e era adequado para suas pretensões — pouco diante das aspirações aurinegras.

Foto: Herbert Bucco
Pode ser que a recuperação do Dortmund passe por uma reestruturação mais elementar, mas a longo prazo é um plano sem ambição. Stöger tem contrato apenas até o final da temporada; a direção aurinegra acusou o golpe: destruiu sua identidade e não pode remontá-la com o carro em movimento. Ainda assim, necessita obter melhores resultados.
Se o comandante contratado sofreu no início dessa campanha, perecendo sem Modeste, que partiu para o futebol chinês, e deixando o Colônia na lanterna da Bundesliga, ao menos pode contar com Pierre-Emerick Aubameyang. No entanto, ele não tem sido sombra do goleador de outrora.
Stöger é um bombeiro, que não vem para marcar território, mas para devolver a confiança a alguns jogadores e recolocar o Dortmund no caminho das vitórias. Não lutará pelo título alemão, vendo o Bayern de Munique 13 pontos adiante, mas tem na Liga Europa uma possibilidade. O clube encontrou uma solução com prazo de validade. No entanto, até ele é imprevisível; não se sabe o que o treinador oferecerá com um elenco de melhor qualidade nas mãos.
O time vai ter que buscar uma nova identidade, provavelmente em 2018-19.