Com Erling, a história de Alf-Inge continua na Noruega

EM 1994, depois de uma ausência de quase 60 anos, a Noruega voltou à disputa de uma Copa do Mundo. Era um bom momento para a Escandinávia, que vira a Dinamarca ir de convidada à campeã na Euro 1992 e, em pouco tempo, acompanharia a chegada da Suécia às semifinais do Mundial. Os noruegueses, no entanto, mantinham-se à margem, mesmo com jogadores atuando em ligas fortes, caso de Alf-Inge.

Erling Haaland Norway

Foto: Getty Images/Arte: O Futebólogo

Aos 21 anos, o defensor do Nottingham Forest tinha apenas três internacionalizações, embora acumulasse alguns anos como profissional, notadamente no Bryne, menos de 40 quilômetros distante de sua Stavanger natal. Sua história mundialista começou bem: em Washington, foi titular na estreia dos Røde, Hvite, Blå, que conquistaram uma vitória contra o México: 1 a 0. Alf-Inge foi repreendido com cartão amarelo.

Na partida seguinte, o lateral direito repetiu a dose; foi escalado e amarelado. A Noruega sucumbiu contra a Itália, o que era um resultado esperado, outro 1 a 0. Suspenso diante da Irlanda, Alfie viu Henning Berg atuar em seu lugar e a Noruega se despedir, com um empate sem gosto, 0 a 0. 

Era a hora de juntar suas coisas e voltar para casa, onde nenhuma esposa ou filhos o esperavam.

Alf-Inge Haaland Norway 1994

Foto: Juha Tamminen/Arte: O Futebólogo

Alf-Inge foi consistente no tempo com a camisa do Forest. Em sua última temporada pela equipe, 1996-97, fez 41 jogos e somou seis gols. O time é que não andava bem e foi rebaixado à segunda divisão, com a lanterna da Premier League. O norueguês não pagou o pato e se mandou para o Leeds United. Foram mais três temporadas marcadas pela regularidade. 

Em 1997-98, antes do Mundial da França, o atleta foi ainda melhor do que no ano anterior: somou 37 jogos e sete gols pelos Peacocks. Porém, mesmo tendo sido titular no último amistoso da Noruega antes da Copa do Mundo, uma goleada por 6 a 0 diante da Arábia Saudita, ficou fora da lista final. Foi um choque. No início de maio, a BBC chegou a afirmar que os ingleses veriam alguns conhecidos na competição, como Alf-Inge.

O lateral não teve outra chance de jogar um Mundial. Seja porque a Noruega não se classificou em 2002, ou por ter tido sua carreira precipitadamente encerrada após uma entrada cruel de Roy Keane. O volante do United sofrera lesão em um disputa com o noruguês, ainda em 1997. Pacientemente, aguardou para dar o troco. 

 

Alfie já representava as cores do Manchester City. Tentou voltar à ativa algumas vezes, mas não foi possível. Quando do sinistro, já tinha mais preocupações na vida. Casara-se com Gry Marita Braut, ex-atleta de heptatlo, e tinha filhos, inclusive o pequeno Erling, nascido em julho de 2000.

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No dia 30 de maio de 2019, o futebol voltou-se para o que acontecera no Mundial Sub-20. Depois de perder para Uruguai e Nova Zelândia, a Noruega estava eliminada. No entanto, faltava um jogo contra Honduras. Venceu por 12 a 0. Não se ignora um placar tão dilatado — sobretudo se um atleta, sozinho, marcar nove gols.

Apesar da eliminação, em Lublin, na Polônia, Erling ganhou holofotes. Sua carreira só cresceu a partir de então. Bastou um ano no RB Salzburg, depois de passagens por Bryne e Molde, para conseguir uma transferência para o Borussia Dortmund. Ele fizera 29 gols em 27 jogos pelo time austríaco e, com 1,95m, não passou despercebido aos olhares atentos dos dirigentes aurinegros. 

“Ele tem a velocidade e o jeito de correr do pai. É uma mistura da fisicalidade da mãe e do pai. É o pacote completo, algo único. Ele tem a finalização de Solskjær, algumas habilidades de Tore André Flo e Jan Åge Fjørtoft, parte da presença física de Jostein Flo”, garante Lars Bohinen, ex-companheiro de Alf-Inge no Nottingham Forest.

 

Depois de 86 gols em 89 partidas pelos alemães, a assinatura pelo Manchester City foi um passo lógico. Em 2022, praticamente 20 anos após a retirada de Alf-Inge.

Seus gols, porém, não foram suficientes para confirmar à Noruega um lugar na Copa do Mundo do Catar. No Grupo G das Eliminatórias da Europa, os Røde, Hvite, Blå ficaram atrás de Holanda e Turquia e continuaram sua saga pelo retorno mundialista. O prodígio balançou as redes cinco vezes. 

No entanto, a FIFA decidiu ampliar o número de disputantes para 48, com efeitos imediatos para o certame de 2026.

Haaland Odegaard

Foto: imago/Bjorn Erik Nesse/Arte: O Futebólogo

As chances de a Noruega viajar ao Canadá, Estados Unidos e México cresceram. E, apesar de a equipe contar com figuras de qualidade, como Martin Ødegaard, Oscar Bobb e Alexander Sørloth, no centro de tudo está Erling, autor de nove gols em cinco jogos. Diferentemente do pai, um coadjuvante aplicado, ele é a estrela da companhia, um jogador que, nos primeiros 45 jogos pela seleção, marcou 48 gols.

O Mundial da América do Norte não apenas promete um novo capítulo esportivo para a Noruega, mas enlaça a trajetória de um clã em que um pai acompanha, feliz, o protagonismo de um filho. Na casa dos Haaland, a festa começou faz tempo.

Wladimir Dias

Idealizador d'O Futebólogo. Advogado, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Escrita Criativa. Mestre em Ciências da Comunicação. Colaborou com Doentes por Futebol, Chelsea Brasil, Bundesliga Brasil, ESPN FC, These Football Times, revistas Corner e Placar. Fundou a Revista Relvado.

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