O despertar de Gerard Deulofeu
HÁ 12 ANOS, chegava a La Masía um jogador de grande talento e em quem sempre foi depositada muita expectativa. Com 11 anos, atuava no Sub-13 e com 16 fez sua estreia profissional, no Barcelona B. Pouco depois, aos 17, ganhou sua primeira oportunidade com Pep Guardiola, em amistosos de pré-temporada para a campanha de 2011-2012. Nesta, também ganhou suas primeiras oportunidades no time principal do Barça. Apesar disso, sua evolução no time estagnou e só agora, após sua saída definitiva do clube catalão, sua carreira vem deslanchando. Falo de Gerard Deulofeu.
Winger driblador e de grande velocidade, Deulofeu apareceu como mais um grande prodígio da afamada base Culé, junto com Bojan Krkic uma das figuras de quem mais se esperava grande futebol desde o aparecimento de Lionel Messi. Apesar disso, muito em razão da dificuldade de se enquadrar na proposta de jogo do Barça – uma vez que é muitas vezes excessivamente individualista –, não conseguiu espaço no clube. Entre sua estreia, em 2011, e sua saída, na última janela de transferências, o jogador só atuou em seis partidas.
Nesse período, passou a maior parte do tempo no Barcelona B e foi emprestado a Everton e Sevilla. Na Inglaterra, foi recebido com status de grande estrela em potencial, chamado de “diamante do futebol europeu” por Roberto Martínez, e foi bem. Com isso, esperava-se que o jogador retornasse à Catalunha, mas Luis Enrique preferiu emprestá-lo e dar mais oportunidades ao brasileiro Rafinha Alcântara. Assim, partiu para o Sevilla, onde fez um ano fraco e foi muito criticado.
“Peço coisas a todos os jogadores, e quero que eles me deem 100% disso. Gosto do que Deulofeu me dá no ataque, mas ele precisa melhorar muito na defesa”, afirmou o treinador no início da última temporada em avaliação que posteriormente encontrou correspondência com a de Unai Emery, comandante do Sevilla: “Tem que se sacrificar mais”.
Sem espaço, no início da atual temporada, deixou definitivamente o clube Blaugrano e retornou ao Everton, clube em que havia sido bem recebido e desfrutando de maior confiança do treinador, como ficou demonstrado nas palavras de Martínez na entrevista coletiva em que confirmou o retorno do espanhol.
“Estamos contratando um jogador ainda mais maduro do que há duas temporadas e um jogador que considera o Everton como casa. É por isso que estamos incrivelmente empolgados por tê-lo de volta em definitivo e por encorajá-lo a crescer, desenvolver-se e maturar seu enorme talento”, disse seu treinador.
De fato, em Goodison Park o atleta tem mostrado forma excelente, sendo habitualmente titular, ganhando mais espaço que jogadores como Aaron Lennon, Kevin Mirallas e Aiden McGeady e sendo uma grande opção de jogo pelo flanco direito do ataque. Curiosamente, o que mais chama atenção em sua forma atual é a contribuição para gols de seus companheiros, com muitas assistências e a demonstração de um jogo um pouco mais coletivo. É claro que ainda abusa de sua habilidade individual, mas também tem trabalhado pelo todo. Em 13 partidas na temporada, tem 2 gols marcados e 8 assistências providas.
Com isso, vem ganhando cada vez mais confiança e melhorando seu futebol. Isso foi novamente verificado na mais recente Data Fifa, com o jogador capitaneando uma seleção sub-21 da Espanha que contém figuras da qualidade de Inãki Willians, Denis Suárez, Óliver Torres e José Luis Gayá e marcando um hat-trick contra a Geórgia. Aliás, a camisa da Fúria sempre lhe caiu bem, obtendo grande desempenho nos escalões sub-17, 19 e 20, além do atual.
O Barcelona, no entanto, preparado para uma possível evolução de sua cria, só aceitou negociá-la com a inclusão de uma cláusula de recompra com condições especiais, válida pelas próximas duas temporadas. O clube catalão poderá trazer Deulofeu de volta por um valor muito mais baixo do que aquele que a multa rescisória do atleta impõe.
Deulofeu é apenas um garoto ainda e finalmente dá sinais da esperada evolução de seu futebol. Nunca se duvidou de seus predicados técnicos, mas sua excessiva individualidade, falta de interesse em algumas partidas e dificuldade para exercer atividades defensivas afastaram o talento do clube que foi sua casa desde os nove anos. Entretanto, sob a batuta de Roberto Martínez, especialista em trabalhar com garotos (como comprovam as evoluções de Romelu Lukaku, Ross Barkley e John Stones), o espanhol vem se encontrando. Não há dúvidas de que o retorno a Liverpool foi uma escolha acertada. Deulofeu despertou.