Emre Mor: ano difícil não põe fim às expectativas
A TEMPORADA 2016-17 se apresentou nebulosa para o Borussia Dortmund. Sem duas de suas principais referências, Mats Hummels e Ilkay Gündogan, que trocaram o aurinegro por Bayern de Munique e Manchester City, respectivamente, o clube recebeu jovens promessas e colhe frutos interessantes. De jogadores como Raphaël Guerreiro e Ousmane Dembélé já recebe resposta positiva; todavia, dos pés de um garoto turco se espera mais e assim é porque seu talento é indiscutível. O personagem em questão, evidentemente, é Emre Mor.

Foto: Reprodução
Talento precoce
Embora represente as cores da nação bicontinental, Mor nasceu e foi criado na Dinamarca. Aos 17 anos, já jogava profissionalmente e com destaque o Nordsjæland, de seu país natal.
Foi necessário pouco tempo para convencer os gigantes europeus que o garoto se tratava de uma grande estrela em potencial. Cientes disso, no verão europeu de 2016 – como lhes têm sido corriqueiro e peculiar – os aurinegros foram atrás do futebol do jovem. Por 10 milhões de euros, asseguraram os préstimos do turco por cinco temporadas.
De fato, o negócio pareceu bom para todos e, embora haja dúvidas atualmente, o jogador segue sendo visto como um diamante de raro brilho. Entretanto, é justamente o caráter incomum de sua qualidade que gera dúvidas quanto a seu futuro. Perto do final da temporada, Mor disputou apenas 691 minutos (18 partidas) pela esquadra do Vale do Ruhr; o equivalente a 7,6 partidas completas. Pouco, muito pouco.

Foto: Liselotte Sabroe/ Scanpix
Dificuldades de adaptação em Dortmund
Até o momento, a imagem que é associada ao jogador é a de um talento difícil de ser compreendido.
Não há como duvidar da intimidade com a qual ele trata a bola. Seu pé esquerdo é privilegiado; a velocidade e precisão com a qual conduz a redonda impressiona. Na mesma medida, contudo, percebe-se pouca (em algumas oportunidades nenhuma) objetividade em seus movimentos e gestos técnicos. Pairam dúvidas com relação a seu futuro: será um fantasista ou um craque?
Passado tão pouco tempo, tirar qualquer conclusão é precipitado, de forma que tais considerações se baseiam no histórico de outros jogadores, não tendo relação direta com o futebol de Emre Mor. O que é necessário de ser vislumbrado é que não são poucos os jogadores que sucumbem no futebol, mesmo possuindo talento acima da média.
A primeira temporada do turco no Borussia Dortmund é ruim – não só pela pouca eficácia de seu futebol. Uma expulsão contra o Hertha Berlim e, pouco depois, pequena sequência de lesões frustraram a evolução do garoto. Além disso, o desempenho fulgurante de Ousmane Dembélé o jogou ainda mais para escanteio.
Enquanto isso, Mor teve boas prestações pela Seleção Turca, na qual é cada vez mais absoluto. Inclusive, marcou na última partida da equipe contra a Moldávia.
É bom que se diga também que, a despeito de sua notória e notável individualidade, o garoto de 19 anos oferece duas assistências e marcou um gol naqueles exíguos 691 minutos, o que indica que nem só de dribles e enfeitadas vive a temporada de Mor.

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É cedo para desistir
Os aurinegros não têm precisado tanto de Mor e essa é outra explicação para sua pouca utilização. A questão que se impõe é: qual é a real impressão do treinador Thomas Tuchel com relação a seu prodígio? Como outros exemplos indicam (Christian Pulisic, Felix Passlack e até mesmo Mikel Merino), o mais provável é que o turco esteja sendo preparado para, aos poucos, ganhar importância no time. Isso é normal e reflete a forma como o Dortmund trabalha.
No próprio elenco há um jogador que passou por situação complicada, com dificuldades de adaptação, mesmo sendo também alemão e acostumado ao alto nível: Matthias Ginter chegou ao clube com o peso de ter participado do elenco campeão mundial em 2014, com a Mannschaft e, mesmo assim, sofreu para se integrar ao time. Hoje, é peça importantíssima para os planos de Tuchel.
Desde Jürgen Klopp, a força do jogo coletivo de pressão é uma das marcas do Borussia Dortmund e é essa a chave para a adaptação e integração (ou não) de Mor. Há muito o que ser assimilado pelo turco. No entanto, é plausível que o jogador evolua e venha a desfrutar de muitos anos de sucesso no Vale do Ruhr. Se o futebol presencia casos em que jogadores sem tanto talento vencem pelo esforço, Mor, com esforço, pode tonar seu talento sua principal força. Precisa querer.
Declarações como as dadas em meio à última Data FIFA, “o Dortmund é um dos melhores clubes do mundo. Estou aprendendo muito”, indicam indicar que o jogador está no caminho certo. É o que esperam os torcedores do Borussia Dortmund e, sobretudo, os amantes do futebol, já cansados de ver exemplos de jogadores que, a despeito de seu talento, tiveram carreiras medíocres.