Tristes partidas em 2013

2013 TERMINOU, MAS NÃO FOI SÓ O ANO QUE SE FOI. O futebol e seus amantes perderam no ano pregresso grandes ícones da história do esporte. Atletas da classe de Nilton e Djalma Santos, jogadores emblemáticos como Mazurkiewicz e Ramallets, e até mesmo jogadores de importância local como Aroldo Fedatto e Nado partiram, deixando-nos com a história e a memória de seus feitos. O futebol lamentou, ainda, a morte precoce de outros jogadores, casos de Jancarlos e Chucho Benítez. Lembramos alguns nomes que nos deixaram no último ano.

Alen Pamic – Meia – ✩ 15 de outubro de 1989 ┼ 21 de junho de 2013

Um amor que valia uma vida. Era assim que Pamic tratava o futebol. Com problemas cardíacos diagnosticados, o croata apostou em sua carreira. Para ele, jogar futebol valia o risco de uma morte súbita. O primeiro susto veio quando, em 2010, foi jogar no Standard Liége-BEL e num treino teve seu primeiro colapso, tendo que ser reanimado.

Sem sequer entrar em campo pelo clube Belga, onde atuaria ao lado de jogadores como Defour, Witsel e Mangala, retornou à Croácia onde ainda defendeu o Istra 1961 até sua morte. Antes do derradeiro ataque cardíaco, sofrido quando jogava futsal com amigos, Pamic teve outros três. Não desistiu e morreu fazendo o que gostava.

Aroldo Fedato – Zagueiro – ✩ 16 de outubro de 1924 ┼ 9 de setembro de 2013

Nascido em 1924, Fedato foi um dos maiores jogadores da história do Coritiba. Aos 15 anos, já tinha 1,87m, estatura incomum para a época. Foi formado no Coxa e estreou em 14 de março de 1943 e rapidamente tornou-se titular e capitão do alviverde. Ademais, detém vários recordes na equipe: é ele quem mais vezes defendeu as cores do Coritiba, quem mais vezes envergou a tarja de capitão e o recordista de títulos – sete paranaenses.

Sua classe lhe rendeu o prêmio Belford Duarte em 1951 por atuar em mais de 80 jogos sem ser expulso. Além do Coritiba, Fedato defendeu o Botafogo (quando, em excursão na Bolívia, ganhou o apelido Estampilla Rubia) por empréstimo e a Seleção Paranaense. Faleceu em 9 de setembro, vítima de problemas respiratórios

Aroldo Fedato

Foto: Gazeta do Povo

Bill Foulkes – Zagueiro – ✩ 5 de janeiro de 1932 ┼ 25 de novembro de 2013

Quarto jogador que mais vezes atuou com a camisa do Manchester United, Bill Foulkes nasceu em 1932 e chegou aos Red Devils em 1950, aos 18 anos. Curiosamente, o defensor estreou justamente num clássico contra o Liverpool, em 1952. Foram 18 anos de carreira e 688 partidas disputadas. Apenas Ryan Giggs, Bobby Charlton e Paul Scholes vestiram a camisa do United mais vezes.

Em sua carreira, venceu o Campeonato Inglês quatro vezes, a FA Cup uma, a UEFA Champions League uma e a Charity Shield por quatro ocasiões. Sobrevivente do desastre aéreo de Munique de 1958, Foulkes deu-se por vencido em 25 de novembro de 2013. Sofria do mau de Alzheimer.

Chucho Benítez – Atacante – ✩ 1° de maio de 1986 ┼ 29 de julho de 2013

Christian Rogelio Benítez Betancourt, ou simplesmente Chucho, foi um artilheiro muito aclamado no México. Equatoriano, iniciou sua carreira em 2004 no El Nacional de Quito. Três anos mais tarde, o centroavante mudou-se para o Santos Laguna do México, onde brilhou. Em 2009, aventurou-se no futebol inglês, emprestado ao Birmingham City, onde viveu sua primeira desilusão com o futebol.

