Solanke é protagonista de uma história que se repete
Sub-20 que acaba de conquistar o Mundial da categoria, o atacante Dominic
Solanke representará as cores do Liverpool na próxima temporada. Cria do
Chelsea, o jogador optou por se mudar para um clube que tem utilizado jovens com maior frequência. A
expectativa de ser treinado por Jürgen Klopp, comandante que revelou, por
exemplo, Mario Götze, e fez amadurecer Mats Hummels e Robert Lewandowski,
certamente, teve grande peso na escolha, mas é o modo como os Blues têm trabalhado que mais pesa.
É difícil a compreensão do
fenômeno vivido pelo Chelsea. Sua categoria de base tem sido extremamente vitoriosa e, mesmo assim, o clube se recusa a, paulatinamente, utilizar seus prospectos.
do que se diz, nos últimos anos, os londrinos venceram a UEFA Youth League duas vezes (2015 e 2016) e a FA Youth Cup em cinco
oportunidades (2012, 2014, 2015, 2016 e 2017). Mesmo assim, apenas quatro
atletas formados na Chelsea Academy fizeram
parte do elenco de Antonio Conte na vitoriosa campanha de 2016/17 (e com pouquíssimas oportunidades): Nathan
Aké, Ola Aina, Ruben Loftus-Cheek e Nathaniel Chalobah.
qualidade do trabalho de base desenvolvido pelo clube. No entanto, a falta de
perspectivas profissionais para os jovens formados é um problema a ser
administrado. Bons valores, como o próprio Solanke, têm preferido se mudar,
arriscando-se em outras equipes, até mesmo na segunda divisão. Foi esse o caso,
por exemplo, do meia John Swift, da Seleção Inglesa Sub-21. Ao final de seu
contrato com o Chelsea, partiu para o Reading, time em que conquistou a
titularidade e fez ótimo ano.
“Eu poderia ter permanecido no Chelsea, mas não queria ser emprestado
novamente. Eu queria assinar por um clube e fazer o melhor para mim mesmo”,
disse Swift em meados de maio ao Mirror.
vários jogadores do clube londrino se destacando, tanto nas categorias de base
quando em empréstimos, mas as chances no time principal raramente aparecem.
Chelsea emplaca nomes como o citado Chalobah, Lewis Baker (que fez excelente
temporada em 2016/17 com a camisa do Vitesse) e o goleador Tammy Abraham, autor
de 23 gols no último ano, em que esteve emprestado ao Bristol City. Já o time campeão sub-20 contou com as presenças de Fikayo Tomori, Jake Clarke-Salter e Solanke.
É pouco?
Diante disso, não há como não
compreender a opção de Solanke por uma mudança para Anfield Road. É bom que se
diga que não é só o Chelsea que aposta pouco nos formados em suas categorias de
base, mas seu exemplo é o mais impressionante diante do excepcional desempenho
recente nas competições que tem disputado.
melhor jogador do Mundial Sub-20, tem ao menos a promessa de utilização
ocasional. Na última temporada, Jürgen Klopp lançou os jovens Bem Woodburn (de
17 anos) e Trent Alexander-Arnold (18). Deu também alguns minutos a jogadores
como Marko Grujic e Kevin Stewart. Não é muito, é verdade. Mas a fartura de
talento que encontrada nos Blues não
se faz presente nos Reds.
passar uma temporada emprestado. Foi em 2015/16. Na ocasião, representou as
cores do Vitesse e não fez mau papel. Em 25 partidas, marcou sete vezes. Isso,
com 17 para 18 anos. Mesmo assim, não conseguiu espaço no elenco londrino. Nem
mesmo em partidas das Copas Inglesas. O atacante deixa o clube com apenas uma
partida, ou 17 minutos, disputados como profissional do Chelsea. Na
oportunidade, goleada sobre o Maribor na UEFA Champions League de 2014/15, o
eterno John Terry chegou a profetizar:
“Isso cria um precedente para os jogadores jovens, que agora acreditam
que podem conseguir uma oportunidade se forem suficientemente bons e
trabalharem duro. […] Não é bom apenas para Dom [Solanke], o efeito que isso
terá sobre a base será excelente”, disse em entrevista coletiva.
ao ver uma cria do clube, como ele próprio foi, despontar, John Terry estava errado. As
chances para os jovens continuaram escassas em Stamford Bridge, por mais que a
qualidade, comprovada com troféus, convocações e bom desempenho, estivesse lá.
disso. Representando os escalões sub-18, 19 e 21 do Chelsea marcou 65 gols em
83 jogos, números extremamente significativos. Vale dizer, ainda, que o
atacante não é um goleador sem recursos técnicos. Pelo contrário. É
rápido, movimenta-se com inteligência, tem qualidade nas finalizações e sabe
driblar. Por isso, já foi utilizado em algumas oportunidades mais longe do gol,
pelas pontas ou como segundo atacante.
clube. A questão central foi sua recusa em renovar seu contrato. Diante dessa
realidade, fica o questionamento: Solanke estava errado por querer deixar um
clube que vai reafirmando, ano após ano, a fama de que produz muito e com
qualidade, mas aproveita pouco seus jovens? Atualmente, o atacante inglês é
apenas o protagonista de uma história que já teve vários outros.
2016/17, o Chelsea emprestou nada menos do que 38 atletas, conforme noticiou o Guardian. Ótimo na formação e desenvolvimento de jogadores,
mas ruim em seu aproveitamento e transição ao futebol profissional de alto nível, o clube
londrino vê mais um destaque deixar Stamford Bridge; vive a repetição de sua história
recente.