Selecionando estatísticas: Oscar x Coutinho
Um analista de futebol não pode
se ater a objetividade dos números. Essa deveria ser uma máxima clara e há um
duelo nesta temporada que evidencia a questão: Oscar x Philippe Coutinho. O
primeiro vem perdendo espaço no Chelsea, enquanto o segundo mostra-se cada dia
mais ambientado ao futebol inglês e decisivo. Não obstante, a objetiva realidade das estatísticas
poderia trair o analista, uma vez que favorece, claramente, o camisa 8 do clube
londrino.
assistências na temporada, Oscar supera os números de participações em gols de
Philippe Coutinho, que balançou as redes seis vezes e proveu cinco passes para
gols, em 45 jogos. Além disso, considerando apenas as partidas da Premier
League, o primeiro tem um percentual de acerto de passes superior ao do
segundo, 83% contra 80%. No entanto, é preciso aprofundar a análise.
de Oscar no relvado é facilitado pela presença de jogadores do calibre de Cesc
Fàbregas, Eden Hazard ou Willian. Por outro lado, a tarefa de Coutinho no Liverpool
é mais dura, uma vez que apenas Jordan Henderson tem se mostrado eficaz no
meio-campo dos Reds. Steven Gerrard
já não é o mesmo, Joe Allen, Lucas Leiva e Adam Lallana não têm mostrado nem de
longe a capacidade técnica dos meias dos Blues
e o veloz Raheem Sterling não tem no passe seu melhor atributo.
À esquerda participação de Coutinho, à direita de Oscar |
estatísticas que explicam um pouco esse fato. Analisando os dados da última partida
entre Reds e Blues, em novembro de 2014, nota-se que Philippe pratica um jogo
muito mais objetivo do que o do seu companheiro de Seleção Brasileira.
vascaína tocou pouco na bola, apenas quinze vezes. A despeito disso, somente em duas delas a bola foi retornada ao campo de sua defesa. Por sua vez, Oscar participou muito mais do jogo,
todavia com um grande número de ações em seu campo de defesa, muitos toques
para trás e com muitos erros de passe em bolas esticadas. Outro dado relevante
foram as tentativas de dribles nos adversários. Durante o jogo, Coutinho buscou
essa jogada em nove ocasiões, contra apenas uma de Oscar.
Em vermelho os dribles de Coutinho, em azul os de Oscar |
Isso revela que, embora seu
desempenho numérico siga sendo bom, Oscar tem se tornado um jogador comum, com
pouquíssima ousadia, não exercendo o que se espera de um camisa 10. Por outro
lado, Coutinho tem ganhado cada vez mais confiança para apostar em lances que desequilibram
as partidas e desmontam os setores defensivos dos adversários.
melhor jogador da Premier League no mês de fevereiro, oferecido pela PFA e recebido pelo camisa 10 dos Reds; a
escolha de Coutinho como o melhor jogador da temporada inglesa feita por John
Terry; e a perda de espaço de Oscar para Ramires, um marcador, no Chelsea.
Enquanto Coutinho chama atenção pelo arrojo, Oscar assusta pela passividade.
Além disso, Coutinho acabou de ser selecionado para o prêmio de melhor jogador da temporada inglesa, oferecido pela PFA. Junto dele, Eden Hazard, Diego Costa, David de Gea, Harry Kane e Alexis Sánchez estão na disputa. Nada de Oscar.
Oscar prova que a objetividade das estatísticas não é o melhor caminho para a
análise da forma de um jogador de futebol. Entretanto, se bem interpretadas,
trazem revelações de grande acuidade e ajudam a entender o que concerne às
quatro linhas. É necessário o discernimento na interpretação dos dados e é
justamente isso que faz do futebol o esporte mágico que é: sua subjetividade. Embora algumas estatísticas apontem o contrário, o camisa 10 do Liverpool vive um momento, anos luz, melhor do que o do camisa 8 do Chelsea.