O rápido impacto de Roberto Gagliardini
e a chegada do treinador Frank De Boer – detentor de um tetracampeonato holandês
– animavam o torcedor nerazzurri. No
entanto, o que era para se provar um exitoso processo de reconstrução e retorno
à luta por títulos se comprovou um grave erro. Instalou-se a instabilidade e
logo o time trocou de treinador. Chegou Stefano Pioli, ex-Lazio, e a equipe
cresceu de produção. Evoluiu muito também a partir de uma nova incorporação: Roberto
Gagliardini, volante de ascensão meteórica na Atalanta.
É curioso pensar que até o início
da atual temporada, Gagliardini, de 22 anos, só tinha disputado uma partida na
primeira divisão italiana, justamente na última rodada da temporada 2015/16. É
justo dizer, contudo, que na primeira parte do aludido ano o atleta esteve
emprestado ao Vicenza, clube em que não chegou a se firmar. Formado na própria
Atalanta, que o recebeu no já distante ano de 2001, só se tornou peça importante de La Dea a partir da
temporada atual e isso não se deu imediatamente.
Embora já estivesse incorporado
aos profissionais da equipe italiana desde o começo da campanha presentemente
em disputa, só conseguiu seu primeiro jogo como titular na 7ª rodada do Calcio. Isso só voltou a se repetir a
partir da 11ª rodada e, desde então, passou a ser sua realidade. Entre a rodada
citada e o início das negociações com a Inter de Milão, Gagliardini foi sempre
titular; e mais: transformou-se em peça fundamental, ao lado do marfinense Franck
Kessie.
Com ele, a Atalanta, que perdera
quatro de suas primeiras cinco partidas na competição, tornou-se surpresa e
sensação no Campeonato Italiano. Aliás, nos jogos em que alinhou o volante em
seu time titular, o clube de Bergamo sentiu o sabor da vitória em seis
oportunidades, tendo sido derrotado em apenas uma e empatando outra. Sim, foram
apenas oito partidas de Campeonato Italiano como titular. Diante disso, como é
possível justificar uma transferência tão cara para a Inter de Milão
(especula-se ter custado cerca de €25 milhões)?
Uma das explicações é certamente
o fato de o jovem ter sido convocado pelo treinador Giampiero Ventura para as
partidas da Itália contra Liechtenstein e Alemanha, o que, embora o jogador não
tenha estreado, certamente o colocou em outro patamar. Selecionável, Gagliardini passou a custar mais caro.
Entretanto, são suas qualidades a melhor justificativa para seu alto preço.
Volante alto (1,88m), desde que
ganhou real espaço na Atalanta, Gagliardini vem demonstrando uma capacidade
especial para fazer a precisa leitura do jogo e muita resistência física. Sua
noção dos espaços do campo é privilegiada, o que lhe torna um jogador com muito
destaque nas recuperações de bola, não somente em desarmes, mas também em
interceptações. Sua aptidão para o jogo aéreo é também um diferencial, visto
que permiti que sua equipe ganhe mais vezes as segundas bolas e comece,
rapidamente, a construir seu jogo.
Conquanto não seja um mestre dos
passes, também não se compromete nesse atributo, tendo uma saída de bola,
embora simples, muito eficaz. Desde que chegou à Inter, em partidas de
Campeonato Italiano, tem média de 85,5% de aproveitamento de passes, 3,2 desarmes
e 3 interceptações por partida. Tais números, excelentes, têm lhe rendido
absoluta titularidade na Beneamata e
o jogador vem sendo uma das principais explicações para a evolução interista.
Desde que chegou a Milão,
Gagliardini disputou cinco partidas, todas como titular, participando de quatro
vitórias e uma derrota para a líder Juventus. Fazendo parceria ora com o croata
Marcelo Brozovic ora com o francês Geoffrey Kondogbia, o italiano tem feito por
merecer a titularidade e já começou a ganhar espaço no coração do torcedor,
pela luta constante e espírito incansável. A melhora na dinâmica de jogo da
Inter passa pela contratação do jogador, que pode não ter o nome dos primeiros
contratados da temporada, mas já é muito mais importante que a maioria deles.
“[Gagliardini] Se tornará um meio-campista completo. Com quem ele se
parece? Me lembra [Marco] Tardelli, pelo senso de posicionamento e desejo de
atacar, embora Marco fosse mais ágil e rápido e Gagliardini tenha mais estatura
e fisicalidade”, disse Stefano Pioli em entrevista coletiva após a estreia
de seu meio-campista.
A despeito de ter uma carreira de
pouco mais de 100 partidas disputadas, majoritariamente na segunda divisão
italiana, Gaglio mostra tranquilidade e maturidade raras, não sentiu o peso da
camisa da Inter e muito menos o da responsabilidade de ajudá-la a se recuperar
e buscar uma vaga em competições europeias da próxima temporada.
Se, a princípio, seu preço
pareceu muito alto, desde que começou a atuar essa impressão vem se
modificando. Gagliardini tem entregado futebol de primeira qualidade: técnica,
física e até mesmo emocionalmente. A presença do novo camisa cinco interista
vem estabilizando o meio-campo da equipe e ajudando outras peças, como a do
português João Mário, a atuar melhor. Não há dúvidas de que o italiano foi uma
contratação excelente, sobretudo em razão da rapidez com a qual conseguiu
trazer impacto ao onze inicial da Inter de Milão.