Deschamps e a variedade de opções para o meio francês

A Seleção da França, sobretudo nas
últimas décadas, passou a viver uma realidade em que a mistura de jogadores de
distintas origens (mormente da África Saariana, Subsaariana e da própria
Europa) transformou a equipe em uma das melhores do mundo. Jogadores como
Zinedine Zidane e Patrick Vieira, de origem africana, atuaram com figuras
como Emmanuel Petit, por exemplo, e a resposta em campo foi fantástica. Embora hoje convivam com
alguns problemas extracampo, os franceses seguem com muitas opções, sobretudo
para o meio, que, no que depender de talento, é um dos melhores do mundo.

Volantes de pegada e qualidade


Para a função de cão de guarda, na contenção, o treinador francês
Didier Deschamps tem chamado, habitualmente, Lassana Diarra, comandante técnico
do meio-campo do Olympique de Marselha, clube em que é peça central na recuperação e distribuição de bolas, e Morgan Schneiderlin, que está jogando
menos do que o que dele se espera, mas vive temporada de adaptação no Manchester
United. Além deles, figuras como Maxime Gonalons, capitão e importante
influência do Lyon, e Joshua Guilavogui, atleta que vem evoluindo na
meia-cancha do Wolfsburg, receberam chamados recentes.
Todos estes jogadores possuem qualidade, embora sejam um pouco diferentes. Forte marcação e bom passe
são, todavia, características comuns a estes atletas, embora, sabidamente,
Gonalons seja o mais defensivo deles – atuando, inclusive, na zaga em algumas
ocasiões – e Guilavogui o mais ofensivo, sendo frequentemente utilizado na
saída de bola. Schneiderlin é o mais técnico e Lass o que combina melhor força
de marcação e qualidade com a bola.
Se somente estas fossem as opções
de Deschamps, já se poderia falar em um grande leque, mas há ainda outras
figuras que prometem colocar dúvidas na cabeça do treinador, dentre as quais
destacam-se duas que estão evoluindo no futebol inglês: Francis Coquelin, volante
que apareceu no Arsenal na temporada passada como último recurso e, com marcação
implacável, sendo um verdadeiro carrapato, assumiu a titularidade; e N’Golo
Kanté (foto), faz-tudo do meio-campo do Leicester City.

Leia também: Kanté, o melhor volante da Premier League 2015-2016

Como os demais, Coquelin e Kanté
são totalmente diferentes, mas possuem qualidades. Enquanto o primeiro guarda
mais sua posição, o segundo parece estar em todos os lugares, tamanha é sua
vitalidade. Deschamps não tem do que reclamar quando a questão é a marcação no
meio-campo dos Bleus.

Meias centrais e box-to-box com categoria e diferentes características


Para as posições imediatamente à
frente da contenção, Deschamps também tem muitas opções e aí os estilos são
ainda mais variados. Como figuras de elegância no trato da bola, carregando-a
com estilo e habilidade e distribuindo-a com eficácia, Les Bleus dispõem do talento de alguns jogadores, dentre os quais
os maiores expoentes são Paul Pogba e Geoffrey Kondogbia, ex-companheiros na
meiuca da Seleção Francesa Sub-20, campeã mundial em 2013.
Pogba dispensa maiores
apresentações, sendo atualmente o grande craque da Juventus. Por sua vez,
Kondogbia (foto), que representa a Inter de Milão, tem jogo parecido com o do meia da Juve, possuindo menos
requinte no trato da bola, mas maior poder de luta pela recuperação da mesma.
Embora nesta temporada não tenha ainda alcançado a forma que mostrou no Monaco,
é uma esperança para o futuro francês. Além dos dois, com característica
semelhante é possível mencionar Gianni Imbula, que, após passagem ruim pelo
Porto, está mostrando qualidades no Stoke City.

Com perfil distinto, possuindo no
passe seu diferencial, Yohan Cabaye e Adrien Rabiot são figuras que circulam
menos entre as duas áreas (de defesa e ataque), mas que fundamentalmente fazem
a bola correr e alcançar seu melhor destino. Embora tenham menos capacidades de
drible, têm mais visão de jogo e por isso são capazes de ditar o ritmo do
mesmo, sendo também úteis aos planos de qualquer treinador. Embora não tenha
grande movimentação, Cabaye rege o jogo muito bem. Rabiot tem mais capacidade
para circular no campo, mas ainda é (pois pode evoluir), menos brilhante nos
passes.

