Marseille: a reconstrução de um gigante na França

Em mais de 60 anos de história, a
famosa taça da UEFA Champions League somente chegou às mãos de um clube francês
e em apenas uma ocasião. A despeito da polêmica que conduziria à
impossibilidade de disputa do Intercontinental e ao rebaixamento em solo
nacional, o Olympique de Marselha conseguiu na temporada 1992/93 o inédito. No
entanto, nos últimos anos, o time, que é o segundo maior vencedor da Ligue 1,
viu-se subjugado pelas ascensões de Lyon e PSG, só tendo conquistado um título
francês no presente século. Após mais uma temporada decepcionante em 2015/16, tenta
se reerguer.

A temporada pós-Bielsa

A última vez que os marselheses
puderam soltar o grito de campeão nacional ocorreu na já distante temporada
2009-10. Desde então, viram os “azarões” Lille e Montpellier conquistarem o
troféu mais importante do país e pior: foram espectadores passivos da
arrasadora ascensão de um endinheirado PSG. O segundo lugar obtido em 2012/13
pode até dar a impressão de que o time esteve perto da conquista, mas os 12
pontos de desvantagem em relação ao rival parisiense são suficientes para desmistificar
a questão.
Na temporada seguinte, a sexta colocação (29 pontos atrás do líder e fora da zona de classificação para qualquer
competição europeia) indicou a necessidade de mudança e o clube foi arrojado.
Para comandar um time com nomes promissores e até selecionáveis, chegou Marcelo
Bielsa, credenciado por um trabalho brilhante à frente do Athletic Bilbao.

Em um primeiro momento, o time
que possuía como grandes destaques o goleiro Steve Mandanda, os talentosos meias
Dmitri Payet e André Ayew e o centroavante André-Pierre Gignac – além de jovens
promessas como Michy Batshuayi, Gianni Imbula e Florian Thauvin –, começou
muito bem.

Nas primeiras 10 partidas da
competição, o recorde foi animador: oito vitórias, um empate e uma derrota.
Todavia, vieram os desgastes do treinador com alguns atletas e duas fases
crucialmente ruins, com uma sequência de empates em meados da competição e
outra de derrotas ao final. A quarta posição foi decepcionante e Bielsa não permaneceu
no comando dos Phocéens. Não havia
mais clima.

Marcelo Bielsa Marseille

A aposta seguinte foi na figura
do espanhol Míchel, que vinha de sucessivos e representativos sucessos no
Olympiacos. Na Grécia, havia sido tricampeão nacional com números respeitáveis:
em 90 partidas, acumulou 64 vitórias e 11 empates, perdendo apenas 15 encontros.
Sua sorte, contudo, não foi encontrada no sul da França.

Detentor da incumbência de
conduzir um time que perdera Payet, Thauvin, Imbula, Ayew e Gignac, tendo
recebido como contratações importantes o meia argentino Lucas Ocampos, os
zagueiros Karim Rekik e Rolando, o polivalente chileno Mauricio Isla, o bom
volante Lass Diarra, o brasileiro Lucas Silva e o habilidoso Rémy Cabella, o
treinador não conseguiu coordenar a equipe; o time chegou a flertar com a zona de
rebaixamento e novamente foi noticiada a presença de problemas entre comandante
e comandados.
A pressão foi grande e se tornou
insustentável em algum momento, o que culminou com a saída do treinador e o
ingresso do interino Franck Passi. Míchel terminou sua passagem com 46 jogos
disputados, 17 vitórias, 17 empates e 12 derrotas. Pouco, muito pouco para um time
da magnitude do Olympique.

Nova direção

Veio a temporada 2016-17 e com
ela mudanças significativas na esfera administrativa do clube. Os investimentos
para a temporada foram poucos, mas não foram o assunto que mais rendeu
comentários nos últimos meses. Nem mesmo as saídas de importantes jogadores,
casos de Batshuayi, Benjamin Mendy e Mandanda, foram capazes de causar tanto
impacto quanto a venda do clube.

“Hoje, um novo capítulo é aberto na grande história do Olympique de
Marselha (…) Vamos colocar o clube de volta no caminho das glórias”
.

