Oleg Salenko, o artilheiro perdido

QUANTOS JOGADORES, na história do futebol, conseguiram marcar cinco gols em uma partida só? Poucos. Quando o assunto é a Copa do Mundo, cinco bolas nas redes em um mesmo jogo é façanha de um só homem: Oleg Salenko, um jogador que após seu máximo êxito foi caindo no esquecimento.

Salenko Milla WC94

Foto: Getty Images

Recorde absoluto em contexto difícil

A Copa do Mundo de 1994 foi a primeira que a Rússia disputou após o fim da União Soviética, após a dissolução da supernação; a inaugural competição oficial disputada pelo país. Comandada por Pavel Sadyrin, a esquadra precisava mostrar força em um tempo de reafirmação nacional. Em um grupo difícil, não conseguiu. Ainda assim, deixou marca eterna, pois seu ataque tinha Salenko.

Os russos enfrentaram Camarões, surpresa no Mundial de 1990, e os tradicionais Brasil e Suécia, que logo se consagrariam campeão e terceira colocada do certame. Perderam para sul-americanos (2 a 0) e escandinavos (3 a 1), mas bateram os africanos (6 a 1). Acabaram com a terceira posição do grupo e também levaram a artilharia da competição.

Como? Salenko se confirmou o primeiro e único atleta, em todos os tempos, a receber a Chuteira de Ouro representando uma nação que sequer avançou de fase.

 

Um tento de consolação contra os escandinavos, somado aos impressionantes e incomparáveis cinco contra o time de Roger Milla, transformou Salenko em um personagem único.

De sua glória máxima viria sucesso maior ainda, afinal tinha apenas 24 anos na ocasião. Correto? Não foi bem assim. Os sucessos da juventude, com as camisas de Zenit e Dynamo de Kiev, além dos espanhóis do Logroñés, não se tornaram uma constante.

O artilheiro havia sido decisivo em 1993-94 para evitar o descenso de seu clube no Campeonato Espanhol. Marcou 16 dos 47 tentos do Logroñés — inclusive em empate contra o Barcelona de Johan Cruyff, em pleno Camp Nou. Tais feitos, somados ao brilho mundialista levaram o Valencia, sétimo colocado de La Liga, a buscar os gols de Salenko.

O atacante possuía no currículo, um Campeonato Soviético, uma Copa da URSS e a artilharia do Mundial Sub-20 de 1989, mas não há dúvidas: foram os feitos mais recentes que levaram os Che à buscar os gols de Oleg.

Oportunidades, insucessos e lesões

O que aconteceu entre o início da temporada europeia de 1993 e o fim da Copa do Mundo de 1994 se transformou em 15 minutos de fama para o russo. A ida ao Valencia não foi proveitosa. No Mestalla, as coisas não iam bem. As esperanças com a chegada do treinador Carlos Alberto Parreira se tornaram rápida decepção. Com o brasileiro na casamata, os Che não passaram de um 10º lugar em 1994-95.

Ainda que tenha acompanhado o iugoslavo Predrag Mijatovic no ataque, com a dupla a marcar 19 tentos (12 de Mijatovic e sete de Salenko), as expectativas não se cumpriram. Oleg não conseguiu sequer ser o vice-artilheiro da esquadra valenciana, posto que coube ao búlgaro Lyuboslav Penev, com nove gols. O fracasso no Valencia levou o russo à Escócia no ano seguinte, onde representou o Rangers.

Salenko Rangers

Foto: Jeff Holmes

Embora chegasse ao time escocês dominante — o Rangers era heptacampeão nacional —, a passagem por Glasgow durou meia temporada, apenas. Salenko vinha sofrendo com lesões e logo foi trocado pelo holandês Peter van Vossen. Não se adaptou ao futebol escocês e sua personalidade pode ter tornado a situação mais difícil.

“Só assinei porque acreditava que eles [o Rangers] tinham chances de vencer a Champions League. Mas isso [a Liga Escocesa] era muito chata. Os padrões eram muito baixos, especialmente quando comparados aos da Espanha. O que tornou isso ainda pior foi o fato de que você tinha que enfrentar os mesmos times quatro vezes. Os únicos jogos que eram interessantes eram as partidas contra o Celtic – essas eram uma batalha de vida ou morte”, relatou ao The Herald, em 2014.

Próxima parada: Turquia, para defender o Istanbulspor. Os problemas físicos perseguiram Salenko.

A primeira temporada em solo turco foi marcada por luta contra o rebaixamento. Na segunda, seu time se classificou à disputa da Copa Intertoto e, na terceira, à Copa da UEFA. Porém, Oleg teve pouco a ver com isso, quase não jogou e em 1999 voltou à Espanha, para defender Córdoba, na segunda divisão. Fez três jogos.

Em 2000, por fim, marchou para o Pogoń, da Polônia. Não tinha condições de atuar profissionalmente e no ano seguinte pendurou as chuteiras. Tinha 31 anos.

E a Seleção?

O jogador que estreou com a camisa da União Soviética no sub-20, chegou a envergar a camisa da Ucrânia em uma ocasião, e brilhou vestindo o manto russo em 1994, não teve continuidade no futebol internacional.

Salenko Rússia 1994

Foto: Reprodução

Após a Copa do Mundo de 1994, o treinador Sadyrin foi trocado por Oleg Romantsev. Nas palavras que Salenko conferiu à revista inglesa Four Four Two, ele “não gostou que eu tinha uma reputação maior do que ele. Ele privilegiava os jogadores que conhecia, começou a me deixar de lado. Quando Boris Ignatyev assumiu, em 1996, eu estava tendo problemas de lesões”.

Depois de fazer história nos EUA, Salenko nunca mais foi chamado. Em seu momento mais áureo, perdeu espaço por diferenças pessoais; quando essas já não eram problema, o atacante já não era mais o mesmo. Ele não chegou a ser um andarilho ou um fracasso completo, mas não atendeu às expectativas, ainda que parte disso se deva a fatores alheios às suas capacidades e desempenho individual.

Ainda assim, dificilmente será esquecido. A proeza de 1994 é das primeiras lembranças que o amante do futebol reconhece ao pensar na seleção russa. Seus 15 minutos de fama não param de ecoar.

Wladimir Dias

Idealizador d'O Futebólogo. Advogado, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Escrita Criativa. Mestre em Ciências da Comunicação. Colaborou com Doentes por Futebol, Chelsea Brasil, Bundesliga Brasil, ESPN FC, These Football Times, revistas Corner e Placar. Fundou a Revista Relvado.

1 Resultado

  1. 16 de abril de 2025

    […] uma temporada em que o clube havia feito investimentos em gente como Mazinho, Andoni Zubizarreta e Oleg Salenko, não vivia seu melhor momento. O Valencia fez sua pior campanha no Campeonato Espanhol desde […]

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