De volta ao México em 2010, Chucho continuou se destacando no Santos Laguna e foi contratado pelo América, onde viveu sua melhor fase. Em 79 jogos, marcou 52 gols. Após todo esse sucesso, o equatoriano optou por sair e foi para o Catar jogar no Al Jaish. Lá, sofreu um grande revés do destino: uma insuficiência cardíaca conduziu sua carreira ao fim, e, mais do que isso, levou também sua vida.

De Sordi – Lateral Direito – ✩ 14 de fevereiro de 1931 ┼ 25 de agosto de 2013

Campeão Mundial pelo Brasil em 1958, De Sordi é um ícone no São Paulo, clube que defendeu entre 1952 e 1965 (foram 543 partidas). Curiosamente, nesses anos todos, não marcou nenhum gol pela equipe. Jogador de características defensivas, também atuava eventualmente na zaga-central e, apesar de seu 1,71m, era bom cabeceador.

Não obstante tenha sido ofuscado pela estrela de Djalma Santos, De Sordi escreveu uma bela história, que se encerrou em 24 de agosto. A causa? Falência múltipla dos órgãos. O ex-lateral já estava internado desde o início de julho quando sofreu um tombo e bateu a cabeça.

Djalma Santos – Lateral Direito – ✩ 27 de fevereiro de 1929 ┼ 23 de julho de 2013

Vitorioso e guerreiro, eis alguns adjetivos que bem descrevem Djalma Santos. Em sua carreira, foram mais de 400 jogos pela Portuguesa e também pelo Palmeiras (defendeu ainda, o Atlético Paranaense, em rápida passagem), além de 111 partidas pela seleção brasileira. O “homem de aço” perdeu o pai na Revolução de 1932 e a mãe para o câncer quando tinha apenas 12 anos. Passou a morar com uma irmã e trabalhar.

Em suas folgas, “Santos”, como era conhecido, gostava mesmo era de jogar futebol. Assim, tentou uma chance no Ypiranga e outra no Corinthians. Mas foram as portas da Lusa que se abriram para ele e não só lhe permitiram um futuro no futebol, como lhe possibilitaram jogar as quatro Copas do Mundo que disputou (1954, 1958, 1962 e 1966). De índole irretocável, nunca foi expulso de campo. O único cartão vermelho que recebeu foi mostrado pela grave pneumonia que o levou. Em diversas ocasiões, o lateral foi eleito o melhor de sua posição na história do futebol.

Djalma Santos

Foto: Divulgação/CBF

Gilmar – Goleiro – ✩ 22 de agosto de 1930 ┼ 25 de agosto de 2013

Difícil imaginar um atleta igualmente ídolo em dois clubes rivais. Gilmar o fez. Considerado refugo no modesto Jabaquara, o goleiro foi parar no Corinthians numa negociação que envolvia o jogador Ciciá. E foi em Parque São Jorge que se fez conhecer. As mais de 350 partidas pelo Timão levaram seus adeptos a o elegerem o maior goleiro da história do clube.

Após 10 anos jogando na capital paulista, um desentendimento com o então presidente corintiano Wadih Helou o levou ao litoral. Chegara a Santos para jogar no escrete de Pelé. Lá, conquistou todos os títulos que se podia conquistar à época e também se tornou o maior goleiro de todos os tempos do Peixe.

Pela seleção brasileira, o arqueiro disputou as Copas de 1958, 1962 e 1966. Curiosamente, às vésperas da Final da Copa de 1958, Gilmar e De Sordi pactuaram que se fosse preciso morrer para bater a Suécia, morreriam juntos. Dito e feito, mas apenas 55 anos depois.

Heinz Flohe – Meia – ✩ 28 de janeiro de 1948 ┼ 15 de junho de 2013

Lenda no Colônia e vencedor com a Alemanha, Flohe fazia parte do último selecionado do clube da cidade homônima que conquistou a Bundesliga, na temporada 1977-1978. Esteve também presente no título germânico da Copa do Mundo de 1974 e disputou a Copa sequente. Em 1979, após 13 anos no Colônia, o meio-campista foi jogar no 1860 Munique, mas uma grave lesão abreviou sua passagem pela equipe e sua carreira.

