Chelsea: uma fábrica de empréstimos?
FOI VEICULADO UM MAPA dos empréstimos do Chelsea que aguçou a curiosidade dos amantes do futebol. Composto por 26 atletas, distribuídos em 10 países, o mapa deixa um questionamento no ar: faz sentido ter um elenco com tantos jogadores desnecessários à equipe principal? Não há resposta que abarque a situação de todos os envolvidos, uma vez que muitos encontram-se em momentos distintos.

Foto: Chelsea FC
Cessões para corrigir erros
Não dá para exigir que as equipes façam contratações com acerto sempre.É natural que alguns negócios não surtam o efeito esperado. Sendo assim, quando isso ocorre, o empréstimo é uma boa saída por algumas razões. Em primeiro lugar, porque dá oportunidade aos jogadores de voltarem à forma que levou o clube a contratá-los. Além disso, como consequência do primeiro argumento, um atleta pode voltar a se valorizar. Ou seja, o empréstimo tanto pode servir para o clube cobrir os prejuízos de uma contratação malfadada quanto pode recuperar o atleta e levá-lo a ser reaproveitado.
No caso do Chelsea, alguns casos são evidentes, como os de Juan Cuadrado e Mohamed Salah, que chegaram, tiveram algumas oportunidades e não corresponderam. Aliás, ambos protagonizaram verdadeiras novelas antes de definirem seus destinos (o colombiano partiu para a Juventus e o egípcio para a Roma).
Outro exemplo de mau negócio envolve o alemão Marko Marin, que partiu recentemente para o Trabzonspor, seu quarto empréstimo desde que chegou a Stamford Bridge. Em Londres, não conseguiu mostrar o futebol que o levou a Copa do Mundo de 2010 e lhe rendeu comparações com Mesut Özil no Werder Bremen.

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Empréstimos de boas promessas para ganho de experiência
Outra faceta explorada por meio de empréstimos é o ganho de experiência em outros centros. Há jogadores com contrato com o Chelsea que parecem contar com a simpatia de José Mourinho e da direção, de forma geral. No entanto, embora demonstre
potencial, os garotos precisam de minutos em campo, o que só têm a chance de conseguir em equipes menos competitivas do que a londrina.
Em casos como esses, os jogadores são normalmente cedidos a equipes de bom nível. Enquadram-se nessa situação os defensores multifuncionais Nathan Ake (Watford) e Andreas Christensen (Borussia Mönchengladbach), além dos talentos Mario Pasalic, meio-campista emprestado ao Monaco, e Patrick Bamford, atacante cedido ao Crystal Palace. Com grande potencial, estes jogadores poderão ter um futuro no Chelsea.

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Cessões para clubes ingleses de divisões inferiores
Também tradicional é a opção dos clubes ingleses, de forma geral, por empréstimos a equipes de divisões inferiores da própria Inglaterra. Este expediente normalmente não tem rendido frutos ao Chelsea, e os atletas que passam por essa situação tem terminado por deixar os Blues.
Exemplo recente de que essa prática é normalmente utilizada para dar destinação a atletas que ou não tem mais idade de juniores ou demonstram algum potencial é o meio-campo Josh McEachran, que partiu em definitivo para o Brentford e hoje é considerado uma “eterna promessa” do Chelsea.
No momento, se encaixam nessa situação os ingleses Alex Davey, Jordan Houghton e o tcheco Tomas Kalas, jogador que muitos torcedores do clube londrino gostariam de ver no elenco, mas que não conta com a simpatia de Mourinho.
A parceria com o Vitesse
Outra medida que tem sido praticada e vem se mostrado infrutífera com o tempo são os empréstimos ao Vitesse, clube parceiro do Chelsea e cujo antigo dono é amigo pessoal de Roman Abramovich. Em levantamento feito pelo site Chelsea Brasil, 19 atletas já foram emprestados ao clube holandês desde a temporada 2010-2011 e apenas Bertrand Traoré retornou aos Blues e foi integrado à equipe principal.
Neste turno, todavia, o grupo que partiu para o clube aurinegro é extremamente promissor. Lewis Baker, Izzy Brown e Dominic Solanke são integrantes de uma geração que é considerada a melhor do clube em muitos anos e em que se deposita muita esperança. Recentemente, estes jovens ajudaram o Chelsea a ter êxito em conquistas de FA Youth Cup, Premier League Sub-21 e UEFA Youth League e é esperado que tenham um futuro em Stamford Bridge.
Além deles Nathan, ex-Atlético Paranaense, e Danilo Pantic são contratações recentes que não conseguiram visto de trabalho na Inglaterra e que, com passagens por suas seleções de base, podem vir a ser aproveitados em um futuro próximo.

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Casos perdidos
Recorrentemente emprestados, jogadores como Ulises Davila, Kenneth Omeruo, Jhoao Rodríguez, Matej Delac, Stipe Perica e Cristian Cuevas são atletas que, aparentemente já passaram pelo estágio de “empréstimo para ganhar experiência” e fracassaram, não demonstrando ter a qualidade necessária para integrar a equipe principal do clube londrino. Esse é o outro lado da moeda.
Nunca se sabe se os empréstimos serão eficazes e os jogadores evoluirão como se espera. Em alguns casos, o clube paga, durante muitos anos, por uma prospecção não muito bem feita.
Incógnitas
Além destes casos, há ainda alguns nomes que foram emprestados recentemente e chegaram a desempenhar bom papel em suas equipes, mas que não se tem clareza se fazem parte do futuro do Chelsea ou se serão negociados em breve.
São estes os casos dos brasileiros Wallace, cria do Fluminense, e Lucas Piazón (que atualmente está com o elenco de Mourinho, mas não é aproveitado), do holandês Marco van Ginkel, emprestado ao Stoke após uma passagem razoável pelo Milan, e de Christian Atsu, jogador que despontou muito bem no Porto, está em seu terceiro empréstimo, desta vez ao Bornemouth, e foi eleito no último ano o melhor jogador da Copa Africana de Nações.
Por fim, há ainda Victorien Angban, marfinense de 18 anos recém-contratado e emprestado ao belga Sint-Truidense, e Todd Kane, revelação inglesa do Chelsea emprestada ao NEC da Holanda. Tratam-se de jogadores com situações particulares, uma vez que é prematuro definir algo em relação ao primeiro e o segundo foge à prática comum de empréstimos a equipes inglesas de divisões inferiores.

Foto: Sky Sports
Quem enxerga o mapa de forma rasa tem uma indiscutível propensão a criticar o clube inglês pelo mero propósito de criticar, mas a verdade é que a imagem não pode ser analisada por um prisma apenas. É indispensável lembrar que as pessoas retratadas na imagem não vivem necessariamente situações semelhantes, e podem não ser vistas da mesma forma pelo clube.
Questionável é o fato de o clube ter tantos “casos perdidos” e “incógnitas”, uma vez que a maior parte dos jogadores que se enquadram nessas categorias não são crias do clube, tendo sido contratados ainda muito jovens. O índice de acerto do Chelsea em suas apostas vem sendo muito pequeno ao longo dos anos. Vinte e seis é um número de empréstimos muito alto e reflete falta de organização do time.
Além disso, negociações como a venda e a recompra (por um preço muito mais alto) de Nemanja Matic deixam claro que o clube muitas vezes erra ao avaliar seus jogadores. O mapa traz consigo uma crítica e propõe uma análise profunda e, embora os jogadores emprestados vivam situações distintas, o plano geral mostra um clube desorganizado.