O final incomum de Marcell Jansen
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Eram os idos de 2015, mais precisamente o período de férias dos atletas europeus, ao final da temporada 2014-15. Marcell Jansen, lateral esquerdo de longas trajetórias em dois clubes — além de uma fugaz passagem pelo Bayern de Munique—, viu seu contrato com o Hamburgo vencer. Tinha 29 anos, havia disputado duas Copas do Mundo e chegou a ser convocado às vésperas do Mundial de 2014. Ainda assim, não teve seu vínculo renovado. Possuía, então, bom valor de mercado, mas preferiu encerrar sua carreira.
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“Há muitas ofertas boas, mas seguir não é uma opção. Estou em forma, posso me mudar em uma transferência livre, ainda posso ganhar um bom dinheiro, mas prefiro renunciar ao dinheiro. Nos últimos anos, fiquei muito ligado emocionalmente ao HSV. Continuarei vivendo em Hamburgo e sempre vou amar esse clube. O mesmo com o Gladbach […] Não posso, de repente, beijar outro escudo agora”, disse ao Bild, na época da tomada de sua decisão.
Repise-se: Jansen não era um jogador qualquer. Tudo bem, não foi um craque nem nada parecido, mas era útil. Exercia com competência todas as atribuições do lado esquerdo do campo, tendo sido, eventualmente, meia e extremo. Possuía qualidades e foi um dos responsáveis pela transição de Philipp Lahm à ala direita na Seleção Alemã. Reserva no Mundial de 2006, assumiu a titularidade após o certame, construindo uma trajetória importante.
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Em 10 anos de carreira, fez 335 jogos oficiais e foi às redes 40 vezes. Grandalhão, 1,91m, diferentemente do que se sugere, gostava de ir à frente, mas com equilíbrio. Aliás, talvez essa tenha sido sua maior virtude no tempo em que atuou como profissional. A fiabilidade fez de um jogador sem grandes habilidades, mas consciente de seu papel no campo e perante o coletivo, um jogador de carreira invejável.
Ele chegou ao patamar a que todos aspiram e poucos chegam: representou sempre clubes de primeira divisão em um dos maiores campeonatos do planeta e vestiu as cores de sua seleção nacional. Jogou Copas do Mundo e conquistou três títulos: Bundesliga, Copa da Alemanha e Copa da Liga da Alemanha — ironicamente pelo Bayern, o maior mas o menos importante dos clubes de sua carreira, em que teve problemas com o treinador Jürgen Klinsmann, por não chegarem a um consenso sobre as perspectivas do então lateral de 22 anos.
Ao contrário do que se poderia pensar, no tempo que se seguiu à dura escolha tomada, Jansen não voltou atrás em sua decisão e aceitou o esquecimento. Ao final, seu equilíbrio não se mostra característica restrita ao campo de futebol, o que deve ter ajudado os membros do clube a tomar a decisão que acabou consagrando um amor tão bonito. Em janeiro de 2019, Marcell foi eleito o presidente do Hamburgo. “Do fundo do meu coração, aceito a decisão dos membros. Estou orgulhoso e encantado por representar o HSV como presidente”, falou. Sabemos, Jansen. Sabemos.