Eu acredito! O Galo conquista a América
TUDO O QUE ACONTECEU em 14 jogos da Copa Libertadores valeu a pena; 2013 se inscreveu indelevelmente nos livros de História. As buzinas, os foguetes, os gritos ao menor sinal das cores preta e branca confirmam a veracidade da sentença anterior. O atleticano não ama o futebol, ele ama o Atlético; trata-se de outro fato que não precisa ser posto à prova. No momento da conquista continental para o Alvinegro das Alterosas, tão esperada após uma sequência de anos difíceis que parecia interminável, a paixão ganha permissão para desaguar sua melhor faceta — até porque o roteiro da conquista foi cinematográfico e pode ser dividido em alguns atos.

Foto: Bruno Cantini
7: A água de Ronaldinho — Atlético 2 a 1 São Paulo
Belo Horizonte, Independência.
Foi o primeiro momento marcante da trajetória alvinegra. O reencontro do time com a Copa Libertadores, após 13 temporadas, aconteceu na quarta-feira de cinzas: reestreia do ídolo Diego Tardelli e jogo difícil contra o São Paulo. Eis que o lateral direito Marcos Rocha foi cobrar um arremesso lateral e vislumbrou Ronaldinho sozinho, atrás da defesa do São Paulo. O ala se lembrou de algo atípico: não há impedimento em cobrança de lateral. R10 estava bebericando goles d’água cedidos pelo goleiro contrário, seu amigo Rogério Ceni. Marcos viu a cena e acionou o craque. Este só teve o trabalho de centrar a bola para o primeiro gol do artilheiro da competição, Jô.

Foto: Bruno Cantini
6: A expulsão do zagueiro Lúcio — São Paulo 1 a 2 Atlético
São Paulo, Morumbi.
Depois de se encontrarem na fase de grupos, Galo e Tricolor voltaram a se ver nas oitavas. O placar assinalava 1 a 0 para os paulistanos, gol do meio-campista Jádson. Então, o veterano zagueiro Lúcio, como Ronaldinho pentacampeão do mundo em 2002 pela Seleção Brasileira, protagonizou um lance de inexperiência. Errou o tempo de bola, acertou um chute no garoto Bernard. Foi expulso. As coisas ficaram mais fáceis para os mineiros que alcançaram a virada, gols de Ronaldinho e Diego Tardelli. A classificação às quartas se encaminhou, a partir de mais um momento emblemático.
5: A entrada de Luan no México — Tijuana 2 a 2 Atlético
Tijuana, México, Caliente.
Encarando as dificuldades de jogar num gramado sintético, o Galo contou com a iluminação de seu talismã, o Luan. O menino maluquinho entrou no segundo tempo e, no apagar das luzes, garantiu o justo empate por 2 a 2. Era a partida de ida das quartas de finais e o Atlético retornou ao Brasil com dois valiosos gols fora de casa.
4: O apagão — Atlético 2(3) a 0(2) Newell’s Old Boys
Belo Horizonte, Independência.
Premeditado? Milagroso? Obra divina? Defina como quiser. O Atlético estava sendo eliminado da Libertadores pelos argentinos do Newell’s Old Boys, até que um lado dos refletores da Arena Independência se apagou e o jogo foi interrompido. O time estava, visivelmente, cansado e apático. Após alguns minutos, a luz voltou. Algo se acendeu também no interior dos atletas. Guilherme, um reserva que não era dos mais queridos pelo torcedor, marcou um milagroso gol. O gol foi para os pênaltis e o Galo venceu.
3: O gol de Guilherme — Atlético 2(3) a 0(2) Newell’s Old Boys
Belo Horizonte, Independência.
O sistema de som do Independência informou: “BWA Arenas informa, substituição no Atlético, sai Bernard, 11, entra Guilherme, 17”. Foi um anúncio desesperador. Tirar Bernard, um dos xodós da torcida, e apostar em Guilherme, tido como preguiçoso e que sofria críticas pelo passado no rival Cruzeiro, parecia o fim do mundo.
Mas ele, Guilherme, provou que tem brio, valor e, claro, qualidade técnica. Em seu primeiro lance, finalizou de perna esquerda e a bola saiu rente à trave; no segundo, bateu de primeira uma bola mal afastada pela defesa do NOB e, a partir de então, nunca mais deixou a memória do atleticano. Sem esse gol, a Glória Eterna não passaria de um devaneio.
2: O escorregão de Ferreyra — Atlético 2(4) a 0(3) Olimpia
Belo Horizonte, Mineirão.
