Quando o Brøndby forjou a base da Dinamarca de 1992

No dia 26 de junho de 1992, John Faxe Jensen e Kim Vilfort marcaram gols e eternizaram seus nomes na história. A Dinamarca superou a Alemanha, tornando-se campeã europeia. Mas, podia muito bem ser a consagração do Brøndby, clube em que ambos atuavam na altura. No início da década de 1990, a conquista escandinava evidenciou a qualidade do trabalho empreendido em Brøndbyvester, no subúrbio da capital Copenhagen. Foi o reconhecimento por um labor de mais de duas décadas.

Brondby Denmark Champion 1985
Foto: Reprodução/Brøndby/ Arte: O Futebólogo

A profissionalização do futebol dinamarquês

A Associação Dinamarquesa de Futebol — DBU — era quase octogenária quando o futebol de sua nação se profissionalizou. Traçando um paralelo, fazia quase cem anos que os ingleses podiam pagar salários aos atletas para exercerem, com exclusividade, o ofício de jogador de futebol. Era 1978, e o país se debatia com o inevitável. Um ano antes, acontecera a criação de uma liga dinamarquesa profissional, que, todavia, não conseguira se organizar e funcionar. Chegara a hora de o que estava quente fever.
Fazia também quase 14 anos desde que BØIF e seu arquirrival Brøndbyvester IF se fundiram. No dia 3 de dezembro de 1964, a intenção de entregar ao subúrbio de Brøndbyvester uma equipe mais competitiva se concretizou. Na altura, entretanto, era sabido que o time precisaria subir todos os degraus do futebol dinamarquês, partindo da última entre as amadoras divisões nacionais. Estoicamente, foi o que o Brøndby empreendeu.
O acesso à elite demoraria a ser alcançado. Em 1974, os homens de azul e amarelo chegariam à terceira divisão. Três anos depois, avançariam à segunda. Tudo isso sob a liderança do presidente Per Bjerregaard, que fora zagueiro da equipe, e um dos primeiros capitães, quando de sua fundação. O mandatário era bem relacionado com Kjeld Rasmussen (também ex-presidente do Brøndby), o prefeito local e alguém que enxergava com bons olhos a possibilidade de a comunidade se unir e crescer ao redor de um clube de futebol.
Brondby 1973
Foto: Ole Kristensen/OK-Photo/ Arte: O Futebólogo

Até então, a localidade era pouco habitada; nos anos 1940, a área ainda consistia essencialmente em fazendas. Mas, desde o final daquela década, um plano de desenvolvimento urbano vinha sendo praticado, o que era vital para a necessária expansão de Copenhague.
A ideia de promover melhorias no time era real, mas, durante muito tempo, uma tarefa difícil de se materializar — como indicado, ainda não havia futebol profissional na Dinamarca. Quando o cenário mudou, o Brøndby foi um dos times que melhor se aproveitou da novidade, implementada a partir da reunião anual da DBU, em fevereiro do mencionado ano de 1978.
Entre outras questões, passava a ser possível formar clubes de futebol nos moldes das sociedades anônimas, como revela o pesquisador da Universidade de Molde, Hallgeir Gammelsæter, em The organization of professional football in Scandinavia. O reflexo foi a possibilidade de terceiros, conquanto se adaptassem às regras da DBU, assumirem os clubes. A Brøndbyernes IF Fodbold A/S foi formada em 15 de maio de 1978, ditando os caminhos do Brøndby.
Em 1981, o acesso à primeira divisão seria alcançado. E o time vencedor contava com ao menos um sobrenome famosíssimo em seu elenco.

Acessos para o time dos Laudrup

O vínculo entre o Brøndby e a família Laudrup começou a ser forjado em 1973. Aos 28 anos, Finn fora contratado para exercer as funções de jogador-treinador dos azuis e amarelos. Ele vinha do Brønshøj BK, da primeira divisão, seduzido pela promessa de liderar uma equipe. Além do acesso à terceirona, o clube ganharia um importante presente: seu filho, Michael, juntou-se às categorias de base da equipe, que já ali eram o grande projeto do Brøndby.
Outra herança legada por Finn Laudrup foi a contratação de seu cunhado, Ebbe Skovdahl, desde o Vanløse. Em pouco tempo, se aposentaria, tornando-se treinador das equipes menores dos azuis e amarelos. Entretanto, Finn e sua cria deixariam Brøndbyvester em 1976. O KB, campeão nacional dois anos antes, os procurara oferecendo a um chances de título e ao outro a oportunidade de se profissionalizar em uma equipe da elite. Foi somente um hiato na relação dos Laudrup com o Brøndby.
Cinco anos mais tarde, naturalmente mais velho, em 1981, Finn voltaria. Perdera espaço no KB. Os Drengene fra Vestegnen sabiam disso e precisavam, outra vez, de atletas experientes para conduzir o time a uma subida. No ocaso de sua carreira, o patriarca Laudrup aceitou o desafio. O time era dirigido por Tom Køhlert, seu companheiro e comandado na década anterior, o que também facilitou o negócio. Somando atletas como John Frandsen, outro veterano e com passagem pela seleção dinamarquesa, finalmente o time alcançou seu objetivo. Ao vencer o AB por 6 a 2, ascendeu à elite.

