O novo-velho dilema da fúria: nove ou falso nove?

NÃO É DE HOJE QUE O TREINADOR VICENTE DEL BOSQUE remói em seu íntimo a dúvida sobre a escalação ideal da seleção espanhola. Na verdade, suas dúvidas não recaem sobre a defesa ou o meio-campo. Seu dilema está no ataque. Depois de anos à frente da Roja, Del Bosque ainda não decidiu sua preferência, se escolhe um centroavante típico ou opta por um jogador mais móvel, que ocupe a grande área, mas circule por toda a faixa do ataque hispânico. Recentemente, chegou a utilizar até o volante Javi Martínez no ataque (o que não vem ao caso).

Vicente Del Bosque Espanha

Foto: Reuters

Até aí se tem um leque de verdades, mas nenhuma novidade. Acontece que a má fase de alguns jogadores (e a boa fase de outros) tem mexido com as especulações e, certamente, com a cabeça do treinador espanhol. Assim, fazendo um rápido levantamento, é possível listar opções, tanto de autênticos camisas nove quanto de jogadores que poderiam ser usados como “falso nove”.

Os camisas nove autênticos

Roberto Soldado (Tottenham-ING)

Preferência inicial do treinador Vicente Del Bosque na última Copa das Confederações, Roberto Soldado, ex-jogador do Valencia, recém-transferido para o Tottenham, não agradou. Pela seleção, o centroavante não conseguiu reeditar as boas exibições do Valencia. No momento, está atrás de outros concorrentes, pois, além de ter gastado uma parte de seus créditos com o treinador, vive má fase no clube da capital londrina. Apesar de sua marca não ser das piores — 9 gols em 17 partidas — grande parte destes tentos foi marcada na Liga Europa contra adversários fracos, e outra boa parte em pênaltis.

Álvaro Negredo (Manchester City-ING)

Provavelmente o atacante espanhol que mais evoluiu nesse início de temporada, Álvaro Negredo é um dos principais causadores das dores de cabeça do treinador da Fúria. Tido como fraco tecnicamente por seus críticos, o ex-atacante do Sevilla, e atualmente no Manchester City, conseguiu um rápido e eficiente entrosamento com o craque Sergio Agüero. O espanhol tem se destacado com muita dedicação na recomposição da equipe e, claro, com gols e assistências. Vive ótima fase. Até o momento, Negredo marcou 13 gols pelo City em 23 partidas e deu 5 assistências para seus companheiros.

Diego Costa (Atlético de Madrid-ESP)

Sem sombra de dúvidas o centroavante espanhol em melhor momento no mundo, Diego Costa, brasileiro de nascimento, foi alvo de polêmicas durante esse ano. Depois de recusar uma convocação para a Canarinho, o atacante do Atlético de Madrid optou por defender a Espanha. Carente de um atacante que resolva, o selecionado hispânico parece ser certamente o destino do sergipano Diego Costa. Seus números na temporada são assombrosos: 21 jogos, 21 gols.

Diego Costa Atlético Madrid

Foto: Luis Sevillano

Fernando Torres (Chelsea-ING)

Lembrado mais pela sua história do que pelo seu momento, Fernando Torres ainda conserva algumas de suas qualidades do auge de sua carreira. Apesar de não contar mais a velocidade de outrora, ainda apresenta boa técnica e faro de gol. Mesmo tendo perdido espaço no Chelsea com a chegada de Samuel Eto’o e a concorrência de Demba Ba, o espanhol segue marcando seus tentos. Conquanto não seja a opção que vive o melhor momento, El Niño, com sua experiência, poderia agregar muito valor à Fúria. Pelo Chelsea, Torres marcou 9 gols em 18 jogos nesta temporada, e deu 4 assistências.

