Slaven Bilic e a reinvenção do West Ham

Nos últimos anos, período em que
foi treinado por Sam Allardyce, o West Ham se confirmou o grande exemplo da
prática do “tradicional futebol inglês”. Tido como “rústico”, o estilo de jogo
dos Hammers passava basicamente pela
montagem de esquemas táticos com linhas muito rígidas e sólidas e voltadas para
lançamentos longos na direção de um atacante de referência – muitas vezes o já
folclórico Andy Carroll. Apesar disso, o clube passou por uma mudança radical
para a presente temporada e vem se mostrando um grande exemplo de como se
reinventar.


Correta prospecção de novas contratações
Assumido por Slaven Bilic,
ex-treinador do Beskitas e que fez um longo trabalho com a Seleção Croata, o
time foi às compras com um orçamento considerável, mas nada excessivo para os
padrões da Premier League. Consciente de que precisaria fazer muitas
modificações, os Hammers fizeram
alguns negócios em definitivo, mas também apostaram em empréstimos, em uma
tentativa de se protegerem contra eventuais falhanços.
Dessa forma, chegaram jogadores
para todos os setores. Para a defesa, Carl Jenkinson teve seu empréstimo renovado
e o seguro Angelo Ogbonna, destaque do Torino e que não conseguiu seu espaço na
Juventus, chegou para colocar ordem na casa (o curioso é que a chegada do
italiano vem ajudando seus concorrentes a crescerem, casos de James Tomkins e Winston
Reid).
Já o meio-campo ganhou reforços
para os setores de criação e contenção. Para ajudarem na destruição das jogadas
adversárias, Alex Song foi outra figura que conseguiu a renovação de seu
empréstimo e Pedro Obiang (foto) chegou da Sampdoria. O interessante aqui é perceber
que embora ambos sejam jogadores fortes e duros na marcação, também acrescentam
muito à saída de bola e ao trabalho de passes no meio-campo. Outro ponto curioso
é o fato de que Song, cotado como uma das estrelas da equipe, sequer atuou na
temporada ainda, o que robustece a ideia de que o clube reforçou muito bem seu
elenco.
Todavia, o ponto da virada dos Hammers é o trio de meio-campistas
ofensivos que chegou. Dimitri Payet, o melhor deles, veio do Olympique de
Marselha e é até agora um dos melhores jogadores de todo o campeonato. Com
muita movimentação e extrema habilidade, o francês não só acrescentou talento
individual como também vem auxiliando seus companheiros a exploraram seu
potencial e evoluírem. Isso se verifica com a boa forma de Manuel Lanzini,
ex-Fluminense, e Victor Moses, ex-Chelsea. Ambos são jogadores de reconhecido
talento e instabilidade, mas, nesta temporada, têm estado em grande forma.
O West Ham viu em Payet (foto) não só um
ótimo jogador nos quesitos técnicos, mas a grande referência que poderia ajudar
o time a evoluir como um todo. E isso tudo por pouco mais de £10,5 milhões. Até
o momento, o francês disputou 10 jogos na Premier League, marcou cinco vezes e
criou três assistências, sendo, ainda, o segundo jogador que mais oportunidades
de gol criou
, atrás apenas de Mesut Özil.

Além deles chegaram ainda o forte
centroavante Nikica Jelavic, que é reserva, e o hábil Michail Antonio, que pode
atuar em qualquer função do meio-campo ofensivo.
O West Ham cavou fundo para
encontrar bons jogadores e vai colhendo os frutos deste trabalho. Somados a
outras figuras de qualidade que já estavam no clube, como Mark Noble, Diafra
Sakho, Aaron Cresswell e o goleiro Adrián, os reforços vão mostrando que quando
bem escolhidos podem fazer a diferença a curto prazo.

Mudança radical na filosofia de jogo
Com a saída do Big Sam e a chegada de Bilic o time
também mudou radicalmente sua forma de jogar. O croata, como é peculiar ao
futebol do leste europeu, gosta de aplicar um estilo de jogo baseado em técnica
e força, com bom toque de bola e explorando muito a condição física de seus
atletas, com movimentações, marcação pressionada e aplicação coletiva de todos.
Assim, o time ataca e se defende em bloco. Muitas vezes, até deixa seu
adversário jogar, dando-lhe a bola com um intuito muito claro: pressioná-lo, provocar um erro
e partir velozmente em contragolpes.

Exemplo de rápido contragolpe do West Ham, em partida contra o Newcastle (Foto: Sky Sports)

Não existe mais a ideia de uma equipe
focada na defesa e que aproveita-se das raras brechas para tentar acionar um
centroavante grandalhão no ataque – até mesmo porque, hoje, esse
atacante recua para auxiliar o time em suas tarefas defensivas. Já na última
temporada de Allardyce era possível ver uma mudança, com o uso de uma variação
maior de jogadas, mas ainda muito incipiente, sem descartar os muitos
cruzamentos. Com Bilic, a mudança foi revolucionária.

“Algumas pessoas estão nos rotulando como um ‘time de contra-ataque’, especialmente após a vitória contra o Newcastle. Não era o nosso plano jogar assim, mas um gol cedo mudou as coisas um pouco. Nós não tivemos que pressioná-los em áreas que não são importantes. Nos treinamentos nós praticamos um futebol de muita posse de bola, não estamos treinando como um ‘time de contra-ataque‘”, revelou Bilic há um mês, deixando claro que embora sua ideia seja muito ligada à posse de bola, sua equipe também está confortável com um jogo veloz, com transições rápidas e contragolpes.

Hoje, o time ainda não é uma
potência que busca o gol a qualquer custo acuando assustadoramente seus
adversários, mas também não é aquele que joga com suas linhas defensivas
extremamente compactadas e recuadas. Há equilíbrio, embora ainda haja espaço
para melhora, uma vez que o setor defensivo vem sofrendo mais gols em relação
aos demais clubes que o cercam na tabela.

Números mostram que o West Ham lida bem oferecendo a bola aos adversários e buscando contra-ataques (Foto: Sky Sports)

A despeito disso, o que era
impossível de se dizer durante os últimos anos se tornou realidade: é agradável
ver o West Ham jogar. A prova maior da grande capacidade que o clube vem
mostrando são seus resultados contra grandes equipes. Até o momento, os Hammers venceram Chelsea, Liverpool,
Manchester City e Arsenal (três desses encontros fora de seus domínios).
A direção do West Ham não teve
medo de ousar e vem sendo devidamente elogiada por isso. A boa posição na
tabela é justa e confirma que no futebol há sempre espaço para mudanças, desde
que sejam bem conduzidas.

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