Em 1981-82, um título do Göteborg alavancou a carreira de Sven-Göran Eriksson
NA HISTÓRIA DO FUTEBOL SUECO, apenas uma equipe conquistou campeonatos continentais. Embora o Malmö, recordista de títulos do campeonato local, tenha chegado à final da Copa dos Campeões de 1978-79, o título ficou nas mãos inglesas do Nottinhgam Forest. O que não se sabia é que a espera pela primeira glória internacional sueca seria curta — e que ela viria de outra fonte.

Foto: IFK Göteborg
Os primeiros passos do jovem Eriksson
Depois do fim de uma carreira frustrante como jogador de futebol, Sven-Göran Eriksson recebeu sua primeira oportunidade fora das quatro linhas e a abraçou. Tord Grip, seu ex-comandante no modesto KB Karlskoga, fez um convite para auxiliá-lo no nanico Degerfors IF.
Era a segunda metade dos anos 1970 e o futebol sueco sofria forte influência inglesa. Roy Hodgson e Bob Houghton inauguravam um novo tempo. Com o frescor da novidade, Eriksson projetou sua trajetória como treinador, alavancado pelo que acontecia ao seu redor.
Quando Grip foi convencido a se tornar auxiliar da seleção sueca, Sven-Göran assumiu as rédeas. Em 1978, chamou a atenção com o acesso do Degerfors à segunda divisão e sua carreira decolou.

Foto: IFK Göteborg
Um ano depois, aos 31, chegou ao IFK Göteborg. Havia pressão no ar; o tradicional clube de Gotemburgo não conquistava o nacional desde 1969. Eriksson lidou bem com o momento e iniciou a sua revolução.
Enquanto Houghton levava o Malmö ao vice-campeonato europeu, Eriksson recolocava seu próprio time nos trilhos. O início foi difícil. Como contou Jonathan Wilson, em A Pirâmide Invertida, os três primeiros jogos foram derrotas e uma oferta voluntária de demissão acabou por chegar, sendo prontamente rejeitada pela direção azul e branca.
As coisas melhoraram. Ainda no primeiro ano, o técnico elevou os Blåvitt ao segundo lugar na Suécia. Hodgson e o Halmstads acabaram campeões. Mas Eriksson não deixou seu torcedor de mãos abanando, conquistando a Copa da Suécia.
No ano seguinte, em 1980, o Göteborg terminou o nacional na terceira colocação e, em 1981, voltou ao segundo lugar. O time vinha batendo na trave, mas Sven-Göran seguia mostrando suor e qualidade. Ele conquistara um título e colocara sua equipe em igualdade de condições na disputa pelas glórias. A recompensa não tardou a chegar, veio logo em 1982.
Influência tática
Eriksson nunca negou seu apreço e predileção pelo esquema tático 4-4-2, rígido, funcional e tipicamente inglês. A marcação por zona e o pressing na hora de recuperar a bola, que se confirmariam duas de suas grandes marcas, davam-se a conhecer ali. À obra de Wilson, o jornalista Frank Sjöman relatou as impressões da época: “Ele introduziu mais consciência tática, trabalho e enfraqueceu o antigo estilo”.
Por sua vez, à revista The Blizzard, Eriksson deu maiores esclarecimentos a respeito das novidades que deram um empurrão ao seu sucesso inicial:
“Veja o Malmö, que, em 1979, chegou à final da Copa dos Campeões […] jogava com uma pressão muito agressiva e isso era eficaz, porque era relativamente novo […] Talvez isso não parecesse bom, mas para os oponentes era muito difícil de lidar […] Outros times […] não conseguiam lidar”.
Na Suécia, o comandante foi acusado de privilegiar o resultado em detrimento do bom jogo, da estética. A verdade, todavia, é que havia uma revolução sendo posta em prática e resultados cruciais não tardaram a chegar. Com eles, Eriksson elevou sua carreira e se tornou um dos grandes de seu tempo, a despeito das críticas recebidas no decorrer dos anos.
Uma Copa da UEFA para consagrar
O resultado obtido pelo Göteborg em 1980 assegurou vaga na Copa da UEFA de 1981-82; o calendário do futebol sueco não seguir os padrões das principais ligas europeias. Embora não tivesse a qualidade e o prestígio da Copa dos Campeões, tratava-se de um torneio com equipes de qualidade, como não deixa em dúvida a presença de Valencia, Hamburgo, Real Madrid, Arsenal, PSV Eindhoven, Feyenoord ou Internazionale.
Dando um passo de cada vez, o IFK foi caminhando. Nas fases iniciais, bateu o modesto FC Haka, da vizinha Finlândia por 7 a 2 no placar agregado; os austríacos do Sturm Graz, 5 a 4, e; os romenos do Dínamo Bucareste, 4 a 1. Conforme o caminho foi sendo pavimentado, o azarão sueco foi se dando a conhecer. Aos poucos, o centroavante Torbjörn Nilsson fez manchetes, mostrando-se um artilheiro feroz.
O caminho foi ficando tortuoso. Nas quartas de finais, os de azul e branco pegaram o Valencia, liderado pelo dinamarquês Frank Arnesen. Depois de empatar na Espanha, os suecos venceram por 2 a 0 na volta e chegaram às semifinais. A seguir veio o Kaiserslautern, que eliminara o Real Madrid. Foi a fase mais desafiadora para o Göteborg.
Na Alemanha, empataram por 1 a 1 — o que não deixou de ser um bom resultado, contra a equipe de Andreas Brehme e Hans-Peter Briegel. Na volta, o início foi positivo, mas houve tensão até o final. Tommy Holmgren costurou a defesa alemã para inaugurar o marcador na Suécia, marcando um belo gol. Os alemães empataram com Reiner Geye e o jogo só foi decidido na prorrogação. Uma penalidade máxima, controversa, permitiu o gol do defensor Stig Fredriksson e levou a equipe à final.
Um final inquestionável
Quando se esperavam as maiores dificuldades, o IFK foi letal e impiedoso. Pela frente, o time teve o Hamburgo, treinado por Ernst Happel e que conquistaria a Copa dos Campeões no ano seguinte. Nada importou que o time do norte da Alemanha contasse com selecionáveis como Manfred Kaltz, Felix Magath ou Horst Hrubesch — além do dinamarquês Lars Bastrup.
Os comandados de Eriksson, que faziam parte de uma geração sueca medíocre, que não se classificou para as Copas do Mundo de 1982 e 86, viviam um grande momento.