Um ataque cardíaco em 2010 lhe impôs o silêncio e a solidão de um coma. Sua morte aguardou três anos.

Jancarlos – Lateral Direito – ✩ 15 de agosto de 1983 ┼ 22 de novembro de 2013

Cria da base do Fluminense, apareceu como mais uma possível solução para a lateral direita brasileira. Reserva de Daniel Alves no Sul-Americano Sub-20 de 2003, Jancarlos não deslanchou. É bem verdade que viveu bons momentos no Juventude e principalmente no Atlético Paranaense, mas nunca fez jus à expectativa criada em seu entorno.

Especialista em cobrança de faltas, passou também por São Paulo, Cruzeiro, Botafogo, Bahia, Ituano, América-RJ, Volta Redonda e Rio Branco-ES. Apesar dos muitos clubes, ele não teve a oportunidade de encerrar sua carreira. Seu carro e uma ribanceira tolheram-lhe o direito.

Liminha – Volante – ✩ 14 de junho de 1944 ┼ 1º de novembro de 2013

Oitavo atleta que mais vezes defendeu o rubro-negro carioca, com 513 partidas disputadas, Liminha ficou conhecido no correr de sua carreira como o “Carregador de Piano” ou o “Motorzinho da Gávea”. É lembrado com carinho pela torcida por ter sido um jogador muito dedicado e, como dito na homenagem do Flamengo ao ex-jogador em seu site oficial: “(…) demonstrando raça e disposição em campo, é possível ser ídolo do Mais Querido mesmo sem ser um grande craque.”.
Um pequeno problema dentário se transformou numa infecção generalizada e ele não resistiu.

Mazurkiewicz – Goleiro – ✩ 14 de fevereiro de 1945 ┼ 2 de janeiro de 2013

Mazurka, como era conhecido, era filho de um polonês e uma espanhola. Marcou sua história do hall dos grandes goleiros da história do futebol mundial com as camisas do Peñarol e do Atlético Mineiro, mas brilhou principalmente pela seleção uruguaia. Famoso por ter “quase tomado” dois gols de Pelé que certamente entrariam para a história, foi eleito o melhor goleiro da Copa do Mundo de 1970.

O uruguaio disputou, ainda, as Copas de 1966 e 1974 e conquistou a Copa Libertadores da América de 1966 pelo Peñarol. Ele também defendeu as cores do Racing-URU, do Granada-ESP, Cobreloa-CHI e América de Cali. Internado na véspera de natal com problemas renais e respiratórios, partiu na segunda madrugada do ano.

Mazurkiewicz

Foto: Atlético

Nado – Ponta Direita – ✩ 15 de outubro de 1938 ┼ 3 de maio de 2013

Primeiro jogador de um clube do nordeste a vestir a camisa da seleção brasileira, Nado formou um “quarteto fantástico” no Náutico na década de 60. Nado, Bita, Nino e Lala eram infernais. Em 1966, Vicente Feola decidiu convocá-lo. Pela Seleção, jogou três partidas e seguiu para o Vasco da Gama, onde foi eleito o melhor ponta direita da Taça Brasil e do Campeonato Carioca de 1966.

Até a misteriosa convocação de Douglas Santos, Nado tinha sido o único selecionável da história do Náutico. Após três paradas cardíacas, o driblador, que pasmava defensores, adversários e torcedores com dribles desconcertantes, faleceu.

Nilton Santos – Lateral Esquerdo – ✩ 16 de maio de 1925 ┼ 27 de novembro de 2013

Descoberto quando servia ao Exército, Nilton seguiu, em 1948, para o Botafogo, único clube de sua carreira e pelo qual atuou em 723 partidas, detendo o recorde de aparições com a camisa do Estrela Solitária. Revolucionário, “A Enciclopédia”, ousou atacar numa época em que os laterais apenas se defendiam.