Ebbe Skovdahl Michael Laudrup
Foto: Desconhecido/Arte: O Futebólogo
Aos 36 anos, Finn pendurou as chuteiras, mas, para a estreia do Brøndby no primeiro escalão, Michael foi trazido de volta. O ano de debute foi positivo, com uma comemorada quarta colocação. E não apenas por isso. As grandes exibições do jovem Michael Laudrup lhe renderam as primeiras convocações para um selecionado que começava a encantar, liderado por Allan Simonsen, do Barcelona. Aos 18 anos, o talentoso garoto do time de Brøndbyvester anotara 15 gols, em 24 jogos, tornando-se o primeiro atleta do Brøndby a ser convocado.
No futuro imediato, o time seguiria sob o comando de Køhlert, repetindo em 1983 e 84 o quarto lugar. Nas categorias de base, outro Laudrup, Brian, cinco anos mais novo que o irmão, era preparado para integrar o time principal dos azuis e amarelos. Ficava claro o modo de trabalhar do Brøndby. O time produzia e maturava bons jogadores, antes de vendê-los (Michael Laudrup seguiu para a Juventus, em 1983). Com o dinheiro, investia também na contratação dos melhores jovens do país.

Domínio local e destaque continental

Em 1985, quando venceu o primeiro título dinamarquês, tornando-se a equipe mais jovem a consegui-lo, o Brøndby já havia recrutado jogadores como Lars Olsen, Kim Christofte e Torben Frank. Da base, despontaram John Faxe Jensen e Claus Nielsen, e, logo após a conquista, Lars Elstrup, artilheiro do Campeonato Dinamarquês, seria trazido do Ikast FS. O clube não tardaria, também, a firmar contratos com Kim Vilfort, Bent Christensen, Kent Nielsen e o goleiro Peter Schmeichel. As coisas iam muito bem no clube, dentro e fora das quatro linhas.
Os azuis e amarelos não renovaram o título nacional, ficando com o vice em 1986. Apenas um acidente de percurso. No ano, tornaram-se o primeiro clube dinamarquês a ter um elenco completamente profissional, com todos os atletas vivendo de futebol. No ano seguinte, ao recuperar a coroa dinamarquesa, o Brøndby também se lançou na Bolsa de Valores de Copenhague, confirmando-se o segundo time do planeta a fazer tal movimento (o primeiro fora o Tottenham).

Brondby 1985
Foto: Scanpix/Aage Sørensen/Arte: O Futebólogo
Também fora de campo, o time de Brøndbyvester se mantinha ocupado. O Brøndby Stadium, inaugurado em 1966 sem arquibancadas, passara por reformas em 1978 e 82, e ganharia, em 89, nova renovação. Entre 1981 e 1988, o Brøndby vivenciou um crescimento impressionante no volume de seus negócios, saindo de 1,1 milhão de coroas para 25 milhões de coroas.
E o que dizer da estreia do Brøndby em competições europeias? Em 1986-87, os dinamarqueses protagonizaram campanha digna de aplausos na Copa dos Campeões. Depois de superar os tradicionais húngaros do Budapest Hónved e o Dynamo Berlin, da Alemanha Oriental, caíram diante do Porto, mas pela margem mínima: 2 a 1, no agregado. Os portugueses, eliminatórias mais tarde, consagrar-se-iam campeões, vencendo o Bayern de Munique na decisão.
Na altura, os azuis e amarelos já eram comandados por um velho conhecido: Ebbe Skovdahl voltara. Ele até sairia para o Benfica na temporada seguinte, retornando em 1988-89, quando o clube já vencera o tricampeonato nacional. Aliás, na Euro 1988, nenhum time emplacou mais selecionáveis dinamarqueses do que o Brøndby, representado por Lars Olsen, John Jensen, Schmeichel e Vilfort. Faltava pouco para o clube fazer sua melhor aparição em torneios europeus.
Em 1990-91, na disputa da Copa da Uefa, uma verdadeira seleção dinamarquesa, agora treinada por Morten Olsen, eliminou Eintracht Frankfurt, Feréncvaros, Bayer Leverkusen, Torpedo Moscou e ficou muito próxima de avançar às finais. Nas semis, em casa, o Brøndby contivera o ímpeto da Roma, que tinha em seus quadros Aldair, Giuseppe Gianinni e Rudi Völler. Na capital italiana, o empate por 1 a 1, suficiente para os escandinavos, perdurou até o minuto 87, quando Völler superou Schmeichel, assinalando o 2 a 1 e cravando uma faca nas pretensões azuis e amarelas.
Se o início dos anos 1980 mostrara um Brøndby que aspirava chegar à elite da Dinamarca, o princípio do decênio seguinte sugeria que o clube poderia destronar as maiores potências do continente.