Além destes dois tipos de
meio-campistas, há ainda um terceiro, que se caracteriza pelo físico
incansável, o jogo de área-a-área e as infiltrações – aparecendo como elemento
surpresa e desconstruindo os setores defensivos rivais. Nesta categoria de
atletas, Deschamps tem como melhor opção Blaise Matuidi. Confortável mais pelo
lado esquerdo, o jogador parece ter mais de dois pulmões, como se nota por sua
resistência.
Além dele, outra figura que
mostra essas características – esta mais afeita ao jogo pela direita – é Moussa
Sissoko,
jogador menos talentoso que Matuidi, mas, mesmo assim, capaz de compor com
qualidade o meio dos Bleus.

Meias e wingers habilidosos

Neste ponto, há menos opções,
mas, ainda assim, Deschamps dispõe do talento de bons nomes. De plano, é
preciso ressaltar que não há nenhum “novo Zinedine Zidane” ou “novo Michel
Platini”. Não há ninguém tão cerebral. Nesse sentido, quem mais se aproxima desse
papel é Dimitri Payet, playmaker do
West Ham. Meia-atacante, o jogador tem extrema facilidade para colocar seus
companheiros na cara do gol e também para finalizar, como comprovam seus números na Premier League desta temporada. O francês é o terceiro jogador que mais criou ocasiões de gol do torneio, atrás apenas de Mesut Özil e Christian Eriksen.
Junto de Antoine Griezmann e
Hatem Ben Arfa, que após anos na Inglaterra, decidiu disciplinar-se e vem jogando futebol excepcional no Nice, Payet (foto) é o jogador francês de frente que vive melhor fase.
Ademais, os três são capazes de desempenhar papeis distintos no campo, atuando
pelo centro do meio, pelos lados e no ataque – sobretudo Griezmann. Figuras
para jogar por trás de um centroavante (Olivier Giroud, Alexandre Lacazette ou André-Pierre Gignac) não faltam, o que não se têm em grande
número são jogadores criativos.

Peças habilidosas, Deschamps
possui muitas, como são os casos dos jogadores supracitados e de outras figuras
como as de Kingsley Coman, que vem ganhando muito espaço no Bayern de Munique,
tendo bom desempenho e mostrando versatilidade, de Anthony Martial, a grande
surpresa e alegria na temporada do Manchester United, e até mesmo de Nabil Fekir,
jogador que sofreu grave lesão, mas encantou em 2014-2015.
Por fim, há o controverso caso de Samir
Nasri
. Este é um jogador habilidoso e criativo. No entanto, sua propensão para
criar polêmicas e gerar desgastes em elencos o torna peça não recomendada para
se ter em uma equipe. Em agosto de 2014, após não disputar a Copa do Mundo,
decidiu abandonar a Seleção Francesa, mas o que de fato impede o controverso jogador de
reconsiderar sua decisão e voltar a ser aproveitado?
Opções Deschamps tem. Como as
gerirá e trabalhará com alguns jogadores que vivem mau momento em seus clubes, a
despeito de seu sabido talento, são dúvidas que pairam no ar. Sem Karim Benzema, envolvido em polêmica com Valbuena e afastado por tempo indeterminado, outra questão é
saber quem destes jogadores poderá assumir protagonismo e levar a França
adiante. Possibilidades, o treinador possui, com diversas
características. Além disso, ainda é possível que uma peça importante no passado recente e
experiente recupere sua forma técnica e reforce Les Bleus: justamente o citado Mathieu Valbuena.

O certo é que um possível
insucesso francês na próxima Euro, cuja sede será justamente a França, não poderá
ser justificado pela falta de opções de meio, tanto ofensivo quanto defensivo, mas seu eventual sucesso pode se
dar pela variedade.

Sem Resultados

  1. Wladimir Dias disse:

    Muito obrigado, Filipy!

  2. Filipy Bebeto disse:

    Que artigo primoroso, Wladimir! Se superou! Um show de informação. Faltou só a famosa frase para definir o meio-campo francês "esses negros maravilhosos"…

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