Liverpool 2004-2005
QUANDO A TEMPORADA 2004-05 CHEGOU, haviam se passado mais de 20 anos desde o último título da Liga dos Campeões conquistado pelo Liverpool. O jejum de títulos ingleses também era grande, alcançando os 15 anos. Nesse contexto, somente algumas vitórias nas copas inglesas e um título da Copa da UEFA amenizavam a realidade vivida pelos Reds. A pressão pela conquista de um título de maior expressão existia e não era pequena. Contra ela, o clube apostou suas fichas no treinador Rafa Benítez, contratado junto ao Valencia.
Time: Liverpool
Período: 2004-2005
Time base: Dudek; Finnan, Carragher, Hyypiä, Traoré; Luis García, Alonso, Gerrard, Riise; Kewell (Hamann) e Baros. Téc.: Rafa Benítez
Conquista: Liga dos Campeões
A esperança veio da Espanha
“Espanholizando” o elenco, Benítez promoveu modificações profundas no time inglês. Junto a ele, desembarcaram em Anfield Road jogadores como os decisivos Luis García e Xabi Alonso, vindos de Barcelona e Real Sociedad, respectivamente. Chegaram também outros espanhóis, casos de Josemi e Antonio Núñez e, na metade da temporada ainda seria contratado o atacante Fernando Morientes.
Além da legião hispânica, o clube adquiriu o atacante Djibril Cissé e, na janela de transferências de inverno, o goleiro Scott Carson e o beque argentino, ex-comandado de Rafa, Mauricio Pellegrino.
Entretanto, a missão do treinador espanhol era dura. Além do jejum de títulos importantes, o Liverpool acabara de vender sua maior estrela: o inglês Michael Owen se tornara mais um Galáctico, firmando com o Real Madrid.
O estilo de jogo
Como fizera no Valencia anteriormente, Rafa chegou ao Liverpool tentando impor um jogo técnico e criativo, com força e velocidade pelos flancos e toque de bola no centro do campo. Por isso, pediu a contratação de Alonso, que se tornaria o termômetro da equipe, seu controlador. A equipe não tinha grandes diferenciais técnicos, contudo contava com aquela que foi, possivelmente, a versão mais ofensiva e decisiva de Steven Gerrard.
Falando em poder de decisão, o treinador tinha em Luis García uma peça que, em muitas ocasiões, abusando de sua individualidade, resolveu partidas.
A defesa era segura e sólida, mas também não tinha nada de muito especial. Zagueiros titulares, Jamie Carragher e Sami Hyypiä eram identificados como clube e atletas de forte caráter. Desistir nunca era uma opção para eles. Os outros componentes do setor eram apenas regulares e não desfrutaram de muitos minutos de fama durante a carreira: os laterais Steve Finnan e Djimi Traoré, e o goleiro Jerzy Dudek, que escreveu capítulo próprio. Quando precisava reforçar sua retaguarda, Rafa tinha a alternativa do experiente volante alemão Dieter Hamann.
Com um canhão na perna esquerda, o norueguês John Arne Riise era alternativa pela meia esquerda, enquanto, mais próximo do gol, Harry Kewell era quem concentrava o jogo do time, fazendo a ligação entre meio-campistas mais centrais, ponteiros e o atacante de referência, usualmente Milan Baros, mas em algumas ocasiões Djibril Cissé. Tratava-se de um bom time, contudo, tecnicamente inferior ao das grandes esquadras que enfrentaria (e venceria com todos os méritos).
A campanha na UEFA Champions League
Embora tenha conseguido dar a sua cara ao Liverpool, Benítez não trouxe impacto imediato a Anfield Road. Seu início de trajetória foi apenas regular. Nas primeiras 10 rodadas da Premier League, os Reds somaram cinco vitórias, três derrotas e dois empates e na fase de grupos da Liga dos Campeões jogaram apenas para o gasto. Antes, vale dizer, o clube teve que disputar eliminatória para conseguir acesso à dita fase: na ida, venceu o austríaco Grazer AK por 2 a 0, placar que foi fundamental, uma vez que o clube perdeu na volta, 1 a 0.
A estreia no Grupo A da competição continental foi com vitória, contra o Monaco, mas logo veio derrota decepcionante contra o Olympiacos (1 a 0, com boa participação do brasileiro Rivaldo). Após, um empate e uma vitória magros contra o Deportivo La Coruña mantiveram a situação do clube inglês absolutamente perigosa e com fortes emoções. Estas só ficariam mais fortes, quando, ao visitar o Principado, o clube viu o argentino Javier Saviola lhe impor mais uma derrota magra.
E não é que o flerte com a desclassificação chegou a ser real?