O placar agregado indica uma vantagem de 2 a 1 para o Olimpia, que tem um contragolpe fatal aos 38 minutos do segundo tempo. O goleiro Victor sai do gol para tentar resolver o problema. Ele é batido e o gol está vazio, Réver não chegará a tempo de fazer a cobertura. Eis que o centroavante rival, Juan Carlos Ferreyra, El Tanque, escorrega e a defesa se recupera. Foi um milagre e nenhuma palavra descreveria melhor o ocorrido. Para o presidente do clube, Alexandre Kalil, seu pai já falecido e ex-mandatário do clube, Elias Kalil, foi o responsável pela façanha de algum lugar no além.
1: Os milagres de Victor — Tijuana 1 a 1 Atlético; Atlético 2(3) a 0(2) Newell’s Old Boys; Atlético 2(4) a 0(3) Olimpia
Belo Horizonte, Independência e Mineirão.
Duvier Riascos, Maxi Rodríguez e Herminio Miranda, de Tijuana, NOB e Olimpia, respectivamente, não esquecerão o goleiro Victor. Nunca.
Aos 47 minutos do segundo tempo, Leonardo Silva se atrapalha e comete pênalti. O jogo de volta contra o Tijuana tinha um clima estranho e as máscaras do pânico levadas pela torcida não ajudaram, pelo contrário. O Tijuana tem um pênalti e, se converter, avança. Riascos avança. Após a batida, o jogo vai acabar. Victor defende. Com o pé esquerdo. Pegou na veia — do arqueiro, claro. O 1 a 1 se consolida e o Galo passa.
Semanas depois, os pênaltis se apresentam para resolver quem irá para a decisão continental, Atlético ou Newell’s. O placar sinaliza o 3 a 2 para o Galo, ainda que Richarlyson e Jô tenham desperdiçado suas cobranças. Maxi Rodriguez, o craque dos argentinos, vai para a bola. Victor pega.
Ferreyra já escorregou, Léo Silva marcou o segundo gol do Galo e a prorrogação acabou. Os pênaltis, mais uma vez, vão decidir o destino alvinegro. É a vez de Miranda, o zagueiro, que fizera até um belo gol de falta na competição. Victor apontou para a sua direita e pegou mais uma cobrança. Ao final, assistiu de camarote a cobrança de Matías Gimenez na trave. Assim, o arqueiro virou santo.
A Campanha
- Jogo 1: Atlético 2 x 1 São Paulo (Belo Horizonte, Independência. Gols de Jô e Réver. Aloísio descontou)
- Jogo 2: Arsenal-ARG 2 X 5 Atlético (Sarandí, Júlio Grondona. Gols de Bernard (3), Tardelli e Jô. Furch e Aguirre descontaram)
- Jogo 3: Atlético 2 x 1 The Strongest-BOL (Belo Horizonte, Independência. Gols de Jô e Ronaldinho. Melgar descontou)
- Jogo 4: The Strongest-BOL 1 x 2 Atlético (La Paz, Hernando Siles. Gols de Tardelli e Mendes contra. Reina descontou)
- Jogo 5: Atlético 5 x 2 Arsenal-ARG (Belo Horizonte, Independência. Gols de Ronaldinho (2), Luan, Tardelli e Alecsandro. Braghieri e Benedetto descontaram)
- Jogo 6: São Paulo 2 x 0 Atlético (São Paulo, Morumbi. Gols de Rogério Ceni e Ademílson)
- Jogo 7: São Paulo 1 x 2 Atlético (São Paulo, Morumbi. Gols de Ronaldinho e Tardelli. Jádson descontou)
- Jogo 8: Atlético 4 x 1 São Paulo (Belo Horizonte, Independência. Gols de Jô (3), Tardelli. Luis Fabiano descontou)
- Jogo 9: Tijuana-MEX 2 x 2 Atlético (Tijuana, Caliente. Gols de Tardelli e Luan. Riascos e Martínez descontaram)
- Jogo 10: Atlético 1 x 1 Tijuana (Belo Horizonte, Independência. Gol de Réver. Riascos descontou)
- Jogo 11: Newell’s Old Boys-ARG 2 x 0 Atlético (Rosário, Marcelo Bielsa. Gols de Maxí Rodríguez e Scocco)
- Jogo 12: Atlético 2 (3) x 0 (2) Newell’s Old Boys (Belo Horizonte, Independência. Gols de Bernard e Guilherme)
- Jogo 13: Olímpia-PAR 2 x 0 Atlético (Assunção, Defensores Del Chaco. Gols de Alejandro Silva e Pittoni)
- Jogo 14: Atlético 2(4) x 0(3) Olímpia-PAR (Belo Horizonte, Mineirão. Gols de Jô e Leonardo Silva)
Artilheiros
- Jô: 7 gols (artilheiro da competição)
- Diego Tardelli: 6 gols
- Ronaldinho e Bernard: 4 gols
- Luan e Réver: 2 gols
- Alecsandro, Leonardo Silva, Guilherme: 1 gol