Fim da linha para Abou Diaby no Arsenal
HÁ QUASE UMA DÉCADA, no dia 13 de janeiro de 2006, um promissor e talentoso meio-campista francês desembarcou em Londres, onde defendeu as cores do Arsenal. Aos 19 anos, Abou Diaby chegou aos Gunners cercado de expectativas, tendo custado aproximadamente 2 milhões de euros junto ao Auxerre. À época, foi disputado por Arsène Wenger e José Mourinho, que pretendia levá-lo ao Chelsea.
Profissional desde os 18 anos, Diaby chamou a atenção do grande público no Campeonato Europeu Sub-19 de 2005, quando conquistou o título representando Les Bleus, juntamente com outros ótimos nomes de uma geração interessante, tais como Yohan Cabaye, Yoann Gourcuff, Younes Kaboul e Hugo Lloris.
“Ele é um meio-campista muito forte e mostrou grande potencial em seu tempo no Auxerre”, disse Wenger na apresentação de Diaby.
Sua estreia pelos Gunners aconteceu no dia 21 de janeiro de 2006, em derrota contra o Everton, ocasião em que o jovem Diaby substituiu o experiente Robert Pirès. Rapidamente, o jogador começou a se adaptar e no mês seguinte já representou o Arsenal na Liga dos Campeões, entrando no segundo tempo de uma vitória dos ingleses contra o Real Madrid.
Apesar disso, pouco tempo depois, em 29 de abril, no segundo minuto dos acréscimos do segundo tempo de uma partida contra o Sunderland, ocorreu o fato que marcou todo o restante de sua trajetória no Arsenal. Após sofrer entrada criminosa de Dan Smith, à época lateral esquerdo dos Black Cats, o francês sofreu uma fratura gravíssima na perna e nunca mais voltou a ser o mesmo jogador. Seu promissor talento, suas passadas largas e sua elegância passaram a servir exclusivamente ao departamento médico do clube londrino.
Após o dramático acontecimento, Diaby ainda voltou a representar o Arsenal, regularmente, em três temporadas — 2007-08, 2008-09 e 2009-10, sua melhor, quando compartilhou o meio-campo com Cesc Fàbregas e Alex Song.
Durante seus dias de glória no Emirates Stadium, Diaby chegou a ser comparado a Patrick Vieira, o que sempre foi um exagero (que o próprio jogador reconheceu), mas que não deixa de demonstrar sua qualidade dentro das quatro linhas.
“Penso que talvez eu seja mais ofensivo, um jogador mais técnico. O Vieira é muito mais agressivo, ele traz um impacto físico ao jogo muito maior, no meio-campo. Ele é fantástico. Não penso que tenho sua qualidade ainda. Penso que posso me desenvolver nesse sentido, mas ele é muito mais forte. Com a bola, somos diferentes, no Auxerre, por vezes, atuei como segundo atacante e, por essa razão, é mais natural para mim ir à frente. Mas eu aceito que preciso ser mais agressivo e físico. Eu posso desarmar. Eu penso que posso, de qualquer forma. (…) Sou ambicioso. Amo o futebol. Ele é minha paixão e eu quero me tornar um jogador de alta classe, o melhor que eu puder ser”, disse Diaby ao Daily Mail, em outubro de 2009.
A despeito de tudo isso, do bom futebol e das aspirações do meio-campista, as lesões passaram a integrar a maior parte de seus dias e o jogador terminou sua passagem pelo Arsenal de forma melancólica (ao todo, sofreu 40 contusões). Tendo em vista o talento que demonstrou em seu início e os bons momentos que chegou a viver no clube, Diaby merecia uma carreira melhor. Nas últimas duas temporadas, jogou apenas uma partida em cada uma.
Com o contrato vencido ao termo da recém-finda temporada 2014-15, Diaby viu as luzes do Emirates Stadium apagarem para si. No total, envergou o manto alvirrubro 180 vezes, marcando 19 gols e provendo 16 assistências. Além disso, o francês passa agora o bastão para Tomas Rosicky, que a partir da saída de Abou se torna o jogador mais longevo do time.
“Diaby é um jogador por quem tenho um enorme respeito. Toda vez, ele volta e começa do zero com uma nova lesão. Ele não é um atleta frágil. Ele foi vítima de uma entrada assassina, que não foi punida”, Wenger chegou a dizer em novembro de 2014.
Aos 29 anos, Diaby pode não estar acabado para o futebol, mas será necessário um grande grau de perseverança e amor pelo esporte caso decida continuar a carreira. Com uma trajetória tão conturbada quanto a sua, o francês vai precisar de muita paciência e sorte, aquele elemento que tanto lhe faltou nos últimos anos.