Improvável e espetacular: a recuperação do Werder Bremen
NÃO FAZ MUITO TEMPO que, às margens do Rio Weser, a cidade de Bremen vivia euforia com o futebol. Durante um bom tempo, o Weserstadion foi sinônimo de espetáculo. O Werder Bremen disputava títulos, nacional e internacionalmente; os torcedores sorriam com a letalidade do trio formado por Aílton, Ivan Klasnic e Johan Micoud, o refino técnico de Diego e a genialidade de Mesut Özil. Esse tempo acabou. Contudo, a temporada 2016-17 trouxe motivos para que o adepto Werderaner possa sonhar com o reerguimento de seu clube. Não parecia que assim seria quando começou a campanha, porém.

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Do caos à dúvida: um início preocupante
Após lutar contra o descenso em 2015-16, somando apenas cinco pontos a mais do que o rebaixado Stuttgart, o Werder Bremen apresentou novidades interessantes para seu torcedor. Se perdeu Jannik Vestergaard e Anthony Ujah, firmou contrato com os selecionáveis Max Kruse e Serge Gnabry, além de apostar na segurança de Niklas Moisander, ex-Ajax e que estava na Sampdoria. Se tais negócios não traziam a certeza de tempos tranquilos, ao menos alentavam um coração já carente de sucessos.
Como havia se safado da 2.Bundesliga, o clube entendeu que era válido apostar na continuidade de Viktor Skrypnyk no comando da equipe, pelo que havia feito e por sua identificação com o clube (como jogador disputou mais de 150 jogos pelo time). Entretanto, bastaram três derrotas na Bundesliga – o que inclui um massacre do Bayern de Munique por 6 a 0 – e uma eliminação precoce na Copa da Alemanha para o fraco SF Lotte, da terceira divisão, para que o treinador caísse.

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Era ainda setembro de 2016.
A batata quente caiu nas mãos do jovem e inexperiente Alexander Nouri. Ex-atleta de carreira obscura e antigo treinador do Werder Bremen II, o comandante de 37 anos foi chamado. Seria apenas interino, mas, como a frase sugere, foi efetivado. Todavia, ao contrário do que parece, seu início de trajetória foi recheado de percalços e dúvidas. Não se entendia bem por qual razão a direção do clube entregara o comando Werderaner àquele qualquer. Simples: não se tratava de um qualquer.
Gols, lesões e esperança: o renascimento em campo
Em sua estreia, Nouri nada pôde fazer para evitar derrota contra o Mainz 05. Não obstante, as coisas pareceram voltar a seus eixos quando, nas três partidas seguintes, conseguiu duas vitórias e um empate, somando os primeiros sete pontos da temporada. Foi nesse momento em que o interino foi afirmado como o técnico que conduziria o Werder até o final da temporada. As perspectivas eram poucas: não lutar contra o rebaixamento já parecia um lucro muito grande.
Apesar disso, o time voltou a viver enorme instabilidade e o vínculo do treinador ficou, em mais de uma ocasião, perto de seu fim. Logo após os mencionados três jogos, veio uma sequência de quatro derrotas. Até ali, a única notícia positiva era o desempenho fulgurante de Gnabry, que chegara do Arsenal on fire. Em seus primeiros 10 jogos pelo clube, marcou quatro vezes e ofertou uma assistência. Por outro lado, Kruse, a outra esperança do torcedor estava fora, lesionado.
Em vários momentos, a direção do Werder foi a público reafirmar a confiança no trabalho de seu técnico, o que, como se sabe, no mundo da bola, costuma não dizer muita coisa. Mas, nesse caso, fez total diferença. Após a segunda sequência de quatro derrotas, seguiu-se um período de relativa calmaria: nas cinco partidas seguintes, o time empatou três vezes e venceu as outras duas.
A equipe parava de perder, mas ainda estava perigosamente perto da zona do rebaixamento. O que se viu a seguir foi ainda mais dramático.

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Onze jogos, uma virada
Novamente, o clube sofreu sequência de quatro derrotas. Nesse período, Kruse já havia voltado e começava a mostrar que as capacidades mostradas com a camisa do Borussia Mönchengladbach ainda existiam após uma temporada fraca pelo Wolfsburg e o protagonismo de algumas polêmicas. O selecionável alemão marcara seus primeiros gols por seu novo time. Vale mencionar, igualmente, que as derrotas já não eram pesadas, todas se confirmaram pela margem mínima de um gol.
A partir de então, tudo mudou. O time acabou finalmente se acertando em um esquema com três defensores: normalmente, o jovem Milos Veljkovic e os experientes Moisander e Lamine Sané, ex-Bordeaux. Dessa forma, os jogadores de maior destaque da equipe cresceram e a transformaram na grande história do segundo turno da Bundesliga.
Mesmo tendo perdido Gnabry lesionado por algumas rodadas, o time emplacou uma sequência de 11 partidas de invencibilidade (9V e 2E). Não só se afastou da zona de rebaixamento como se aproximou da luta por uma vaga em competições europeias. Nesse período, o experiente Clemens Fritz, remanescente da “era de ouro” do time, machucou-se. O talentoso meia austríaco Zlatko Junuzovic assumiu a braçadeira de capitão do time e voltou a mostrar ótimo desempenho.
O resultado não poderia ser outro: Kruse desandou a marcar gols. Nas rodadas de invencibilidade, o goleador foi às redes 10 vezes e ainda criou cinco assistências.

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Nouri transformou um time medroso, passivo e sem reação numa esquadra confiante em seu próprio potencial, disciplinada e coletivamente consistente. Ganhou-se solidez defensiva e eficiência em contragolpes mortais. Além dos jogadores já citados, cabe destacar a importância da contratação do meio-campista dinamarquês Thomas Delaney, que chegou em janeiro e ajudou a dar mais dinâmica ao jogo da equipe.
Os louros dessa remontada devem ser divididos em partes semelhantes para algumas figuras-chave. Ex-ícone do clube dentro dos campos, o diretor Frank Baumann foi fundamental na manutenção de Nouri que, por sua vez, mostrou enorme habilidade para ressuscitar velhos talentos, os quais conseguiram transformar suas qualidades potenciais em realidade.
O Werder caminha para um final de temporada tranquilo e ainda pode ter alguma surpresa positiva.