Essas foram algumas das palavras do empresário norte-americano Frank McCourt durante a entrevista
coletiva
em que anunciou a compra do clube, por €45 milhões. Além disso, o
milionário fez a promessa de investimento de €200 milhões na equipe, para as
próximas quatro temporadas. O cenário de mudanças continuou
sendo desenhado e o clube fez movimentos importantes nos últimos tempos.


Aposta em Rudi García

Apontado como um dos grandes
responsáveis pelo título do Lille em 2010-11, o treinador Rudi García (foto) ganhou
muito respeito no mundo do futebol recentemente. Desde a temporada em que
levou Eden Hazard, Gervinho, Yohan Cabaye e cia à conquista da Ligue 1, o
comandante passou a ser reconhecido por sua capacidade como organizador de
equipes capazes de desenvolver um jogo rico em possibilidades e de veia
notoriamente ofensiva. Foi assim no Lille e, na sequência, na Roma, equipe em
que teve o azar de concorrer com uma Juventus que se confirmaria hegemônica.
Essas são as credenciais do
escolhido para conduzir esportivamente o renascimento do Olympique de Marselha.
Curiosamente, é contra outra esquadra hegemônica, o PSG, que García terá que se
desdobrar para alcançar o sucesso. Sua missão será dificílima. Há muitos cacos
a serem juntados.

Rudi García Olympique Marseille

“Suas habilidades como líder foram reconhecidas em algumas ocasiões:
quando conduziu o Lille ao título da Ligue 1 e ao da Copa da França em 2010-11;
quando levou a Roma a desempenhar papel importante no cenário internacional em
suas duas primeiras temporadas como o clube; ou quando venceu o prêmio de
treinador francês do ano em 2011, 2013 e 2014”
, disse
McCourt sobre o treinador
.

Há talento a ser explorado no
elenco do OM e García, de fato, aparece como uma alternativa bem estudada para
a missão que enfrentará. Tendo hoje no capitão Lass Diarra seu jogador mais
confiável (figura semelhante à de Rio Mavuba em seu tempo de Lille), o
comandante terá a missão de extrair o máximo de peças como Cabella e Thauvin,
além do centroavante Bafetimbi Gomis, a maior referência ofensiva do time.
Outras figuras que poderão se
beneficiar da chegada do francês são os jovens zagueiros Rekik e Dória, que não
foram baratos e ainda hoje não justificam o investimento feito. Rudi García é conhecido por trabalhar bem com jogadores de pouca idade. É esperada,
igualmente, alguma movimentação do time no próximo mercado de transferências,
no inverno europeu.

A responsabilidade de Zubizarreta

Além de García, outro nome
pinçado a dedo para conduzir o Olympique ao renascimento foi o do basco Andoni
Zubizarreta, contratado para o cargo de diretor esportivo do clube.
Aos 55 anos, o ex-goleiro da
Seleção Espanhola acumula a experiência de ter exercido tal função no Athletic
Bilbao, entre 2001 e 2004, e no Barcelona, no interregno entre 2010 e 2015. O
diretor terá a responsabilidade de prover a Rudi García a munição necessária
para que o clube possa retomar os anos de glórias.

“O Olympique tem um grande coração, uma grande alma futebolística,
da mesma forma que o Athletic Bilbao e o Barcelona. Em Marselha, há uma grande
paixão nos torcedores. É uma grande oportunidade para mim”
,
disse Zubi, em
sua apresentação
.

É evidente o fato de que o
Olympique de Marselha está tentando se recolocar no topo do futebol francês. No
entanto, a chegada de Zubizarreta é uma aposta. Vale lembrar que ao basco foi
atribuída responsabilidade pelas fracassadas contratações de Douglas e Thomas
Vermaelen pelo Barça e por outras falhas no planejamento do elenco catalão. Além disso, quem garante que,
verdadeiramente, será feito o investimento prometido pelo novo proprietário da
agremiação?

Entretanto, como no futebol não
há negócio que não envolva risco, as mudanças por que vem passando o clube
francês podem ser vistas com bons olhos, para além de serem inevitáveis, no
sentido de evitar um apequenamento ainda maior da esquadra marselhesa. Certo mesmo é o fato de que os
próximos capítulos da rica história do clube prometem ser interessantes.

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