Tim Sherwood e seus dilemas na meia-cancha do Tottenham
DESDE QUE ASSUMIU INTERINAMENTE o comando do Tottenham, com a demissão do treinador português André Villas-Boas, o inglês Tim Sherwood melhorou o desempenho da equipe. Sua principal decisão positiva foi a opção pelo togolês Emmanuel Adebayor, mal aproveitado pelo treinador anterior que insistiu de forma malsucedida no espanhol Roberto Soldado. Contudo, um setor tem sofrido muitas e grandes alterações que não necessariamente tem surtido o efeito esperado: o meio-campo.

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O meio-campo em constante mutação
Demonstrando uma clara ideia de que o equilíbrio de uma equipe passa por um meio-campo forte na marcação, Tim evidenciou sua intenção de jogar sempre com ao menos um volante de contenção. Assim, alguns nomes ganharam força no elenco, casos de Sandro e dos franceses Nabil Bentaleb e Étienne Capoué. Fortes fisicamente, altos e bons nos desarmes, os três nomes são vistos como a segurança do time.
Essa escolha feita pelo técnico, que foi um meia de relativo destaque no cenário inglês, capitaneando o Blackburn no título da Premier League da temporada 1994-95 e se destacando posteriormente no Tottenham, deixou de lado o brasileiro Paulinho, que, na ótica de Sherwood, não é um volante e sim um jogador box-to-box.

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Enxergando-o desta forma, o treinador dos Spurs tem relegado a qualidade do camisa 8 ao banco de reservas, entendendo que o belga Mousa Dembélé é mais eficiente na função. Paulinho tem estado tão escanteado pelo inglês que, tanto na partida de volta contra o Benfica pela Liga Europa quanto na heroica vitória contra o Southampton (3 a 2 de virada), quem fez a função de segundo volante, como primeiro construtor de jogo, foi o islandês Gylfi Sigurdsson.
Depois de tentar formações um tanto “malucas”, com três ou quatro volantes (na partida contra o Newcastle a equipe foi a campo com Capoué, Bentaleb, Paulinho e Dembélé), parece que Tim definiu sua escolha ideal para o time titular do Tottenham.
O ajuste ao 4-2-3-1
A tática que tem sido implantada nas últimas partidas já é muito difundida no mundo futebolístico, o 4-2-3-1, mas de forma um pouco diferente. Na versão de Sherwood, um volante restrito à contenção e outro com saída de bola compõem o “2”; já o “3” não necessariamente apresenta dois pontas e um armador.
Alternando Aaron Lennon e Andros Townsend, a equipe tem atuado com um jogador muito aberto pela direita (na goleada sofrida para o Chelsea, a função foi delegada ao lateral direito Kyle Walker). Já o lado esquerdo e a faixa central não estão bem definidos.

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As opções mais utilizadas são os meias Christian Eriksen e Nacer Chadli, que revezam funções. O dinamarquês — contratado a contragosto do então treinador Villas-Boas — cresceu de produção com a efetivação de Tim no comando do time e tem tido destaque. Já Chadli não convenceu ainda, mas tem o apreço do técnico. Ele também contará, para o final da temporada, com o retorno de lesão do argentino Erik Lamela, outro que ainda não vingou.
Tottenham mais pragmático, porém competitivo
Sigurdsson não tem sido titular, mas, em função de sua versatilidade e regularidade, entra em quase todas as partidas. A equipe, portanto, joga com dois volantes, um com mais mobilidade do que o outro, e com três meias, um mais agudo pelo flanco direito e outros dois com características mais centrais, mantendo um desenho tático mais resguardado e fortalecido.
Se Tim “enfeiou” o jogo do Tottenham, também o tornou mais competitivo. Com ideias antigas e conservadoras combinadas ao esquema tático da moda, o inglês tomou as rédeas da equipe e trouxe um pouco de tranquilidade a White Hart Lane. Em 15 partidas, conquistou nove vitórias, dois empates e quatro derrotas. Focado em dar sintonia fina ao meio-campo, privilegiou volantes de pegada, isolou Paulinho e se rendeu ao bom futebol de Christian Eriksen.