Fernando Llorente (Juventus-ITA)

Jogador com um perfil um pouco diferente de seus concorrentes, Llorente tem como ponto mais forte do seu jogo a bola aérea. Não é para menos, considerando seu 1,95m e seu porte físico. Apesar disso, também é bom finalizador com o pé direito e sabe, como poucos, proteger a bola para a chegada de seus companheiros. Embora tenha vivido um conturbado período de adaptação ao futebol italiano (e outro tempo difícil no Athletic, desde que informou seu acerto com a Juventus), sua forma tem melhorado consideravelmente nos últimos jogos. Na temporada, são 6 gols e 3 assistências em 18 jogos.

Michu (Swansea-ING)

Muito badalado na temporada passada, o atacante do Swansea perdeu pontos na corrida pela camisa nove da Espanha. E não é que ele esteja jogando mal. Longe disso. Acontece que a contratação do marfinense Wilfried Bony pelo clube galês modificou o estilo de jogo do espanhol. Mais longe do gol e com tarefas mais ligadas à criação de jogadas do que à finalização das mesmas, Michu tem marcado menos vezes. Na temporada, são 6 gols e 5 assistências em 19 jogos. Como comparação, à mesma altura da temporada passada, Michu já tinha marcado 14 gols.

Michu Swansea

Foto: Action Images

David Villa (Atlético de Madrid-ESP)

Tal como Fernando Torres, Villa, maior artilheiro da história da seleção espanhola, não vive o melhor momento de sua carreira. Não obstante, sua saída do Barcelona e a atual parceria com Diego Costa colocaram-no novamente em uma crescente. É bem verdade que o principal fator para sua queda técnica foi a grave lesão na tíbia no Mundial de Clubes de 2011. Além de viver bom momento, carrega consigo grande experiência e também dá mais possibilidades táticas para o treinador Vicente Del Bosque. Nestes primeiros meses no Atlético, o atacante marcou 9 gols e deu 4 assistências em 21 jogos.

As possibilidades de falso nove

Fábregas (Barcelona-ESP)

Apesar de o técnico espanhol contar com um extenso leque de possibilidades de centroavantes à sua disposição, o meio-campista do Barcelona foi, grande parte das vezes, a escolha preferida para o centro do ataque da seleção. Dada a pouca eficiência demonstrada pelos atacantes testados e a familiaridade dos demais atletas – em grande parte vindos do Barcelona – com o esquema do “falso nove”, Fábregas, que da mais mobilidade à equipe, tem ganhado muitas oportunidades nessa condição. Contudo, não é essa a melhor posição do espanhol. Prova disso são seus números na temporada: em 23 jogos, Fábregas marcou 7 gols e deu 15 assistências.

Santi Cazorla (Arsenal-ING)

Ao longo de sua carreira, Cazorla demonstrou muita facilidade para atuar em diversas posições do ataque, seja como winger, como armador ou verdadeiramente como atacante. Apesar de não ter sido testado por Del Bosque na condição de “falso nove”, sua carreira mostra que ele poderia ser eficiente nessa posição, afinal, ele possui como importantes características intensa movimentação, formidável habilidade e muita facilidade para finalizar com os dois pés. Vale a lembrança de que ele não vive seu melhor momento no Arsenal, tendo perdido seu protagonismo com a chegada do alemão Mesut Özil. Até o momento, só marcou um1 gol e deu 1 assistência em 18 jogos.

Foto: Fanny Schertzer

Isco (Real Madrid-ESP)

Outra possibilidade arguida aqui é da utilização do jovem Isco mais adiantado. E a observação é pertinente. Afinal, poucos meio-campistas espanhóis no momento tem mostrado tanta facilidade para invadir a grande área adversária quando ele. Vindo de trás, o jogador tem demonstrado um grande apetite por gols. Na temporada, registra 8 tentos e 6 assistências em 20 jogos.

Façam suas escolhas.

Wladimir Dias

Idealizador d'O Futebólogo. Advogado, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Escrita Criativa. Mestre em Ciências da Comunicação. Colaborou com Doentes por Futebol, Chelsea Brasil, Bundesliga Brasil, ESPN FC, These Football Times, revistas Corner e Placar. Fundou a Revista Relvado.

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