Terá Felipão ressuscitado a Seleção Brasileira?
DURANTE A DISPUTA DA COPA DAS CONFEDERAÇÕES, viu-se, após um período de longo adormecimento, a volta de um sentimento de sinergia entre a Seleção Brasileira e seu torcedor. Há tempos, tem-se creditado o incontestável afastamento do público ao distanciamento da própria Canarinho, que por razões contratuais se acostumou a atuar fora do país. Não se pode negar, porém, que o retorno do treinador Luiz Felipe Scolari ressuscitou o brio de boa parte dos atletas, o que pouco se viu durante a gestão de Mano Menezes.

Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo
Continuar o que vinha bem
Mano treinou a Canarinho entre julho de 2010 e novembro de 2012. Dificilmente um trabalho de dois anos seria tão ruim que não houvesse o que aproveitar e, efetivamente, houve um setor que trabalhou em bom nível: a defesa.
O gaúcho promoveu o ingresso de David Luiz na Seleção, afirmou Thiago Silva como liderança e definiu Daniel Alves e Marcelo como seus laterais titulares. Felipão, reconhecendo os méritos de seu antecessor e não tendo a prepotência de querer mudar tudo de imediato, manteve este setor intocado.
Impor-se
Há ao menos uma característica que marca toda a trajetória de Felipão: a imposição de sua própria liderança e métodos. Foi assim na sua primeira passagem pelo Brasil, quando não se dobrou ao apelo popular e deixou Romário fora da Copa de 2002. Semelhantemente ocorreu no comando da seleção portuguesa, quando barrou medalhões como Vítor Baía, Fernando Couto e Luís Figo (que retornaria, após se provar).
O treinador gosta de elencos coesos. Nesse sentido, jogadores que não se adaptam aos seus modos e que porventura imponham sua presença ao coletivo estão fora. Em compensação, aqueles que se enquadram, mesmo que não possuam a melhor qualidade técnica ganham o gosto do chefe.
Felipão adorou quando Lucas Leiva, mesmo contundido, juntou-se à delegação brasileira em Londres. Em compensação, ficou pouco impressionado com atitudes de Ramires, após se atrasar para a apresentação em amistoso contra a Inglaterra, e Ronaldinho Gaúcho, último a se apresentar no hotel antes do amistoso contra o Chile, em Belo Horizonte.

Foto: Ronnie Macdonald
“O atleta teve uma dificuldade, entendemos a dificuldade e ele terá a chance de fazer parte do grupo. Ninguém disse que ele vai ser cortado ou que seguirá no grupo no futuro. Ele terá que demonstrar isso dentro de suas condições técnicas. O ambiente que criamos aqui é sadio e queremos levar isso até a Copa”, falou Felipão sobre Ramires.
Parece haver benefício quando se convoca jogadores que “abraçam a causa”. Foi o caso de Leandro Damião, centroavante do Internacional, que não tem a qualidade técnica consagrada pelos melhores camisas 9 da história da Seleção, mas ganhou o gosto de Felipão pelo espírito coletivo.
Deixar algumas rusgas de lado
Outro ponto que, até então, apresenta-se positivo na gestão de Felipão são suas escolhas. O comandante deixou para trás a expulsão de Hernanes, que vive ótima fase, contra a França na gestão anterior e voltou a convocá-lo. Colocou em segundo plano a fama de “temperamental” de Marcelo e o manteve como escolha prioritária para a lateral esquerda; e confiou em Fred, que fora testado em várias ocasiões, mas apesar do clamor popular, nunca havia se firmado na seleção.
Scolari deu oportunidades a nomes jovens como Fernando e Bernard, desconsiderando a falta de experiência, e ainda optou por jogadores consagrados na Europa e que não eram lembrados no Brasil como Dante e Filipe Luis. Confrontacional em outros momentos da carreira, Felipão tem demonstrado maior tranquilidade e isso é algo que, recentemente, faltou no Brasil.

Foto: Jorge William/Agência O Globo
Bancar escolhas
Para o bem ou para o mal, Felipão definiu seu goleiro titular: Júlio César. Também decidiu que a Seleção teria um primeiro volante de marcação e usaria um centroavante fixo. Restou buscar o volante e o centroavante ideais.
Após alguns testes, Luiz Gustavo e Fred ganharam as vagas. Contudo, mais importante do que isso tem sido a manutenção de um esquema tático e de uma proposta de jogo.
Felipão não parecia o nome ideal para o Brasil, mas está saindo bem. Falta um ano para a Copa do Mundo e a pressão pelo hexa é grande. O medo de um fracasso no Mundial está se dissipando, ainda que permaneça como um fantasma nada camarada. A conquista da Copa das Confederações, superando a Espanha, alimentou esperanças. Será o Brasil o sétimo país-sede a soltar o grito de campeão?