Representatividade na Euro 1992

A história do título europeu conquistado pela Dinamarca em 1992 é conhecida. O time não era mais a Dinamáquina, que encantou no Mundial de 1986. Chamava muito mais a atenção pela organização e bravura. A maior prova vem da classificação à disputa, confirmada apenas pela eliminação da Iugoslávia, envolvida em guerras. E é difícil imaginar que os escandinavos teriam hipóteses de título sem a contribuição do Brøndby. O treinador Richard Møller Nielsen chamou quatro atletas do clube azul e amarelo: Christofte, John Jensen, Mogens Krogh e Vilfort.
Considerando atletas com passagem pela equipe, a conta se alarga: Schmeichel (no Manchester United), Kent Nielsen (atleta do AGF, mas que havia sido negociado com o Aston Villa), o capitão Lars Olsen (vendido ao Trabzonspor), Elstrup (que fora enviado ao Feyenoord e na altura jogava no Odense), Brian Laudrup (então no Bayern de Munique, depois de passar pelo Bayer Uerdingen), Torben Frank (do Lyngby) e Bent Christensen (já no Schalke 04). Entre os 20 escolhidos, 11 detinham passagem recente pelo Brøndby no currículo — tendo em vista ainda que Michael Laudrup foi preterido.
Mas, apesar do sucesso, crescimento e representatividade, os de Brøndbyvester não tardaram a se colocar em uma sinuca. A manutenção de suas rendas dependia da venda de alguns destaques. Além disso, o FC København acabara de ser fundado, a partir da fusão entre KB e B 1903; enriquecido, ameaçava roubar o trono do Brøndby. Então, uma decisão muito errada foi tomada. O clube adquiriu o banco Interbank, tentando diversificar suas fontes de renda.

Skovdahl Brondby
Foto: Scanpix/Arte: O Futebólogo
A verba para a aquisição viria da premiação da Copa dos Campeões — que acabou sendo baixa, com o clube sendo rapidamente eliminado pelo Dynamo de Kiev — e da holding Hafnia, que faliu. Como que da noite para o dia, o bem-sucedido Brøndby estava à beira da falência. Então, negociou John Jensen e Christofte. Trouxe Skovdahl de volta. Com ele na casamata, o time voltaria aos eixos. Contando com atletas como Ebbe Sand, começou um longo trabalho de reconstrução, que rendeu frutos.
Entre 1995 e 98, o time foi tricampeão nacional e conquistou duas Copas da Dinamarca. Trouxe Jensen e Lars Olsen de volta e recuperou seu momentum. Com a saída de Skovdahl para o Aberdeen em 1999, o Brøndby concluiu uma trajetória de mais de 30 anos, que forjou a tradição de um dos mais fortes times da história do futebol dinamarquês. Os sucessos do clube rarearam, mas é crucial entender que a Dinamarca tem apenas uma grande conquista em sua história. E que ela foi diretamente influenciada pelo bom trabalho executado pelos homens de azul e amarelo.

Sem Resultados

  1. Unknown disse:

    Parabens por valorizar o desvalorizado brondly maior fornecedor de talentos da dinamarca campea da euro 92.lembro de ter assistido brondly x barcelona do luis figo pela champions de 99 na tv cultura o gramado na dinamarca totalmente danificado pelo frio incrivel de la se lembro bem deu barcelona 3 a 1.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *