Porto continua sua “espanholização”, mas até quando?

No início da temporada 2014-2015,
o Porto fez uma aposta interessantíssima para o comando de sua equipe. Após
temporadas com Vítor Pereira (que chegou a ser bicampeão português) e Paulo
Fonseca, criticados em boa parte de suas gestões, o clube do litoral noroeste
lusitano apostou no, para muitos, desconhecido Julen Lopetegui, que, apesar da
pouca experiência profissional, tem reconhecido trabalho com garotos. Não
obstante, o time decepcionou na última temporada, e o comandante foi criticado.

A contestável “espanholização” portista

Campeão Europeu Sub-19 em 2012 e
Sub-21 em 2013
, com a Seleção Espanhola, Lopetegui trabalhou com uma enorme gama de talentos de sua
pátria mãe, participando diretamente do desenvolvimento de alguns deles. Além
disso, atento aos garotos, o comandante acompanhou detidamente os campeonatos e os jogadores de seu país, vislumbrando talentos e possibilidades de bons negócios. Assim,
desembarcaram no Estádio do Dragão sete compatriotas seus: Adrián López (foto), Iván
Marcano, Cristian Tello, Andrés Fernández, Óliver Torres, José Ángel e José
Campaña
.
Destes, o único que de fato
onerou os cofres azuis e brancos foi Adrián, possivelmente o jogador de quem
mais se esperava, em função de seu bom desempenho no Atlético de Madrid, onde
era uma espécie de 12º jogador. Além disso, da Espanha também vieram o argelino
Yacine Brahimi e o brasileiro Casemiro.
O fato é que a maior parte desses
jogadores não desempenhou papel importante na temporada portista
. Adrián não
foi sombra do jogador do Atleti,
marcando um mísero gol em 18 jogos e sofrendo muitas lesões; Marcano foi um
defensor sólido, mas sem grandes diferenciais e grande parte do tempo reserva;
Tello foi bem. Ainda que não seja um craque, mostrou velocidade, marcou gols e
assistiu seus companheiros; Fernández foi eterno goleiro reserva, atuando em
apenas quatro jogos; José Ángel pouco atuou e foi preterido por zagueiros na
ausência do lateral-esquerdo titular, Alex Sandro; Óliver Torres é outro que,
como Tello, foi bem; Campaña representou mais o time B do Porto do que o
principal.
O resultado: Férnandez foi
emprestado ao Granada, onde jogará a temporada 2015-2016, Óliver retorna ao Atlético e Campaña à Sampdoria, José Ángel
tem futuro absolutamente incerto e Tello (emprestado por mais uma temporada), Adrián e Marcano devem permanecer. Dos sete,
três já saíram e quatro ficaram, estando três deles sem futuro garantido
e não tendo correspondido às expectativas na
temporada passada.
O curioso é que Brahimi e Casemiro
(que retornou ao Real Madrid; foto), que também vieram da Espanha, foram,
indubitavelmente, as melhores contratações do time na temporada, sendo, junto
com Jackson Martínez e Danilo os melhores jogadores da temporada passada.
Conclui-se que parte representativa dos
integrantes do projeto piloto não está mais no clube e não correspondeu às
expectativas
. O clube, corretamente – uma vez que o treinador teve que promover
uma reconstrução radical do elenco –, segue apostando em Lopetegui, mas os
resultados terão que aparecer para justificar a liberdade que o comandante vem
tendo na condução de seu projeto.
A falta de resultados

Pode parecer imediatista (e é)
dizer que Julen Lopetegui não conseguiu resultados com o Porto. A questão que
se impõe é a de que em um país bipolar (dado o arrefecimento recente do
Sporting, que só conquistou um Campeonato Português no século XXI) passar uma
temporada sem qualquer título é algo preocupante
– sobretudo quando se chega ao
clube após um ano sem sucesso. Ou seja, tratando-se de duas campanhas sem
glórias, com o Benfica, grande rival, dominando o país, a pressão é grande e um
trabalho com ideias tão particulares e distintas do padrão histórico do clube
passa a ser vista com reservas.
Sem resultados – leia-se títulos –
Lopetegui não conseguirá sustentar sua posição no Porto, por mais paciência e
crença em seu trabalho que Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do clube,
possa ter em seu trabalho.

Para mais, resultados como a
acachapante goleada sofrida contra o Bayern de Munique na UEFA Champions League,
a eliminação da Taça de Portugal perante o rival Sporting e a falta de vitórias
nos clássicos contra os Encarnados são
outros elementos que aumentam a pressão da panela em que o treinador está nesse
instante.
Polêmicas dentro e fora das quatro linhas

Durante o último ano, além de
promover uma remodelagem drástica na equipe, que perdera algumas de suas peças
mais importantes – o volante Fernando e os zagueiros Eliaquim Mangala e Nicolás
Otamendi são bons exemplos –
implementando sua ideia, Lopetegui teve que lidar
com polêmicas no campo e nos bastidores.