Foto: IFK Göteborg
Em casa, diante de uma multidão de 42.548 pessoas, o estado do gramado não facilitou a vida dos comandados de Happel e os suecos venceram por 1 a 0, tento assinado por Tord Holmgren (irmão de Tommy). Apesar dos contratempos, o tira-teima na Alemanha não deixou dúvidas de que o IFK merecia ser o campeão.
Aos 26 minutos, Dan Corneliusson completou cruzamento da esquerda na pequena área e abriu o placar para os escandinavos. O segundo gol veio em um contragolpe fulminante. A bola foi recuperada na intermediária e Nilsson lançado. Na velocidade, o atacante se livrou dos defensores do Hamburgo e ficou frente a frente com o goleiro; cumprimentou as redes e se consolidou o artilheiro da competição, com nove gols.
Ao final, outra penalidade convertida por Fredriksson deu números finais ao marcador. 3 a 0 na casa do adversário. Pela primeira vez, um título continental foi para a Suécia.
A consolidação de um treinador respeitado
Após a conquista, à qual se somaram os título sueco e da Copa da Suécia de 1982, Eriksson partiu para novos vôos. Começou pelo Benfica e passou por Roma, Fiorentina, Sampdoria, Lazio, Manchester City, Leicester e equipes chinesas — além das seleções da Inglaterra e da Costa do Marfim.
A história que começou no pequenino Degerfors tomou forma e forjou um treinador importante. E apesar da saída de seu mentor, o IFK Göteborg não ficou jogado às traças.
A semente plantada por Sven-Göran foi semeada e o clube voltou a conquistar a Copa da UEFA em 1986-87. Alguns jogadores da primeira glória remanesciam, recordando as bases fundadas por Eriksson, as verdadeiras responsáveis por colocar o time no radar continental.