Reconstrução bávara: como o Bayern transformou derrotas em hegemonia
A EUROPA ESTÁ PINTADA DE VERMELHO, reina o Bayern. No dia 25 de maio, em Wembley, os bávaros superaram o rival Borussia Dortmund (2 a 1) e conquistaram o melhor torneio de clubes do planeta, a Liga dos Campeões. Trata-se de uma história de sucesso especial. Um ano antes, o que agora são lágrimas de êxtase foram símbolo de tristeza. Ali, também na decisão continental, o clube foi batido pelo Chelsea nos pênaltis. Pior: justamente na Allianz Arena. De lá para cá o que mudou em Munique?

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Como dito pelo brasileiro Rafinha, lateral direito do Bayern, a derrota para os ingleses provocou um momento de pausa e reflexão. Não tinha como ser diferente. “Temos que vencer. Perder três finais em quatro temporadas, trará o rótulo de amarelão. Podemos ganhar muita coisa em Londres, mas também podemos perder muito”, disse Thomas Müller, ao Independent.
O peso vinha não apenas da queda diante dos Blues. Os alemães vinham de vices na Bundesliga (2010-11 e 2011-12) e também haviam perdido a Liga dos Campeões para a Internazionale, em 2010. Tudo isso com altos investimentos. A ordem era vencer.
A busca por reforços no setor defensivo
Se Bastian Schweinsteiger, Franck Ribery, Thomas Müller, Arjen Robben e companhia nunca deixaram de ser efetivos ofensivamente, a defesa bávara, por vezes, causava arrepios ao torcedor do Bayern. Foi preciso reforçar o setor. No início da temporada europeia, chegaram o zagueiro brasileiro Dante, vindo do Gladbach, e o volante Javi Martínez, pilar do surpreendente Athletic Bilbao, treinado por Marcelo Bielsa.

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Martínez custou caro, 40 milhões de euros, mas os questionamentos acerca do valor da transferência evaporaram com as primeiras atuações do jogador. Ele acertou a cobertura da defesa, facilitando o trabalho dos zagueiros, que deixaram de jogar expostos. Dante, que já era conhecido no futebol alemão, também assumiu a titularidade e a liderança da zaga bávara, ganhando também importância moral.
A recuperação de atletas
Além disso, foi necessário tranquilizar alguns atletas após sucessivos fracassos. Robben é o maior exemplo.
Após fracassos sucessivos tanto no Bayern quanto na seleção holandesa, o jogador foi estigmatizado como pipoqueiro. A falta de confiança foi tão grande que ele começou a temporada na reserva. Insatisfeito, brigou, reclamou. Um infeliz acaso devolveu seu lugar no onze inicial e ele correspondeu: uma contusão de Toni Kroos. Robben voltou a ser peça nuclear da equipe. Mais que isso. Brilhou nas decisões, marcando contra o Barcelona, nas semifinais, e contra o Borussia Dortmund, na decisão.
Outro atleta recuperado foi o lateral David Alaba. O austríaco sofreu para se adaptar à posição, tendo sido formado como meio-campista. Já o zagueiro Jerome Boateng, deixou de ser um quebra galho que atua em todas as posições de defesa; fixou-se na zaga ao lado de Dante e fez uma temporada boa — enfim.
Comprometimento coletivo
Foi visível pelos espectadores a consciência da grandeza do Bayern demonstrada pelos jogadores do clube diante dos resultados pobres. Sob a batuta do ídolo Jupp Heynckes, que tinha vários títulos pelo clube, mas não a Liga dos Campeões, o time praticou um futebol solidário.

Foto: Bayern FC
Um dado que corrobora a afirmação foi o de que Mario Mandzukic, o centroavante da equipe, foi o jogador mais faltoso da equipe na Champions. Evidentemente, o objetivo do jogo não é cometer infrações, mas elas entregam o compromisso do croata com o coletivo. Heynckes acomodou as características de seus jogadores a um esquema de jogo mais compacto e voraz nas transições; isso foi determinante para o triplete.
O Bayern não venceu o Dortmund apenas na Liga dos Campeões. Superou amplamente os aurinegros na Bundesliga, somando 25 pontos a mais, e o Stuttgart, na decisão da Copa da Alemanha. É caso de aplausos.
Foi essencial manter o grupo da temporada passada. Inclusive o holandês tão criticado por todos (inclusive por mim) – que havia perdido um penâlti aos 85 minutos contra o BVB nas rodadas finais da Bundesliga 11/12 e 38 dias depois perdeu um outro penâlti, dessa vez na prorrogação da final da UCL.
Muito importante também foram as contratações puntuais, como Dante, Mandzukic, Shakiri e o caríssimo (que me surpreendeu positivamente) Javi Martinez.
E um terceiro ponto importante, na minha opinião, foi o "acerto" e a união entre os jogadores – especialmente nesse fim de temporada (das quartas da UCL pra cá) – lembrando que o Mueller e o Ribery, em diferentes ocasioes, já haviam saido na mão com o Robben. Tudo em busca das três taças que escaparam na temporada passada.
E, junto à comissão técnica, o grande homem por trás dessas vitórias foi o mestre Josef Heynckes. "Danke Jupp!"