Na Turquia, Sivasspor de Roberto Carlos é a sensação
QUAL NÃO FOI A SURPRESA DO PÚBLICO BRASILEIRO quando Roberto Carlos deixou o cargo de auxiliar técnico do então rico e esbanjador Anzhi Makhachkala e partiu para seu primeiro desafio como treinador? O primeiro sentimento que preencheu o íntimo da maioria dos amantes do futebol foi a descrença. A dúvida e o pessimismo quanto à atuação de treinadores brasileiros na Europa fez-se presente. Pintou-se um quadro de iminente fracasso. Apesar disso, a tabela do campeonato turco revela outra realidade — bem diferente.

Foto: TRT Spor
Mesmo com um orçamento limitado, o Sivasspor, da cidade de Sivas, tem mostrado um futebol técnico e ofensivo. Com muito toque de bola e velocidade pelos flancos, o time apresenta um jogo à brasileira, mesmo que os jogadores não sejam grandes craques — muito pelo contrário. Para se ter uma ideia, o principal criador da equipe alvirrubra é o lateral direito Cicinho. Sim, aquele.
Jogando na lateral direita, mas com total liberdade, o filho da cidade paulista de Pradópolis, que foi jogador do galáctico Real Madrid e da tradicional Roma, ganhou a Copa Libertadores da América e o Mundial de clubes pelo São Paulo, e ainda disputou a Copa do Mundo de 2006, voltou a viver uma grandíssima fase.
Em 19 partidas pela Liga Turca, marcou um gol e assistiu seus companheiros em nove ocasiões. Invejável média. De fato parece ter controlado seu problema com o álcool e está jogando um futebol mais alegre. No último jogo, a vitória sobre o poderoso Fenerbahçe, Cicinho proferiu até um cruzamento de letra.
Taticamente pode até ser que Roberto Carlos não tenha grande conhecimento (é necessária uma trajetória mais longa para se fazer uma análise conclusiva), optando pelo manjadíssimo e eficiente esquema 4-2-3-1. Mas, nos aspectos técnicos e estilo de jogo, o eterno camisa 3 do Real Madrid tem mostrado grande desempenho.
Seu clube é o quinto time da liga que, em média, passa mais tempo com a posse de bola (atrás dos três gigantes e do Eskisehirspor) e a sua diferença em relação ao Galatasaray, melhor equipe nesse quesito, é de apenas 3%. Além disso, o Sivasspor é o segundo time com melhor percentual de aproveitamento das chances criadas (atrás do Fenerbahçe). De suas 196 chances, 36 confirmaram-se como gols.

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Seus outros destaques são o lateral esquerdo Ziya Erdal, de 26 anos, que marcou um gol e deu quatro assistências em 16 jogos, e, como Cicinho, tem forte vocação ofensiva; o capitão Kadir Bekmezci, volante responsável pela contenção e que apresenta, além de uma forte marcação, boa saída de bola e o zagueiro Manuel da Costa, nascido na França, com origens marroquinas e que defendeu as seleções de base de Portugal. Ex-atleta do Lokomotiv Moscou, ele anotou incríveis seis gols em 17 partidas.
Também merecem menção o artilheiro da equipe, Aatif Chahechouhe, que marcou 12 gols e deu quatro assistências em 20 jogos, e o winger Aydin Karabulut, ex-Besiktas, que atua no lado esquerdo e é o jogador mais habilidoso da equipe.
Com um orçamento infinitamente inferior ao dos três grandes, o Sivasspor está na quarta colocação do campeonato, atrás apenas de Fenerbahçe, Galatasaray e Besiktas. Nove pontos o separam do líder e quatro do Besiktas, terceiro colocado. Seu ataque é o 4º mais poderoso da competição e sua defesa a 6ª melhor.
O primeiro trabalho de Roberto Carlos tem saído, até o momento, melhor do que a encomenda. Pode ser sorte? Sim, mas não parece. Seu time mostra claramente um padrão tático e seus jogadores têm evoluído. Nenhum craque, mas bons valores. Além de Cicinho, o brasileiro Pedro Oldoni também atua na equipe.
Roberto não confirma o que acontecerá no seu futuro imediato, ao final da temporada. Pode permanecer na Turquia ou mudar-se para o futebol espanhol. O pentacampeão confirma já ter conversado com outras equipes e poderá, quem sabe, entrar para o seletíssimo grupo de treinadores brasileiros bem sucedidos na Europa. No presente, uma vaga na Liga Europa já seria um feito imenso para o Sivasspor e para Roberto Carlos, o novo-velho xodó brasileiro na Turquia.