Carpi: um time para acompanhar de perto

Fundado em 1909, falido em 1999,
refundado em 2000, e sequencialmente bem-sucedido nas últimas seis temporadas,
com quatro acessos, o modesto Carpi, da cidade de igual nome, localizada na
província de Modena, chegou à Primeira Divisão Italiana pela primeira vez em
sua história na temporada 2014-2015. Com um elenco remodelado, com muitos
jogadores sem custos e alguns emprestados (dentre eles alguns brasileiros), o
clube merece atenção.


Uma história recente de muito sucesso
Se no final do último século o
Carpi parecia condenado à eternidade nas divisões inferiores do futebol
italiano, o término da primeira década do presente século presentou a segunda
maior cidade da região, que conta com aproximadamente 65.000 habitantes, com um
time de futebol competitivo e em progressão importante e impressionante.
Cidade de Carpi

Não obstante, o sucesso da equipe
só foi possível com a entrada dos investimentos, ainda que não muito vultuosos,
de Stefano Bonacini, dono da marca de roupas Gaudi e proprietário do clube. A
grande escalada da equipe começou na temporada 2009-2010, quando os Biancorossi conseguiram o acesso à quarta
divisão.

A partir daí, o clube foi só
sucessos: subida à terceira divisão em 2010-2011 e à segunda em 2012-2013.
Após uma temporada de adaptação na segundona, o clube conseguiu novo e inédito
acesso. Com todas as honras e o título de campeão na
bagagem, a pequena esquadra, cujo estádio tem capacidade para pouco mais de 4.000 pessoas, chegou, enfim, à Serie A.

“Estou muito orgulhoso de ter o Carpi na liderança da Serie B, o time
da cidade que eu governo. Nunca se esqueça que em 2012 nós fomos atingidos por
um terremoto de 5,8 de magnitude e todos nós, 70.000 pessoas juntas, superamos
isso. Alguns definem o Carpi Football Club como um milagre
, disse o
prefeito da cidade, às vésperas de um clássico contra o Modena, em dezembro de
2014.

Um título com sobras
Com uma equipe jovem, com média
de 23 anos de idade, o Carpi não deu sopa para o azar e fez uma campanha
fantástica na segunda divisão. O prematuro acesso, ainda em abril, só mostra o
quão forte o time foi, mesmo tendo pisado no freio ao final da competição, com duas
derrotas, três empates e apenas uma vitória nos últimos seis jogos.
Terceiro melhor ataque da
competição
(com 59 gols marcados) e, de longe, a melhor defesa (com apenas 28
gols sofridos), os Biancorossi fizeram
nove pontos a mais em relação ao Frosinone, segundo colocado
(ambos conseguiram
acesso direto à Serie A), e terminaram o ano com uma vantagem de 21 pontos em
relação ao oitavo colocado e último time convocado à disputa dos play-offs.
O clube não tomou conhecimento de
equipes mais tradicionais, como Pescara, Bologna, Bari, Livorno e Catania e foi
soberano na competição, campeão do primeiro turno e do segundo. Vitórias como
um 5×0 frente o Pescara, na casa do rival, demonstram quão forte o time foi, o
que só foi possível devido à força do jogo coletivo e a algumas importantes
individualidades.

No gol, emprestado pelo Milan, o
brasileiro Gabriel (foto), lembrado por sua não tão boa participação nos Jogos Olímpicos
de Londres, em 2012, foi um paredão. Depois de ganhar a disputa pela posição com
o croata Ivan Kelava, emprestado pela Udinese, o jovem arqueiro formado no
Cruzeiro disputou 39 partidas e conseguiu assombrosos 23 clean sheets, o que quer dizer nada mais nada menos que o goleiro
só foi vazado em 16 partidas, sofrendo 23 gols.
Além dele, foram destaques o zagueiro
Simone Romagnoli, criado no Milan e com passagens pela Seleção Italiana Sub-21,
que chegou a marcar três gols na campanha, o lateral-esquerdo Riccardo
Gagliolo, o ponta-esquerda Antonio di Gaudio, desde 2010 no clube, e o centroavante
ítalo-nigeriano Jerry Mbakogu, autor de 15 gols e sete assistências no torneio.
Após o maior e inédito feito da
história do clube, seu proprietário falou sobre a expectativa de jogar a
primeira divisão, em entrevista à Gazzetta dello Sport:

“(Imagino a Serie A) Muito difícil. Mas temos que ver o que faremos,
ser provincial é um valor, não um limite. Agora eu só posso dizer que vou usar
o mesmo critério de expansão e filosofia: ‘não dê uma mordida maior do que a
que você consegue mastigar’”.




A reformulação do elenco e as peças verde-amarelas

Para sua primeira temporada na primeira
divisão, os Falconi não contarão com
Gabriel
, que retornou ao Milan apenas para ser repassado ao Napoli. Não
obstante, o clube trouxe, por empréstimo, o experiente e bom Zeljko Brkic,
ex-Udinese. Embora tenha demonstrado nas últimas temporadas ser um goleiro
confiável e de qualidade, com lesões, perdeu espaço para o grego Orestis
Karnezis e para o promissor garoto Simone Scuffet, tendo disputado parte da
última temporada pelo Cagliari.
Apesar disso, a perda do goleiro
é praticamente um dos únicos problemas do treinador Fabrizio Castori, que tem
recebido muitos reforços, dentre jogadores jovens e experientes. Para a zaga,
por exemplo, chegou o argentino Nicolás Spolli, ex-Catania, que esteve
emprestado à Roma. Outro nome conhecido que chega aos Biancorossi é o do meio-campista Andrea Lazzari, atleta que
recentemente representou Cagliari, Fiorentina e Udinese.
Para nós, brasileiros, há ainda
outras novidades que aumentam a curiosidade quanto a um dos caçulinhas da Serie
A: a contratação de alguns de nossos conterrâneos, sobretudo para os lados do campo.
Para a lateral-direita, chegou Wallace (foto), ala formado no Fluminense, pertencente
ao Chelsea e que na última temporada representou, muito bem, o Vitesse; pelo
outro lado, Gabriel Silva, ex-Palmeiras, e Raphael Martinho, ex-Paulista,
Catania e Hellas Verona, são as bolas da vez.
Por fim, após passagem
inexpressiva e até mesmo digna de piada pelo Palmeiras, o winger Ryder Matos chega para reforçar o ataque do time.
Em 2015-2016, o Carpi mandará
suas partidas no Estádio Alberto Braglia, localizado em Modena e com capacidade
para pouco mais de 20.000 pessoas
. Seguindo a mesma proposta financeira dos últimos anos, com
contratações sem custos ou por empréstimo, o clube tentará a sorte em um novo e
muito mais duro patamar. As pretensões do clube são modestas e seu proprietário
sabe disso. A permanência na primeira divisão já seria um grande motivo para
comemorações. No entanto, como é possível duvidar de uma equipe que apresenta
uma escalada tão rápida? Certo mesmo é o fato de que, ao menos por curiosidade,
vale a pena acompanhar os passos dos Falconi.

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