Os méritos de Edgardo Bauza no São Paulo

No final de 2015, o São Paulo anunciou a contratação do
argentino Edgardo Bauza, campeão da Copa Libertadores da América com LDU, em
2008, e San Lorenzo, em 2014, como seu novo treinador, após passar um ano conturbado. De Muricy Ramalho a Milton Cruz, passando por Juan Carlos Osório e
Doriva, o Tricolor Paulista não conseguiu mostrar identidade e viveu dias
difíceis. A despeito disso, Bauza vem conseguindo contornar essa situação e, embora receba críticas relacionadas ao estilo de jogo adotado, transformou o São
Paulo.
Edgardo Bauza São Paulo

Conhecido por sua capacidade de organizar equipes com o
material de que dispõe e de torná-las extremamente competitivas, o Patón, como é conhecido, encontrou um
time com bons valores, não obstante suas más fases e pouca produtividade.
Atletas outrora cobiçados no mercado como Wesley, Michel Bastos e Ricardo
Centurión não viviam seu melhor e não contavam com o apoio de um torcedor exigente que
se acostumara a conquistar títulos nos últimos tempos.
Além disso, Bauza teve de lidar com a pressão de treinar a
equipe no primeiro ano após o fim da “Era Rogério Ceni”, tendo o clube perdido
sua maior referência e indiscutivelmente o melhor goleiro de seu elenco – por mais
que o veterano já estivesse longe da forma que o consagrou. Instabilidade
política foi outro tópico com o qual o argentino teve que trabalhar, algo que vem
se arrastando há um bom tempo.
A despeito de tudo isso, Patón
conseguiu dar cara e corpo ao São Paulo, o que vem se refletindo nos resultados
da equipe. Não obstante, seu caminho não foi e não tem sido fácil. O fracasso no Campeonato Paulista teve seu peso na ainda curta trajetória
do treinador à frente do Tricolor, sobretudo pela forma como se deu –
acachapante derrota por 4×1 nas quartas de finais contra o modesto Audax, até
então zebra de quem não se esperava nada.
Maicon São PauloFelizmente para o clube, o planejamento da equipe falou mais
alto e o treinador não perdeu seu emprego. Quando Bauza disse: “Não gosto de
jogar bonito. Eu quero uma equipe efetiva”, não estava mentindo e logo os
resultados vieram. É bem verdade que a chegada do zagueiro Maicon, que vem
sendo o capitão do time, foi oportuna, pois trouxe à equipe confiança e liderança,
fatores-chave para o equilíbrio de toda a estrutura do time.
Formatado normalmente no 4-2-3-1, que em alguns turnos se
torna 4-4-2, o time conseguiu se tornar coletivamente consciente e cresceu – o melhor
exemplo disso foi a partida de volta contra o Atlético Mineiro, válida pelas
quartas de finais da Copa Libertadores da América. Na contenção, os habituais
titulares têm sido Thiago Mendes e Hudson e o primeiro vive excelente momento.
Com físico invejável, é engrenagem fundamental ao time, pois cobre com grande
qualidade os avanços dos laterais e dá forte e constante combate na meia-cancha. Pelos lados, Centurión
e Kelvin têm conseguido ser efetivos tanto no ataque quanto na defesa,
jogadores que atrapalham muito a saída de bola de seus rivais, uma vez
que bloqueiam a saída dos laterais oponentes.
Com isso, Ganso, que voltou a ser lembrado na Seleção Brasileira, tem tido liberdade para criar e muitas vezes
tem sido visto quase como atacante, ao lado do argentino Jonathan Calleri, cujo desempenho e qualidade fazem a diferença na função de centroavante. Além disso, Bauza conseguiu fazer a
maior parte do time entender a forma como enxerga o jogo, logo, na falta de um
titular, os reservas têm feito bom papel.
Wesley São Paulo 2016

Com versatilidade, Wesley vem deixando de ser aquele atleta
talentoso, mas desligado em muitos turnos, e apoiado o time tanto pelo lado
direito quanto pelo centro do campo; outrora criticado, Michel Bastos tem feito
diferença sempre que entra em campo, aumentando a força ofensiva do setor
esquerdo do ataque. No meio, com calma e classe, o garoto João Schmidt evoluiu
e vem se mostrando cada dia mais maduro e preparado para o alto nível (há quem
entenda que o garoto já deveria ser titular). Além disso, o recém-contratado
Ytalo, opção para o meio e o ataque, também tem conseguido mostrar qualidade e vai se firmando como importante
opção para o comandante argentino.

O único jogador de quem se espera bom desempenho e que não tem atuado bem é o atacante Alan Kardec, que perdeu espaço com a
chegada de Calleri, mas vem sendo apoiado por seu treinador.

As estatísticas também refletem o que é o São Paulo de
Bauza. No Brasileirão, mesmo focado na disputa da Libertadores, o Tricolor
Paulista é o sexto que mais bolas rouba e como pressiona os adversários ao
erro, não precisa cometer tantas faltas sendo o 14º que mais vezes as faz – por
outro lado, é o sexto que mais as sofre*. Assim, o time vai se destacando e já figura na sexta posição, a três
pontos dos líderes Palmeiras e Internacional.
A prova de fogo para o Patón
deve vir a seguir. Com contratos de empréstimo, Maicon e Kelvin, ambos
jogadores do Porto, podem deixar o Morumbi, o que poderia trazer danos
importantes à estrutura do time. Além deles, é esperada a saída de Calleri,
que vem sendo há tempos observado de perto por clubes europeus. Apesar disso,
ao menos para a vaga do meia-atacante, o Tricolor já tem uma nova opção: o
peruano Christian Cueva, recém-contratado junto ao Toluca e que se junta à
equipe após a disputa da Copa América. Em contraponto, a proposta de jogo
coletiva pode diminuir os danos das possíveis perdas individuais.
As críticas ao trabalho do comandante seguem existindo, pois o estilo de jogo
do time muitas vezes não enche os olhos do torcedor. A marcação pressionada, os
contragolpes rápidos mostram que o time muitas vezes tem dificuldade para
propor o jogo e controlá-lo, mas é isso que Bauza pretende? Não. O argentino não
quer ser brilhante, e sim vencedor; dentro dessa proposta, o São Paulo vai se
colocando na linha de frente do Campeonato Brasileiro e com chances reais de
título da Copa Libertadores da América.



*Dados retirados do site Footstats.net

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