Célio Silva, o canhão que quase chegou ao Manchester United

POUCOS BRASILEIROS representaram as cores do Manchester United. O primeiro foi Kléberson, em 2003, destaque na Copa do Mundo do ano anterior. A negociação com os Red Devils se arrastou por um ano, e o ex-athleticano foi apresentado ao lado de Cristiano Ronaldo. Fracassou. O que poucos sabem é que Old Trafford poderia ter recebido seu primeiro brasileiro anos antes, em 1997. O treinador Alex Ferguson esteve próximo de anunciar a contratação do zagueiro Célio Silva.

Célio Silva Brasil

Foto: Getty Images

Lembrado pelos chutes que chegavam aos 136 quilômetros por hora, o defensor vivia ótimo momento com a camisa do Corinthians e era experiente. Completara 29 anos e trazia no currículo passagens por Vasco da Gama, Internacional, clube em que marcara o gol do título da Copa do Brasil de 1992, e pelos franceses do Caen. Vestira a camisa da Canarinho como titular no Tournoi de France, ao lado de Aldair, e fora chamado à disputa da Copa América.

O Manchester United buscava desesperadamente um zagueiro. Célio estava de saída do Timão. Segundo reportou a Folha, o clube paulista receberia 5,9 milhões de dólares na transação e o jogador seguiria para a Terra da Rainha.

Era um período de transição para os Red Devils, entre a aposentadoria precoce de Éric Cantona e a afirmação da famigerada Class of 92 — o grupo formado pelos jovens David Beckham, Ryan Giggs, Paul Scholes, Nicky Butt e os irmãos Gary e Phil Neville.

Entre ingleses, brasileiros e o atleta estava tudo certo; os valores estavam acertados.

Contudo, as regras para a contratação de estrangeiros pelos ingleses eram um obstáculo. Embora viesse sendo frequentemente convocado, o beque não atuara em 75% dos jogos da Seleção Brasileira nos biênio anterior; não possuía o que os ingleses chamam de “qualidade inquestionável”; nem se tratava de um jovem com margem para evolução. Não preenchia, portanto, os requisitos para receber a licença de trabalho.

Ferguson sabia que não seria fácil fechar negócio. A oportunidade, porém, era vista com bons olhos por todos os envolvidos. Valia a pena pagar para ver.

“Célio só tem seis jogos internacionais, isso é uma preocupação para nós. É uma questão, mas só podemos esperar e ver o que acontecerá nessa semana”, disse o treinador, ao Independent, em 28 de julho de 1997.

O indesejado desfecho aconteceu. A licença de trabalho não foi emitida e a carreira de Célio Silva encalhou. O Corinthians tinha contratado naquele ano outro selecionável, Antônio Carlos Zago, que acabou tomando um pouco de seu espaço.

Célio Silva Corinthians

Foto: Rogério Assis/Folhapress

O zagueiro rodou por Goiás, Flamengo e Atlético Mineiro, foi parar na Universidad Católica, do Chile, e encerrou a carreira onde tudo começou, no Americano, de Campos dos Goytacazes. Jogou pouco, conviveu com lesões. Quase não recebeu: “Saí do Corinthians e fui para o Goiás, em 1998, e não recebi. Fui para o Flamengo, em 1999, e não recebi. Em 2000, também não recebi no Atlético Mineiro. E em todos esses clubes que não me pagaram, eu joguei”.

A partir de 2015, as regras para a concessão do work permit foram revistas pela Football Association. Desde então, se o postulante à licença for cidadão de um dos países que figuram dentre os 10 melhores no ranking da Fifa, é necessário que tenha atuado por sua seleção em 30% das partidas, nos últimos dois anos. Entre o 11º e o 20º postos, o limite é de 45%; na faixa do 21º ao 30º, de 60%; e, no intervalo do 31º ao 50º, de 75%.

Jogadores de países que não figuram entre os 50 primeiros no ranking da Fifa podem ter sua negociação submetida a um apelo, assim como os demais futebolistas dos países do Top 50 e que não possuem a assiduidade internacional necessária.

Voltando ao ano de 1997, em uma janela complicada, os mancunianos tiveram propostas por Markus Babbel e Rio Ferdinand rejeitadas, não ficaram satisfeitos com o desempenho do chileno Dante Poli, após um período de testes, e acabaram contratando o norueguês Henning Berg, ex-Blackburn e titular absoluto em seu país.

Passariam-se mais seis anos até, finalmente, um brasileiro defender o Manchester United. Célio Silva nunca mais voltou à Seleção e ao nível que exibia na época da negociação.

Wladimir Dias

Idealizador d'O Futebólogo. Advogado, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Escrita Criativa. Mestre em Ciências da Comunicação. Colaborou com Doentes por Futebol, Chelsea Brasil, Bundesliga Brasil, ESPN FC, These Football Times, revistas Corner e Placar. Fundou a Revista Relvado.

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  1. Lucas disse:

    Mais um excelente texto, fica meu comentário ao novo design, sensacional, tmj mano!

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