Em casa, contra o Olympiacos, o time do Liverpool viu Rivaldo abrir o placar para os gregos, de falta. Contudo, no segundo tempo, acordou e virou, com gols de Florent Sinama-Pongolle, Neil Mellor e Gerrard. Com a segunda colocação, atrás do Monaco finalista na edição anterior, os ingleses avançaram aos mata-matas.
Os primeiros sinais de que o clube poderia fazer um trabalho melhor na competição europeia vieram já nas oitavas de finais. Sorteados para pegar o Bayer Leverkusen, que possuía um ataque forte, com o brasileiro França e o búlgaro Dimitar Berbatov, os Reds venceram as duas partidas convincentemente. Ambos os encontros terminaram 3 a 1 e, nas duas ocasiões, os ingleses abriram vantagem por três gols, antes de sofrerem o tento de honra do clube alemão. A aludida fase foi bem mais tranquila do que a primeira. As dificuldades, contudo, aumentariam.
Nas quartas de finais, o adversário do Liverpool foi a Juventus, que seria campeã italiana naquela temporada. Do lado italiano, o time treinado por Fabio Capello tinha muitas estrelas, figuras da estirpe de Fabio Cannavaro, Gianluigi Buffon, Pavel Nedved ou Alessandro Del Piero. Desde o início, ficou claro que avançaria quem menos errasse.
Os Reds foram econômicos, mas alcançaram seu objetivo. Em Anfield Road, venceram pela margem mínima, 2 a 1, gols de Hyypiä e Luis García. Na volta, o 0 a 0 garantiu o avanço do clube às semifinais. Ainda sem favoritismo, o clube inglês começava a dar mostras de que poderia conquistar o título, mas teria que fazer o que não fizera na temporada ainda.
Após eliminar a Vecchia Signora, o Liverpool ficou frente a frente com o Chelsea, treinado por José Mourinho e que seria campeão inglês na temporada em questão. Quando chegou o momento de os clubes se enfrentarem pela competição continental, já haviam jogado três vezes na temporada e o recorde apontava prevalência londrina. Na Premier League, os Blues haviam vencido duas vezes (ambas por 1 a 0). A outra partida entre Liverpool e Chelsea fora a final da FA Cup, conquistada também pelo clube da capital (3 a 2).
No duelo dos treinadores ibéricos recém-chegados à Inglaterra, Mourinho vinha levando a melhor. Entretanto, com controvérsia, tal situação se findou. Em Stamford Bridge, o zero não saiu do placar, e na volta, em Anfield, os Reds venceram, por 1 a 0. Porém, a bola finalizada por Luis García aos quatro minutos da primeira etapa não teria entrado. Validado, contudo, o gol devolveu ao Liverpool a possibilidade de alcançar uma glória de peso. Para isso, no entanto, teria que vencer o poderosíssimo Milan.
O Milagre de Istambul
Reafirmado no contexto do futebol europeu após bater Bayer Leverkusen, Juventus e Chelsea, o Liverpool que chegou à final da Liga dos Campeões já não era encarado como azarão. A despeito disso, não era possível deixar de apontar o Milan como favorito à conquista. Comandado pelos gols da dupla formada por Hernán Crespo e Andriy Shevchenko, pela técnica e velocidade de Kaká e a solidez de sua incrível defesa, o clube chegara com tudo a Istambul.
O que não se podia esperar era o massacre que a esquadra italiana imporia à inglesa no primeiro tempo. Com muita liberdade, Kaká comandou uma vitória arrasadora por 3×0, com gols de Paolo Maldini e Crespo (2x).
Não parecia que os Reds teriam qualquer chance de conquistar a vitória: eis que entrou em ação a “mão do treinador”. Inesperadamente, o espanhol sacou o lesionado Finnan, seu lateral direito, e ao invés de o trocar por Josemi, da mesma posição, lançou a campo o experiente volante Hamann. O 4-4-1-1 inicial se transformou em 3-4-2-1 e Kaká ganhou uma sombra.
O jogo virou e em seis minutos (entre o minuto 54 e o 60) o Liverpool conquistou o empate, com tentos de Gerrard, Vladimir Smicer (que entrara ainda no primeiro tempo na vaga de Kewell, lesionado) e Alonso. Com a confiança renovada, os ingleses mantiveram o resultado e, cansados e cautelosos, os times não evitaram o drama dos pênaltis.
Foi então que a estrela de Dudek apareceu.
Quando a marca da cal foi determinada como artifício que decidiria a partida, o goleiro agarrou as cobranças de Andrea Pirlo e Shevchenko e se tornou mais um herói da noite turca que ficou conhecida como Milagre de Istambul. Serginho, brasileiro que havia entrado no decorrer da partida, também desperdiçou sua cobrança, mas chutou na trave.
