Nemanja Matić, o pilar invisível do United de José Mourinho

AOS 29 ANOS, bicampeão inglês e estabelecido no cenário do futebol internacional, o meio-campista Nemanja Matić não chama a atenção. Evidentemente, com 1,94m de altura, o sérvio não passa despercebido, mas sua contribuição costuma ser subestimada, ofuscada pela estrela de seus companheiros. No entanto, a sólida campanha do Manchester United na Premier League 2017-18 passa, diretamente, pelos pés seguros de seu camisa 31.

Nemanja Matic Manchester United

Foto: Getty Images

A relação de Matić com o treinador do clube mancuniano, José Mourinho, é antiga. Foi o português que requisitou seu retorno ao Chelsea, nos idos de 2014. Ele passara pelo clube londrino bem no início de sua carreira, mas seu talento só foi desenvolvido durante uma proveitosa passagem pelo Benfica — envolvido na negociação que levou o brasileiro David Luiz aos Blues.

O início de uma relação frutífera em Londres

Matić havia deixado Stamford Bridge pela porta dos fundos, quase anonimamente. Voltou causando um impacto de 25 milhões de euros no orçamento do Chelsea, bancado pelo comandante, que chegou a declarar publicamente que o meio-campista era “nosso melhor jogador”. Isso em um time que contava com a qualidade de Eden Hazard e Diego Costa.

Mou não falava apenas de habilidade com a bola nos pés. Seu discurso não era sobre gols, assistências ou dribles, tratava de estabilidade e segurança. Especialmente no título da Premier League da temporada 2014-15, Matić foi um monstro. Importante na recuperação, manutenção, gestão e destinação da bola, foi o coadjuvante perfeito; forjou-se a barreira invisível que colocou em evidência as assistências de Cesc Fàbregas, os dribles de Hazard e os gols de Costa.

Apesar do sucesso, 2015-16 foi um ano atípico para o Chelsea e o sérvio. Eles não mantiveram o nível, Mourinho perdeu o emprego e os personagens ficaram afastados por uma temporada e meia. Nesse ínterim, o italiano Antonio Conte assumiu as rédeas dos azuis de Londres e os conduziu a mais um título nacional. Matić foi novamente crucial.

Matic Chelsea José Mourinho

Foto: Stu Forster/Getty Images

José assumiu as rédeas do Manchester United e, enquanto o Chelsea ganhava o Campeonato Inglês, o treinador passava por dificuldades. Seus dois contratados mais importantes, Paul Pogba e Henrikh Mkhitaryan, não entregaram a qualidade esperada. Foi comum ver o time jogar com três meio-campistas, com Ander Herrera e Marouane Fellaini se juntando a Pogba, em prol da consistência.

A necessidade de mudanças em Manchester

Houve poucos resultados: os Red Devils tiveram a segunda melhor defesa da competição ao custo de terem apenas o oitavo ataque mais prolífico do certame, serem o time que mais empatou, com 15 partidas em igualdade, e terminar na insossa sexta colocação. A estabilidade não poderia vir a esse preço. Então, o comandante do clube mancuniano foi atrás de seu fiel escudeiro.

Se havia feito a direção do Chelsea gastar 25 milhões de euros em 2014, Mourinho convenceu o comando do Manchester United a desembolsar mais 20, em 2017. Com N’Golo Kanté em grande forma, o clube londrino entendeu que era uma boa oportunidade e deixou o meio-campo sérvio partir para um rival direto na disputa pelas primeiras posições da Premier League.

Paul Pogba Manchester United

Foto: Gareth Copley/Getty Images

Muitas críticas podem e têm sido feitas à gestão de Mou em Old Trafford. Mas a chegada de Matić é um aspecto que não pode ser colocado em xeque. Exceção ao goleiro David De Gea, o volante é a peça mais importante da boa temporada que os Red Devils fazem. A despeito das críticas feitas ao modo com que o United joga, é impossível dizer que um time que soma 62 pontos e ocupa a vice-liderança em seu campeonato nacional, passadas 29 rodadas, é ruim.

O discreto e fundamental impacto de Matić

Tudo isso passa pelos pés de seu camisa 31. São suas as chuteiras que mais tocam na bola durante os jogos do Manchester United — em média 71 vezes por jogo, tendo o atleta jogado todos os jogos da Premier League. Outro ponto que demonstra sua importância é o fato de que apenas os defensores Mathias Jørgensen e Christopher Schindler, ambos do Huddersfield Town, têm mais interceptações do que Matić.

No final de janeiro último, em entrevista ao Sport 360º, seu compatriota e ídolo do Manchester United, Nemanja Vidić, resumiu bem Matić: “Ele é calmo com a bola, dá estabilidade à equipe e controle no meio do campo”.

Matic heat mapMapa de calor de Matic na partida contra o Chelsea (26/02)

Foto: Reprodução/Whoscored.com

Sempre postado à frente da primeira linha de defensores, o sérvio se tornou uma referência. Ajuda a tirar os zagueiros de situações de perigo e dá-lhes segurança para eventuais avanços. Com frieza, trabalha bem a saída de bola e, eventualmente, ainda faz a cobertura dos laterais. Os defensores e meio-campistas que ficam ao seu redor sabem que, se as dificuldades vierem, Matić estará bem posicionado para livrar-lhes a cara.

Enquanto estrelas como o criticado Pogba, De Gea, Romelu Lukaku ou Alexis Sánchez chamam os holofotes do estádio Old Trafford, o camisa 31, semana após semana, mantém o ritmo do time. Seu trunfo não são os gols. Ele até os marca, como na vitória contra o Crystal Palace, mas não são sua maior contribuição. Matić é o muro invisível do United, um pilar imprescindível para os planos do treinador José Mourinho.

Wladimir Dias

Idealizador d'O Futebólogo. Advogado, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Escrita Criativa. Mestre em Ciências da Comunicação. Colaborou com Doentes por Futebol, Chelsea Brasil, Bundesliga Brasil, ESPN FC, These Football Times, revistas Corner e Placar. Fundou a Revista Relvado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *