Os descaminhos da carreira de Alípio Brandão
QUANDO UM JOVEM BRASILEIRO TALENTOSO decide tentar a sorte no futebol, logo procura informações sobre as peneiras dos grandes clubes do país. Este, normalmente, é o primeiro passo na trajetória dos postulantes a craque. Os seguintes são, na maioria dos casos, a conquista da vaga na base de um grande clube, a subida à equipe profissional, a escalação garantida no time titular e a ida para um grande clube europeu. Assim se desenhou, por exemplo, a trajetória de Neymar e Lucas.

Foto: Omonia
Alguns jogadores, no entanto, não dão muita sorte no Brasil e preferem deixar o país, tornando-se conhecidos por aqui já maduros. Estes são o casos de, por exemplo, Dante, Luiz Gustavo e Hulk.
Existe, ainda, uma terceira possibilidade de caminho na carreira futebolística, mas esta é bem rara. Alguns atletas, contados nos dedos, conseguem seguir para a Europa ainda como juniores. Outros, em ainda menor número, conseguem ir para a base de um grande clube europeu. Foi o caso do atacante Alípio Duarte Brandão.
Órfão de mãe e com pai desconhecido, deu seus primeiros passos no esporte na escolinha de futebol de seu tutor, a Dois Toques, em Brasília. Depois de passar pela escolinha do Internacional, também na capital federal, mudou-se para Portugal e, aos 15 anos, começou a treinar no Rio Ave, equipe de Vila do Conde.
Em 2008 – seu segundo ano na Europa –, empresariado pelo famigerado Jorge Mendes, seguiu para um destino que nem em seus maiores devaneios ele imaginaria chegar tão rapidamente: o Real Madrid.

Foto: Reprodução
Por lá foi, prontamente acolhido pelos brasileiros Pepe e Marcelo, mas conheceu as dores de uma tendinite no joelho e da cobrança por resultados imediatos. Madrid foi sua casa até 2010, quando retornou a Portugal, desta vez para o todo poderoso Benfica. Lá, compôs apenas a equipe sub-19 e foi emprestado duas vezes, uma ao América de Natal e a outra ao Al Sharjah, dos Emirados Árabes.
Embora tenha conquistado oportunidades, Alípio não conseguiu jogar nem no clube de Natal nem no árabe, e seu vínculo com o Benfica findou-se. O insucesso nas passagens por Real Madrid e Benfica pode ser creditado às lesões e à distância da família, particularmente de sua tia, que, como disse em entrevista ao Superesportes em 2011:
“Sempre ficou com um pé atrás como a minha vontade de ser jogador e só acreditou que tinha dado certo quando fui para o Real Madrid.”
Hoje, Alípio atua no modesto Omonia Nicósia, do Chipre. Sua estreia foi no dia 23 de outubro de 2013. Até o momento, disputou sete jogos, marcou um gol e proveu duas assistências aos seus companheiros. Se não é uma grande marca, ao menos está conseguindo atuar.

Foto: Reprodução
Apesar dos descaminhos que sua carreira tem passado, Alípio, o garoto que chegou ao Real Madrid e hoje atua no Chipre, sonha com a Seleção Brasileira e com passagem por um grande clube do país, onde poderia receber o carinho de sua família
“Quero chegar à Seleção Brasileira. Sempre achei que era algo muito distante, mas hoje vejo que depende só de mim.”
Para alguém que nunca conheceu o pai, perdeu a mãe para um câncer, mudou-se para a Europa aos 14 anos e passou por Real Madrid e Benfica, nenhum destino parece impossível. Aos 21 anos, ainda há tempo para um reinício. O que teria sido do atacante Hulk se tivesse desistido? É claro que é só um exemplo, mas, persistindo, Alípio ainda pode se encontrar, a história do esporte mostra isso.