O que a Islândia tem?
Nação isolada do continente
europeu, com belíssimas e raras paisagens, a Islândia, país de pouco mais de
300.000 habitantes, nunca mostrou muita qualidade para o futebol e sempre viu o
esporte de longe, eclipsado por alguns bons momentos de suas vizinhas
escandinavas: Noruega, Suécia e Dinamarca. Não obstante, desde a chegada do
sueco Lars Lagerback ao comando da Seleção Islandesa, em 2011, o panorama tem
mudado, consolidando-se nos últimos dias com a inédita classificação para a
Eurocopa de 2016, superiorizando-se em um grupo que conta com as forças de equipes mais
tradicionais, como Holanda, Turquia e República Tcheca. O que a Islândia
tem?
de uma estrela isolada, que brilhou nas décadas de 90 e 2000 e ainda hoje é
convocada, o atacante Eidur Gudjohnsen, ex-Chelsea e Barcelona,
hoje a equipe de futebol da nação conhecida por seus gêiseres tem passado a ser
conhecida por sua proposta coletiva de jogo e não apenas por talentos isolados.
entre 2000 e 2009, Lars Lagerback (foto) chegou a Reykjavík com um passado de sucesso
em seu currículo. Um dos responsáveis pelas classificações suecas para as Copas
do Mundo de 2002 e 2006 e para as Eurocopas de 2004 e 2008, o comandante é
também lembrado por ter conseguido conduzir a Suécia à fase eliminatória da
Copa de 2002, mesmo com um nada auspicioso sorteio para um grupo com
Inglaterra, Argentina e Nigéria. Antes disso, o treinador também havia
trabalhado nas equipes de base da Suécia.
breve passagem pela Seleção Nigeriana – Lars chegou ao comando da Islândia com
a responsabilidade de transformar o futebol local. Mesmo com dificuldades, o
treinador conseguiu levar sua seleção à repescagem para a Copa do Mundo de 2014,
perdendo para a Croácia. Após isso, o treinador teve seu contrato renovado e definiu
que gostaria de se aposentar ao final da Eurocopa de 2016. Assim, ganhou a
companhia de Heimir Hallgrímsson (que o sucederá) no comando da seleção e os
resultados de todo o trabalho ficaram evidentes.
da disputa das eliminatórias para a Euro 2016, que acontecerá na França,
revelou um desempenho que nem o mais otimista dos amantes de futebol islandeses
poderia esperar. Em oito partidas, a equipe venceu seis, perdeu uma e empatou
uma. A equipe escandinava se impôs duas vezes contra a Holanda (em casa e
fora), bateu os tchecos uma vez e também os turcos (que ainda serão defrontados
mais uma vez). Além disso, fez o dever de casa contra os fracos Letônia e
Cazaquistão.
certamente é boa, mas não é possível desvincular o sucesso da chegada do
experiente treinador
sofreu, com apenas três concessões até o momento – todos em partidas contra a
República Tcheca – a Islândia mostra uma forma extremamente competitiva de
jogo.
Zagueiro Sigurdsson é destaque |
limites e possibilidades, os envolvidos na causa islandesa têm deixado o
coração na ponta das chuteiras e se dedicado de forma impressionante. Normalmente,
o treinador tem optado por um esquema tático tradicional: o 4-4-2. Com uma
defesa-padrão, com dois beques e dois laterais que dão pouca assistência
ofensiva, o meio-campo é o setor que mais trabalha pelo sucesso da equipe.
jogadores que costumam tratar bem a bola e cuja melhor qualidade não é a
marcação, o capitão Aron Gunarsson, jogador do Cardiff City, e o conhecido
Gilfy Sigurdsson, do Swansea City, o meio é multifuncional, tendo a
responsabilidade de criar jogadas e, quando mal-sucedidas, rapidamente se
recompor para fazer o trabalho sujo e destruir os lances adversários. Além
disso, os outros meias que atuam pelos lados do campo, sobretudo os competentes
Birkir Bjarnason e John Berg Gudmundsson têm a inglória missão de avançar e
recuar o tempo topo, assistindo os atacantes e recompondo o meio.
“É inacreditável – estou chocado. Nós trabalhamos sempre tão duro para alcançar esse ponto. Nós somos o primeiro time islandês a qualificar para as finais. Quando eu comecei a jogar futebol, eu nunca sequer imaginei que isso poderia acontecer”, disse o capitão Gunarsson, após a classificação.
habituais titulares são Kolbeinn Sightorsson e Jón Dadi Bödvarsson, cuja missão
não é menos difícil que a de seus companheiros da meia-cancha. Responsáveis por
atormentar os defensores adversários, os dianteiros têm a missão de impedir que
os adversários consigam fazer uma eficaz saída de bola, marcando-os e forçando-os
a optarem por movimentos arriscados e potencialmente errados.
valores, mas não conta com nenhum jogador que se possa ter como uma grande
referência decisiva. Não há um craque solo que com seu talento traga
desequilíbrio e desestabilize os rivais. Por isso, há uma necessidade tão
grande de um apelo coletivo, que vem sendo a chave para o sucesso da equipe de
Lars Lagerback.
hoje da Seleção Islandesa foram companheiros na equipe Sub-21 que disputou o
europeu da categoria em 2011. Desde lá já era possível notar que se estava de frente para a
melhor equipe que o país já vira.
comandantes do meio-campo de um Swansea City que vem surpreendendo na Premier
League, é o grande craque e o artilheiro maior da equipe nas eliminatórias para
a Euro 2016, com cinco gols. Dono de grande visão de jogo e boa capacidade de
finalização o jogador veste e honra a camisa 10 da equipe. A seu lado,
Gunarsson, seu rival em solo britânico (atua no Cardiff), faz aquele que pode
ser considerado um dos principais trabalhos na equipe, o da contenção, controle
do meio e da liderança, sendo o capitão.
sempre uma arma perigosíssima pelo flanco direito, aparecendo para marcar gols
e criar assistências e Sightorsson é o mais importante dos atacantes.
Ex-jogador do Ajax, atualmente no Nantes, o jogador tem porte físico, boa técnica
e uma média de gols respeitável pela Seleção, com a marcação de 17 tentos em 31
jogos, ou 0,54% gol por jogo.
coletivo, as individualidades são importantes e decisivas. Ademais, o time
conta com a referência do interminável Gudjohnsen no banco de reservas, um
jogador vivido e vitorioso (o maior vencedor da história do país), que
certamente exerce grande e boa influência sobre o elenco, aos 36 anos.
desempenho da Seleção da Islândia é a grande história das eliminatórias da Euro
2016 – embora equipes como Armênia, Áustria, Noruega, Estônia, País de Gales e
Irlanda do Norte também surpreendam. Nesse momento, pouco importa pensar como
será o desempenho islandês na competição continental do ano que vem, pois a
maior vitória já foi alcançada e o inédito foi exitoso. Respondendo à pergunta
inicial: a Islândia tem consciência, jogo coletivo, destaques individuais e o
mais importante: os pés bem fincados no chão.