Rafinha Alcântara no Celta: será sua redenção?
VIVENDO À SOMBRA de um passado que não é seu, Rafinha Alcântara, filho do tetracampeão mundial Mazinho, irmão do craque Thiago Alcântara, do Bayern de Munique , e primo do atacante Rodrigo, do Benfica, sofreu inúmeras pressões e comparações ao longo de sua curta trajetória. Qual nação defender: Brasil ou Espanha? Será que tem talento? Ou apenas conseguiu espaço no futebol em função de seus parentes? Hoje no Celta, emprestado pelo Barcelona — sem conseguir cavar seu espaço — o futebol de Rafinha, ou Rafa, deslanchou. E, curiosamente, em um lugar onde seu pai viveu grandes momentos na década de 1990.

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Nascido em São Paulo, Rafa foi para o futebol europeu com apenas 13 anos. No Barcelona, desenvolveu-se nas famosas canteras do clube, adquirindo, em partes, o estilo culé de jogo. Seu passe tem qualidade, mas, diferentemente de seu irmão — mais afeito aos passes —, gosta de estar com a bola, retendo-a. Não é um passador em essência, e sim um carregador de bola. Isso dificultou suas possibilidades no elenco principal do Barça.
Outra questão que sempre rondou a carreira do jogador foi a opção de nacionalidade que teria de escolher. Brasileiro de nascimento e detentor do passaporte espanhol, Rafinha demorou a se decidir. A princípio, sua opção foi a Roja, tendo a representado nas categorias sub-16, 17 e 19. Apesar disso, em 2013 optou pela camisa canarinha e disputou o Sul-Americano Sub-20 pela Seleção Brasileira, em campanha fracassada.
Antes de rumar para o Celta, o camisa 12 da equipe de Vigo disputou 84 partidas na segunda divisão hispânica pelo Barcelona B e muito se destacou. Marcou 19 gols e criou oito assistências. Foram três temporadas representando a “filial” blaugrana. Na hora do salto para os profissionais, foi preterido e emprestado.
Mal sabia o Barcelona o tamanho do bem que estava fazendo ao jovem na última janela de verão europeia. Longe das comparações e em um centro onde seria menos cobrado, Rafa tomou as rédeas de sua carreira para si e assumiu o protagonismo dele esperado. Canhoto — diferentemente de seu pai e irmão — tornou-se peça vital de um Celta de que pouco se esperava e que passou a chamar atenção pelo futebol do jovem.
Atuando pela faixa central do campo e caindo frequentemente pelo flanco direito, o jovem passou a mostrar um estilo de jogo driblador e insinuante de muita capacidade de condução de bola. Sua jogada mais forte é a corrida vertical da direita para o centro, possibilitando-o a chance de finalizar de média distância. Na temporada, esteve presente em 25 dos 27 jogos do time, marcou quatro gols e deu passes diretos para gols a seus companheiros em cinco ocasiões.

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A qualidade de suas performances o colocou em uma evidência tão grande, que seu talento foi coroado com o prêmio de melhor jogador do Campeonato Espanhol no mês de fevereiro, se superiorizando a super craques do quilate de Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e Gareth Bale.
Ao receber o prêmio, deixou transparecer em suas palavras o óbvio: “Me sinto bem, com mais confiança e em meu melhor preparo físico.” Longe das comparações e atuando regularmente em uma liga mais forte, era de se esperar que isso acontecesse.
Seu futuro já é especulado. O técnico do Barça, Tata Martino, manifestou o desejo de contar com os préstimos do brasileiro, assim como do atacante Gerard Deulofeu, atualmente no Everton, e o retorno do atleta é praticamente certo.
Se confirmado o regresso, o Barça, contudo, não contará mais com o jogador que emprestou ao Celta, mas com outro, muito mais capaz e seguro de si. Sua ida a Vigo tirou-o do banco das revelações para o das realidades. O futuro brilha à sua frente e um caminho renovado começou a ser traçado nesta temporada. Quem sabe daqui a algum tempo não nos lembremos da passagem de Rafinha pelo Celta, como sua libertação, redenção?