Há espaço para Jorginho na seleção italiana?

ATÉ POUCO TEMPO se especulava qual camisa de seleção o meio-campista catarinense Jorginho vestiria. O jogador do Napoli já envergara o manto da Itália em partidas amistosas, o que deixava em aberto a possibilidade de ser chamado à Canarinho. Mesmo tendo Casemiro, Fernandinho e Paulinho como certezas para as posições de volante, havia expectativa por um chamado de duas peças fundamentais aos Partenopei, o ex-vascaíno Allan e Jorginho. Nenhum deles ganhou oportunidade com o treinador Tite. Porém, o último não teve tempo para lamentar, foi lembrado pelo treinador Giampiero Ventura e, oficialmente, vai representar a seleção italiana.

Jorginho Napoli

Foto: Francesco Pecoraro/LaPresse

Justificava-se que o ítalo-brasileiro não era chamado a defender a Azzurra por não se encaixar na proposta de jogo intentada por Ventura. No início de outubro, à rádio Kiss Kiss, seu empresário, João Santos, garantiu ser essa a realidade. O meio-campista permanecia aberto às possibilidades e aceitaria defender o escrete pentacampeão mundial. O fato de ter dito anteriormente que sonhava em representar a Itália não mudaria tal realidade – mesmo porque  Jorginho vinha sendo ignorado por ambas as equipes nacionais.

A constante ausência do atleta, hoje com 25 anos, causava espanto. Ainda que tenha alternado momentos brilhantes com atuações irregulares, Jorginho possui qualidades que nunca foram subestimadas. A acurácia nos passes, capacidade de, vindo de uma posição interior, propor o jogo, encontrar espaços e fazer a bola rodar são seus dferenciais; Maurizio Sarri, técnico do Napoli, que o diga.

Chamar Jorginho de volante é limitá-lo. Melhor é lhe atribur a posição de meio-campista; é a forma mais genérica, mas também a mais completa. O ítalo-brasileiro, que tantos recordes de maior número de passes por partida tem quebrado no futebol italiano, é fundamental ao Napoli. Ele é de longe o jogador com maior número de passes por jogo em média na Serie A italiana — entre os 10, seis são napolitanos.

Jorginho Napoli

Foto: Reprodução

Os dados apontam a oferta média de 111 toques por jogo, com 92,3% de aproveitamento. Além disso, mesmo seu time controlando a posse em quase todas as partidas (tem a maior média de posse do Campeonato Italiano, 61,8%), o atleta tem 1,2 desarmes por jogo e 1,4 interceptações. É, pois, também eficaz na recuperação da redonda. Ainda assim, talvez sua grande qualidade seja também sua maior fraqueza quando o assunto é o futebol de seleções.

Para se destacar, Jorginho precisa atuar em uma equipe que preze pela gestão da bola e que se permita jogar com um construtor de jogo como eixo do meio-campo e não um destruidor. Imagine-se um cenário em que a Espanha do período entre 2008-2012 não se apoiasse no jogo construído por Pep Guardiola no Barcelona. Teriam Xavi, Xabi Alonso ou Sergio Busquets se destacado tanto?

Na Canarinho, Tite alinha o meio-campo com Casemiro e Paulinho; Fernandinho é a alternativa imediata. Como encaixar Jorginho? Faltam-lhe o físico de Casemiro e Fernandinho — também úteis na saída de bola — e o poder de infiltração de Paulinho. Embora o passe seja sua grande força, para obter a máxima eficiência precisa vir de trás, razão pela qual também não competiria com Renato Augusto.

O treinador já definiu, com sucesso, a cara de sua equipe e ela não tem lugar para Jorginho. Perdeu o Brasil?

Análise semelhante é a que se faz no contexto da seleção italiana. O 4-4-2 (que varia para o 4-2-4) que Giampiero Ventura utiliza (e que também prejudica outro napolitano, Lorenzo Insigne) obriga a utilização de meio-campistas melhores na destruição.

Já tendo em Marco Verratti um mestre do passe e alguém superior na recuperação de bola, torna-se difícil acomodar Jorginho. Em uma estrutura com dois volantes, habitualmente completada pela presença do experiente Daniele De Rossi, o encaixe do ítalo-brasileiro também fica dificultado. Entretanto, esse time ainda não se acertou. Ainda são possíveis testes e não se descarta a possibilidade de uma nova formação.

Verratti Daniele De Rossi Italy

Foto: Getty Images

Caso Ventura procure utilizar um trivote, Jorginho entraria para o baralho. Foi esse o sentido da mais recente entrevista concedida pelo comandante da Azzurra: “Teremos dois jogos complicados e é bom estar aberto a várias e diferentes formas de se jogar. Para ir à Copa do Mundo, não podemos ter apenas um sistema”, disse ao La Domenica Sportiva.

A imprensa italiana avalia a possibilidade de o treinador alternar a escalação de sua equipe para o 3-5-2 ou o 4-3-3, este último podendo servir para a afirmação de Jorginho na equipe, por trás de Verratti e Daniele De Rossi — como no Napoli, habitualmente com Marek Hamsik e Allan.

Finalmente parece definida a lealdade internacional esportiva de Jorginho. Chamado a defender a Itália nas partidas da repescagem classificatória para a Copa do Mundo de 2018, contra a Suécia, deve atuar e deixará de ser oportunidade para a Seleção Brasileira. Não há ninguém com suas capacidades no radar de Tite, mas suas características não têm lugar com o comandante. A Itália, que ainda precisa evoluir, pode sair ganhando.

Wladimir Dias

Idealizador d'O Futebólogo. Advogado, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Escrita Criativa. Mestre em Ciências da Comunicação. Colaborou com Doentes por Futebol, Chelsea Brasil, Bundesliga Brasil, ESPN FC, These Football Times, revistas Corner e Placar. Fundou a Revista Relvado.

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