Ao todo, passou 16 anos no Botafogo e disputou as Copas do Mundo de 1950, 1954, 1958 e 1962. Foi em sua última Copa do Mundo que protagonizou um dos lances mais curiosos e marcantes de sua carreira. Nilton Santos cometeu pênalti em Enrique Collar da Espanha, mas, sorrateiramente, deu alguns passos para fora da área e induziu o árbitro a assinalar apenas a falta.

Vale, por fim, ressaltar a homenagem feita pelo Botafogo ao “Enciclopédia” quando um quadro de insuficiência cardíaca o levou à morte: “Com sua habilidade e categoria, Nilton Santos ultrapassou o conceito de maior lateral-esquerdo da história do futebol mundial. Ao ser chamado de “A Enciclopédia do Futebol”, teve de forma definitiva o merecido reconhecimento de sua incrível capacidade de encantar o torcedor.”

Ottmar Walter – Atacante – ✩ 6 de março de 1924 ┼ 16 de junho de 2013

Um dos grandes responsáveis pela primeira conquista da Copa do Mundo da Alemanha, em 1954, Otmmar Walter marcou quatro gols na campanha e escreveu seu nome na história do futebol. Por clubes, destacou-se no Kaiserslautern, onde teve uma média de gols inexplicavelmente alta (336 gols em 321 jogos) e conquistou a Bundesliga por duas vezes.

É ainda lembrado por ter sido irmão de Fritz Walter, capitão do escrete germânico em 1954 e igualmente reverenciado no Kaiserslautern, que os homenageou com um memorial lembrando todos os jogadores que o clube cedeu à seleção alemã em 1954.

Pedro Rocha – Meia – ✩ 3 de dezembro de 1942 ┼ 2 de dezembro de 2013

Ídolo no Peñarol e no São Paulo, o uruguaio era um meia de raro talento. Com habilidade e visão de jogo apuradas, foi o maestro das equipes por onde passou e na Celeste Olímpica. Extremamente vitorioso, sagrou-se campeão da Copa Libertadores da América três vezes, do Campeonato Uruguaio oito e do brasileiro uma vez, em 1977.

Pelo clube paulista, jogou 375 partidas e marcou 113 gols. Também vestiu as camisas do Coritiba, Palmeiras, Bangu, Deportivo Neza-MEX, Monterrey-MEX e Al-Nassr-ARA. Além disso, disputou as Copas de 1962, 1966, 1970 e 1974. Morreu em decorrência de uma atrofia no mesencéfalo contra a qual lutava desde 2009, quando sofreu um AVC.

Pedro Rocha

Foto: SPFC

Ramallets – Goleiro – ✩ 24 de julho de 1924 ┼ 30 de julho de 2013

Arqueiro catalão, Ramallets nasceu em Barcelona, mas se profissionalizou no Mallorca. Depois de passar por San Fernando e Valladolid, voltou para casa. E por lá permaneceu até o fim de sua carreira. Foram 14 anos dedicados ao Barcelona, que viveu anos gloriosos com a presença dos húngaros Kubala, Kocsis e Czibor, além do brasileiro Evaristo de Macedo.

O goleiro ficou ainda marcado na Copa de 1950, quando ganhou o apelido de “Gato do Maracanã” dado seu excelente desempenho no mundial. Pelo Barça, venceu o Campeonato Espanhol seis vezes e a Copa do Rey em cinco ocasiões. Feitos notáveis numa época de domínio do Real Madrid. Além disso, foi eleito cinco vezes o melhor goleiro da Espanha.

É o terceiro goleiro que mais vezes defendeu o clube catalão, atrás apenas de Zubizarreta e Victor Valdés.

Wladimir Dias

Idealizador d'O Futebólogo. Advogado, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Escrita Criativa. Mestre em Ciências da Comunicação. Colaborou com Doentes por Futebol, Chelsea Brasil, Bundesliga Brasil, ESPN FC, These Football Times, revistas Corner e Placar. Fundou a Revista Relvado.

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