O vitorioso elenco do Liverpool
Como já mencionado, a meta da equipe era defendida pelo polonês Jerzy Dudek. O arqueiro fora contratado em 2001, junto ao Feyenoord, e chegara com o cartaz de melhor jogador do Campeonato Holandês de 2000. O herói da noite turca de futebol mais importante da história do futebol europeu era um bom goleiro. Seguro, fazia seu trabalho sem alarde. Como dificilmente seria diferente, falhou algumas vezes durante sua trajetória, nada que o faça ser menos lembrado por seus feitos positivos.
Durante a temporada, os Reds chegaram a contratar o jovem Carson, então titular da seleção inglesa sub-21, ao Leeds United, mas esse nunca se firmou no clube. Em 2005-06, Dudek viu o Liverpool contratar o espanhol Pepe Reina e passou à reserva e, em 2007, deixou o clube, rumo ao Real Madrid. Ao todo, defendeu a honra de Anfield Road em 179 partidas, conquistando 73 clean sheets.
Pela lateral direita, atuou um dos jogadores mais dedicados da equipe, o qual, por essa qualidade, conquistou espaço especial no coração do torcedor do Liverpool. O irlandês Steve Finnan não era alguém que tivesse muita categoria, mas era incansável, encarnava o espírito do clube. Durante sua longa passagem pela equipe, sofreu com muitas lesões, porém foi importante. Em 217 jogos, só marcou uma vez. Nem a contratação do espanhol Josemi junto ao Málaga foi capaz de diminuir seu espaço.
Por sua vez, a faixa canhota contava com a presença o malinês Djimi Traoré. Contratado em 1999 após se destacar na segunda divisão francesa, era zagueiro de origem, mas como o clube possuía pelo flanco esquerdo a potência de John Arne Riise, foi tida como ato de sabedoria a adaptação do jogador à ala , para aumentar a proteção pelo setor. Embora nunca tenha conquistado muito espaço no período em que teve contrato com o time, em 2004-05 foi o titular da posição. A alternativa a ele era Stephen Warnock, jogador de vocação mais ofensiva.
Na zaga, a titularidade de uma dupla de ídolos era indiscutível. Criado no clube, Jamie Carragher era uma das grandes referências do torcedor dos Reds. Conquanto não fosse muito alto (1,83m), marcava como um carrapato, tinha senso de posicionamento privilegiado e nunca deixava de lutar pelo time. Jogador de um time só, representou o Liverpool entre 1996 e 2013, conseguindo a impressionante marca de 737 jogos. Seu parceiro era o finlandês Sami Hyypiä considerado pelo próprio clube um dos maiores beques de sua história. Grandalhão (1,93m), era fortíssimo no jogo aéreo, muito firme e sério. Disputou um total de 464 jogos pelo time e marcou importantes 35 tentos. A dupla possuía enorme entrosamento e se mostrou fundamental para os êxitos do clube, como os empates sem gols contra Juventus e Chelsea. Ambos foram capitães da equipe em muitos momentos.
À frente, no meio-campo, o Liverpool alinhava uma dupla de meio-campistas de extremo talento. Ainda jovens, Xabi Alonso e Steven Gerrard viviam grande momento. Mestre dos passes e da organização, o primeiro chegara da Real Sociedad para mudar por completo o modo como o clube atuava. Dono de impressionante controle de bola e postura elegante, já em sua primeira temporada pelo clube, foi fundamental. Stevie, por seu turno, era de tudo um pouco. Capitão, era a referência moral mais importante e vivia momento técnico especial. Atacava e defendia o tempo todo, passava bem, corria muito, marcava gols e orientava seus companheiros. Confirmava-se ali um dos maiores ídolos da história do clube; como Carragher, jogador de um só time, pelo qual jogou 710 vezes e marcou 186 gols.
Quando precisava de um jogador de marcação mais forte — como na final — o treinador Rafa Benítez tinha como alternativa o já citado Dieter Hamann. Volante alto, de forte marcação, cuja especialidade eram os desarmes, era titular absoluto antes da chegada de Alonso e foi outro atleta que conquistou o profundo carinho do torcedor dos Reds. Sempre calmo, bem composto e imperturbável, ajudou a dar equilíbrio a equipe em vários momentos.
Com papel mais ofensivo, pelo flanco esquerdo Riise era um jogador versátil e importante para a equipe. Seus arroubos ofensivos em velocidade foram muitas vezes importantes; a bomba que possuía na perna canhota tirou o time de apuros em muitas ocasiões. Seu estilo sempre muito ligado ao lado físico do jogo e sua entrega impressionavam. Como perfeito contraponto, pela faixa direita, o espanhol Luis García desfilava um futebol gracioso e leve, com a marca do futebol catalão. Decisivo, habilidoso e rápido, foi fundamental para a conquista da UEFA Champions League, com cinco gols.
