– Estás libertado, San Lorenzo!

Imagine
a dificuldade de viver à sombra das conquistas de um rival. Potencialize essa
dura realidade considerando serem cinco os rivais, todos detentores de uma grande
láurea que te falta. Acrescente a isso o fato de que até times que não integram
a lista dos gigantes de seu país já sagraram-se campeões. És o gigante sem a
glória maior. Espere! És mesmo gigante?

Club
Atlético Sin Libertadores de América é como o chamam? Pois bem, desde o
inolvidável dia 13 de agosto de 2013, o significado dessa pecha se esvaiu.
Indubitavelmente grande, o Ciclón está livre, pode comemorar. Como Atlético e
Corinthians, nos últimos dois anos, o San Lorenzo é o novo e inédito campeão da
Copa Libertadores.
Em
uma competição marcada pelo fracasso dos clubes brasileiros – campeões por quatro
anos seguidos com Internacional, Santos, Corinthians e Atlético – e pela ascensão
de equipes teoricamente menos fortes (casos de Defensor Sporting, Bolívar e
Nacional-PAR), o clube de Almagro, comandado por Edgardo Bauza, treinador da
LDU no título continental dos equatorianos contra o Fluminense, em 2008, foi,
aos poucos, se confirmando como favorito ao título. Apesar disso, sua
trajetória não foi fácil.

Abençoado
pelo Papa Francisco, membro supremo da Igreja Católica e ferrenho amante do Ciclón, o clube iniciou sua trajetória
em um grupo extremamente equilibrado, com Botafogo, Unión Española-CHI e
Independiente Del Valle-EQU. 



Nos seis jogos da fase inaugural, o San Lorenzo
não empolgou, somando somente a quantidade de pontos necessária para avançar às
oitavas de finais. Duas vitórias, dois empates e duas derrotas foram os
resultados dos Cuervos. O único jogo
destacável foi o derradeiro, o da classificação. Com todos os clubes com
possibilidades de classificação, os argentinos enfrentaram o Botafogo, em casa, e
dominaram por completo a partida. O resultado? Um inapelável 3×0 com destaque
para o meia-atacante Ignacio Piatti, autor de dois gols.

Com
muitas alterações de um jogo para o outro, a equipe de Almagro parecia ter
dificuldades para superar  a saída do
treinador Juan Antonio Pizzi, comandante da equipe no título do Torneio
Apertura 2013. Nem o ídolo e capitão, Leandro Romagnoli manteve-se
permanentemente titular. Entretanto, o clube foi se agrupando e começou a se afirmar como um virtual candidato ao tão desejado título continental.

Mal
classificado no ranking geral da primeira fase, o San Lorenzo encarou grandes dificuldades nas duas
fases que se seguiram. Primeiro, enfrentou o Grêmio. No Nuevo Gasómetro, seu
caldeirão, conseguiu uma vitória tangencial, 1×0 suado, obtido com gol de Ángel
Correa. 



Na volta, em Porto Alegre, sofreu muito para avançar às quartas de
finais. Pressionado durante o tempo regulamentar, viu o clube gaúcho devolver o
placar da ida e o jogo se encaminhar para as penalidades. Conferindo todas os
seus tiros, viu os “gringos” Maxi Rodríguez e Hernán Barcos desperdiçarem suas
cobranças. Avante, viria o mais difícil dos desafios: o Cruzeiro, atual campeão
brasileiro.

Nesta
altura, com as eliminações de todos os demais clubes brasileiros, já se
especulava que quem avançasse às semifinais seria, juntamente com o Atlético
Nacional (que, surpreendentemente  cairia
nessa fase), o grande favorito ao título. Novamente jogando a primeira partida
em casa, em função de sua má colocação na fase de grupos, o time do Papa foi
valente e cirúrgico. Outra vitória rasa, 1×0, gol do zagueiro Gentiletti em
bola alçada por Néstor Ortigoza – que se tornaria um dos heróis do título – à
área celeste. Na volta, elétrico, o Ciclón abriu o placar, em pleno e lotado Mineirão,
aos 10 minutos e viu o clube de Belo Horizonte lutar muito, mas de forma
desordenada. O empate mineiro ainda viria, mas esteve longe de ser suficiente.


efetivamente favorito, principalmente pelo fato de que todos os semifinalistas
lutavam por um título inédito, o San Lorenzo enfrentaria uma das grandes
surpresas da competição: o Bolívar, que trouxe um treinador espanhol e montou
uma equipe multinacional. 



Dessa vez, a parada foi mais fácil. Já sem Ángel
Correa, jovem promessa negociada com o Atlético de Madrid, o clube goleou. 5×0.
Nem a altitude seria capaz de tirar a vaga na final do clube de Almagro. Se
poupando, os argentinos levaram em banho maria o jogo de volta e perderam por 1×0. Na
final, enfrentariam o surpreendente Nacional-PAR, do atacante Fredy Bareiro,
que, em 2013, também foi à final, pelo Olimpia.

Franco
favorito, o time conheceu um novo e poderoso adversário: a ansiedade. Com o
título tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe, os jogos finais foram marcados
pela tensão. O gol do centroavante Mauro Matos garantiu um pouco de tranquilidade
até os acréscimos, quando, ressurgindo das cinzas, o clube paraguaio empatou o
jogo. O 1×1, sem o critério do gol marcado fora de casa, deixou tudo em aberto. 



No derradeiro jogo, sem Piatti, negociado com o Montreal Impact, o San Lorenzo
teve de enfrentar a ansiedade de jogadores e a tensão de seus torcedores, que
apoiaram incondicionalmente durante os 90 minutos de jogo.  Novamente truncado, o jogo não foi bonito e
nem sequer emocionante. O gol do título veio de pênalti. Ironicamente,
convertido por Ortigoza, um argentino naturalizado paraguaio.

No
fim das contas, o clube pode até ter contado com uma ajudinha divina, mediante
a intercessão do Papa Francisco, mas mereceu a conquista e fez por onde. Sem
ser brilhante, mas com dedicação impressionante, a equipe consagrou o esforço. A
garra demonstrada pelo volante Juan Mercier destaca bem a tônica do que foi a
competição para os Azulgranas.

Com
uma tonelada a menos em suas costas, o torcedor do San Lorenzo, tal qual um
preso que deixa sua prisão, está, finalmente, aliviado. A conquista da Copa
Libertadores – com o perdão da infâmia do trocadilho – foi libertadora. Nunca
mais o torcedor terá de lidar com a alcunha zombeteira de “Club Atlético Sin
Libertadores de América”. 



Agora, como Boca Juniors, River Plate, Racing Club e
Independiente outrora fizeram, o San Lorenzo
, indiscutivelmente
um gigante do futebol argentino, representa o continente e, com o
espírito apaziguado, pode se prepara para o final do ano, quando terá a dura
tarefa de embater o poderoso Real Madrid.

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