Copa de 1998: terceiro lugar croata teve gosto de título
“Vitórias no futebol moldam a identidade de uma nação tanto quanto
guerras”, revelou Franjo Tudman, o primeiro presidente da Croácia
pós-separação.
1992 e da Copa do Mundo de 1994, em função de guerras civis, a Iugoslávia viu, no
início da década de 1990, suas melhores possibilidades de conquista de um título desvanecerem.
O brilhante time do Estrela Vermelha, que conquistou a Europa em 1991, e que era majoritariamente formado por jogadores iugoslavos, não pôde mostrar sua
qualidade em grandes competições de seleções. Além disso, a esfarelada nação teve que lidar com um golpe duro na sequência — o sucesso de um de seus braços
históricos mais fortes de toda a sua história: a Croácia, declarada independente desde 1991.
Prosinecki, Davor Suker, Zvonimir Boban, Igor Tudor, Dario Simic, Aljosa
Asanovic e Alen Boksic (que perderia a Copa do Mundo, lesionado), entre outros, a seleção croata se classificou para o Mundial de 1998. Após figurarem em segundo lugar no Grupo 1 das Eliminatórias Europeias, superados pela Dinamarca, nos playoffs, os Vatreni eliminaram
a Ucrânia, do craque Andriy Shevchenko. Assim, confirmaram-se a primeira nação-membro da antiga Iugoslávia a participar de um certame do mundo.
Eslovênia já participavam das qualificatórias para a maior celebração do futebol, mas fizeram má campanha. Por outro lado, os iugoslavos se classificariam também a partir de playoffs,
massacrando a Hungria: registraram um triunfo agregado de 12 a 1, na soma dos placares das partidas de ida e volta.
Sucesso anunciado
início de trajetória croata em Copas do Mundo. Dois anos antes da viagem à França, a equipe já havia
feito boa campanha na Euro 1996. Na ocasião, o país superou o Grupo D, deixando a Dinamarca, então campeã, e a Turquia, pelo caminho e ficando atrás, apenas, de Portugal.
Para azar dos calouros do Leste Europeu, a tradicional Alemanha (que viria a ser campeã) foi a adversária da
sequência. Os croatas caíram. De pé, entretanto. O magro 2 a 1 no placar,
construído com gols de Jürgen Klinsmann e Matthias Sammer, para os alemães, e
Davor Suker, para os croatas, deixava claro que apesar de novidade, a Croácia
havia chegado ao cenário do futebol internacional para ficar.
Prazer, Copa do Mundo
Mundo de 1998, classificada e animada, a seleção croata deu sorte no sorteio dos
grupos. Embora tenha tido o desprazer de encontrar a Argentina, teve os
fracos Jamaica e Japão pela frente. Então, o que era mais previsível aconteceu: foram duas vitórias e uma
derrota (para os Hermanos) na primeira fase. Tais resultados levaram os Vatreni às oitavas de finais. Além disso, o artilheiro Suker, um dos craques da constelação do Real Madrid, já mostrava que não estava para
brincadeiras, com dois tentos.
“Estivemos sob o controle da Iugoslávia por 45 anos e não podíamos dizer que éramos croatas. Agora nós podemos […] Quando jogava pela Iugoslávia, isso não significava nada. Era apenas esporte, nada mais. Agora, o sentimento é incomparável”, disse Igor Stimac, ex-zagueiro da seleção croata, durante a Copa do Mundo de 1998.
campanha semelhante à croata, com duas vitórias e um empate, também avançando — em
um grupo que contou com as presenças de Alemanha, Estados Unidos e Irã. Para êxtase axadrezado, no
entanto, os iugoslavos pararam já na fase seguinte, derrotados por uma Holanda que apresentava uma série de jogadores de primeira prateleira, gente como Dennis Bergkamp, Clarence Seedorf, Edgar Davids e Edwin van der
Sar.
seguiu surpreendendo. Com gol de Suker, eliminou a seleção romena, dos veteranos Gheorghe Hagi e Gheorghe Popescu, vencendo a eliminatória por 1 a 0. Assim, permaneceu viva, mal sabendo que
protagonizaria dois dos jogos mais fantásticos daquele Mundial recheado de
grandes partidas.
Implacavelmente,
os croatas atropelaram a Alemanha, instaurando uma crise histórica no seio germânico: 3 a 0. Se
até ali alguém duvidava da capacidade da equipe axadrezava, o momento que pôs fim a esse
pensamento foi este.
“Alcançar esse feito em nossa primeira Copa do Mundo foi um momento de
grande satisfação para mim e para meus companheiros, porque nós trouxemos muita
alegria para nosso povo e provamos nossas qualidades futebolísticas, as quais
alguns de nós mostraram quando a Iugoslávia venceu o Mundial de jovens no Chile”, disse Suker, em entrevista ao site oficial da FIFA, ao final de 1998.
anfitriã, França, na semifinal, liderada por um dos maiores gênios de todos os tempos
(que, não obstante, não fazia uma competição à altura de sua qualidade), Zinedine Zidane. Este foi mais um daqueles momentos inexplicáveis
que marcam a história do futebol. Embora a Croácia tenha saído à frente no placar, um doblete inesperado de Lilian Thuram — um excepcional defensor, mas, ainda assim, um defensor — deu a virada à França, transformando-o em protagonista máximo da partida. O detalhe inusitado é que ele não mais marcaria gols em sua extensa trajetória pelos Bleus.
marginal, a Croácia havia chegado entre os quatro primeiros lugares. Como se
isso não já fosse suficientemente satisfatório, acabaria derrotando a Holanda na disputa pelo terceiro posto, subjugando a seleção que eliminara sua eterna carrasca Iugoslávia. Esta não
voltaria a disputar uma Copa do Mundo (perdendo a vaga para a Copa do Mundo de2002 para a Eslovênia, outra nação que fez parte da Iugoslávia). Na
sequência, o país se dissolveria em Sérvia e Montenegro, que,
tardiamente, dividir-se-ia em outros dois países independentes.
com a conquista do improvável terceiro lugar na Copa do Mundo de 1998 representou, com
exatidão, o sentimento do povo, que reconstruía sua identidade. Suker foi o
artilheiro do torneio, aumentando o impacto da campanha do país, que impulsionou ali uma trajetória de sucesso, garantindo presenças sucessivas em Mundiais e Eurocopas.
“De algumas formas foi uma surpresa, mas
em outras não foi. Se você olhar para o time, tínhamos alguns jogadores
fantásticos que estavam jogando por grandes clubes na Europa […] Nós também
tínhamos um grande espírito de equipe. Estávamos jogando por nossa nação em
nossa primeira Copa do Mundo e estávamos determinados a construir uma impressão
positiva. Sabíamos que as pessoas na Croácia estavam nos apoiando e isso nos
estimulou a ir bem”, concluiu Suker à revista FourFourTwo em 2014.
Eu adoro o a Croácia. Entre copa sai copa e eles tão lá, dando trabalho. Espero que algum dia eles consigam ganhar, pois eles merecem.