Mais próximo do ataque, atuava o australiano Harry Kewell, jogador cujo talento estava acima de quaisquer dúvidas, mas que sofreu muito com lesões. Dono de uma perna canhota indomável, driblava com muita qualidade e se movimentava muito, sempre formando parceria importante com o centroavante. Este, na maior parte das vezes foi o tcheco Milan Baros. Rápido, lutador e dotado de bom fato de gol, o atacante, que, curiosamente, usava a camisa 5, foi importante, mas nunca fundamental.
Como alternativa útil, Rafa Benítez contou o também tcheco, mas já experiente Vladimir Smicer, meia versátil que podia atuar por ambos os flancos e pela faixa central do meio-campo ofensivo. O jogador só não foi mais utilizado no período por ter sofrido lesão grave no joelho. Outro jogador muito utilizado foi o controverso atacante francês Djibril Cissé. Velocíssimo, provavelmente teria participado de mais partidas durante a temporada, não fosse o infortúnio de uma fratura na perna, em outubro de 2004.
Partidas importantes no período
Fase de grupos da Liga dos Campeões: Liverpool 2×0 Monaco
Estádio Anfield, Liverpool
Árbitro: Terje Hauge
Público 33.517
Gols: ‘22 Cissé e ‘84 Baros (Liverpool)
Liverpool: Dudek; Finnan, Carrager, Hyypiä, Josemi; Luis García (Biscan), Alonso, Gerrard, Riise; Kewell (Warnock), Cissé (Baros). Téc.: Rafa Benítez
Monaco: Roma; Maicon, Squillaci, Rodríguez, Givet (El-Fakiri), Evra (Camara); Diego Pérez (Juan), Farnerud, Zikos; Kallon e Adebayor. Téc.: Didier Deschamps
Quartas de finais da Liga dos Campeões: Liverpool 2×1 Juventus
Estádio Anfield, Liverpool
Árbitro: Frank De Bleeckere
Público 45.000
Gols: ‘10 Hyypiä e ‘25 Luis García (Liverpool); ‘63 Cannavaro (Juventus)
Liverpool: Carson; Finnan, Carragher, Hyypiä, Traoré; Luis García, Gerrard, Biscan, Riise; Le Tallec (Smicer) e Baros (Núñez). Téc.: Rafa Benítez
Juventus: Buffon; Thuram, Zebina (Montero), Cannavaro, Zambrotta; Camoranesi, Emerson, Blasi (Pessotto), Nedved; Del Piero (Trezeguet) e Ibrahimovic. Téc.: Fabio Capello
Semifinais da Liga dos Campeões: Liverpool 1×0 Chelsea
Estádio Anfield, Liverpool
Árbitro: Lubos Michel
Público 41.216
Gol: ‘4 Luis García (Liverpool)
Liverpool: Dudek; Finnan, Carragher, Hyypiä, Traoré; Biscan, Hamann (Kewell), Gerrard, Riise; Luis García (Núñez), Baros (Cissé). Téc.: Rafa Benítez
Chelsea: Cech; Geremi (Huth), Ricardo Carvalho, Terry, Gallas; Makelele, Lampard, Tiago (Kezman); Joe Cole (Robben), Drogba, Gudjohnsen. Téc.: José Mourinho
Final da Liga dos Campeões: Liverpool 3 (3) x 3 (2) Milan
Estádio Ataturk, Istambul
Árbitro: Manuel Mejuto González
Público 70.024
Gols: ‘1 Maldini, ‘39 e ‘44 Crespo (Milan); ‘54 Gerrard, ‘56 Smicer, ‘60 Alonso (Liverpool); Hamann, Cissé e Smicer marcaram seus pênaltis, Riise perdeu; Tomasson e Kaká marcaram seus pênaltis, Pirlo, Shevchenko e Serginho perderam.
Liverpool: Dudek; Finnan (Hamann), Carragher, Hyypiä, Traoré; Luis García, Alonso, Gerrard, Riise; Kewell (Smicer), Baros (Cissé). Téc.: Rafa Benítez
Milan: Dida; Cafu, Nesta, Stam, Maldini; Gattuso (Rui Costa), Pirlo, Seedorf (Serginho), Kaká; Shevchenko e Crespo (Tomasson). Téc.: Carlo Ancelotti
Grande Liverpool agora voltou novamente aos seus anos de gloria.
Mas e no mundial? Como foi? Kkkkkk
Como entusiasta do milan ate hoje eu custo a crer no que eu vi naquela final mas como diria nelson rodrigues no segundo tempo teve uma alteracao no liverpool saiu alguem e entrou o sobrenatural de almeida kkkkk.