Dentro das quatro linhas,
internamente, o espanhol teve grandes problemas com o ídolo dos Dragões Ricardo Quaresma, experiente e habilidosíssimo
winger da equipe. A principal razão seria
a falta de comprometimento tático do jogador. A despeito disso, as rusgas entre
treinador e atleta perduraram durante toda a temporada
. Preterido no início da
trajetória de Lopetegui, o português voltou a ser aproveitado (e bem) durante a
temporada, mas uma sequência de substituições no final da temporada irritou o
atleta que chegou a deixar de cumprimentar seu treinador em uma ocasião.

“O Ricardo Quaresma é um dos jogadores de quem sinto mais orgulho
esta época pela evolução que teve (…) É um jogador mais completo e melhor, e
isso é mérito dele”,
Lopetegui chegou a dizer, diminuindo o clima de
animosidade com Quaresma.

Além disso, fora das quatro
linhas, nos bastidores, Lopetegui teve contratempos com Jorge Jesus e Marco Silva, então comandantes benfiquista e sportinguista, respectivamente, e sempre
se mostrou muito queixoso em relação às arbitragens, algo que aumentou,
substancialmente, as críticas que sofreu durante a temporada.
No decorrer do último ano, restou claro
que o trabalho do espanhol esteve longe de uma sonhada e bem-vinda calmaria.
Boas contratações e mais espanhóis para 2015-2016, mas até quando?

Mantido no comando do Porto,
Lopetegui vem “reinventando a reinvenção” para a temporada 2015-2016. Saiu
Casemiro, chegou o jovem e promissor francês Giannelli Imbula (até agora o
grande negócio do clube; foto), além dele desembarcaram no Dragão alguns talentos
portugueses, casos de Sérgio Oliveira, recontratado após um período no Paços
Ferreira, André André, que fez ótima temporada no Vitória de Guimarães, também
tendo passagens pelas divisões inferiores do próprio Porto, e Danilo Pereira,
talento que ganhou inclusive oportunidades na Seleção Portuguesa, recentemente. Além deles também foi contratado o experiente Maxi Pereira, que cruzou a linha da rivalidade azul e vermelha.

Para mais, Lopetegui aposta
novamente em seus compatriotas. O primeiro contratado foi o atacante Alberto
Bueno
, cria do Real Madrid que na última temporada marcou 17 gols em 36 jogos
no Campeonato Espanhol, pelo Rayo Vallecano, chegando a anotar um poker contra o Levante. O jogador
mostrou bom futebol, mas, aos 27 anos, é uma aposta. O segundo, e mais
importante, contratado é o ídolo da nação hispânica, Iker Casillas (foto).
Aos 34 anos e com uma história
belíssima, o goleiro certamente chega para assumir a titularidade, até porque
Fabiano, a primeira opção na temporada passada, foi emprestado ao Fenerbahçe.

Apesar de ter um passado fantástico, os últimos anos de Casillas foram muito
irregulares e cercados de pressão, que certamente diminuirá em relação à vivida
no Real Madrid. Com motivação renovada, o goleiro pode voltar a ser o
diferencial de uma equipe e, certamente, Lopetegui confia nisso.
O ponto crucial da análise é o
fato de o Porto estar se empenhando muito para dar continuidade ao projeto de
Lopetegui
, que precisará, necessariamente, conquistar títulos em 2015-2016. Há
pressão por resultados, há críticas e não há tranquilidade para o trabalho, Em um clube com as pretensões do Porto, a hora de esperar acabou e os êxitos
precisam vir.
Por isso, a aludida “espanholização”
por que passa o Porto é um negócio com condição, que, se descumprida, será
desfeito. Se não conseguir resultados, o inexperiente treinador dificilmente
conseguirá permanecer na bonita cidade lusa. Para todos os efeitos, ficamos
por aqui com uma frase de Julen Lopetegui, proferida em abril deste ano, em
entrevista ao periódico espanhol Marca:

Todos os processos têm o seu tempo de maturação. Quando acreditas
no que fazes, sabes que há outras opiniões, mas tratas de seguir o teu caminho
e fixas-te nas tuas convicções. Claro que as críticas estão inerentes a esta
profissão, ainda para mais num grande clube como o FC Porto. Há que lidar com
elas com naturalidade, e nalguns casos até são uma fonte de energia. Há algumas
em que nem reparas e outras que te fazem refletir e ajustar coisas, ainda que
essas sejam em menor número”.

Sem Resultados

  1. Unknown disse:

    Ótimo texto, mas não há como não discordar do comentário sobre o Marcano. O Porto foi a defesa menos vazada da Europa época passada, e o Marcano que até começou na reserva, acabou a temporada como o melhor zagueiro portista de longe. Sendo extremamente seguro e competente na saída de bola.

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