A trajetória de Malcom rumo ao mais alto nível
Diferentemente do que muitas
vezes acontece, Malcom não aparentou deslumbre com tudo o que aconteceu em
sua carreira. De sua estreia como profissional, em março de 2014, quando tinha
apenas 17 anos, até sua saída do Corinthians, o ponta tem mostrado que tem os
pés bem fincados no chão. Do êxtase da estreia, quando revelou grande emoção
por representar o clube de seu coração, que o acolhera ainda aos 10 anos, até
os agradecimentos em sua saída, o garoto sempre mostrou seriedade.
marcante de seu desempenho dentro das quatro linhas. Rápida análise de sua
participação no título nacional de 2015 indica nesse sentido. Se, do lado
direito do meio-campo corintiano, Jádson era um criador de jogo, alguém que
saía da ponta para o meio para armar, pela esquerda Malcom garantia que o time
tivesse o adequado balanço nos momentos defensivo e ofensivo.
flecha, agressivo como poucos, fazendo muitas vezes incisões na diagonal, para
permitir jogadas de ultrapassagem do lateral esquerdo Uendel. Quando a posse de
bola ficava com os rivais, retornava prontamente, para auxiliar na compactação
do meio-campo e forçar o adversário a se livrar da bola. Isso tudo com 18 anos
e sem vaidades. Naquele momento, Malcom já dava indícios de ter muita
maturidade. Parecia já entender que não era um craque, mas que poderia se tornar um
grande jogador. Não por acaso, vez ou outra, Tite, então treinador do
Corinthians, elogiava-o:
“A maturidade dele está acima dos
seus 18 anos. Eu, com 18, não tinha a maturidade que o Malcom tem […] Em
determinados momentos, os atletas têm liberdade de criação e enfrentamento. O
um contra um é fundamental para quebrar a marcação. No último terço do campo,
vá para dentro. Pode errar uma, duas, três vezes. Se acertar uma, quebrará o
sistema defensivo”, disse ao ESPN.com.br, em julho de 2015.
dentre outras, recebeu proposta do Bordeaux. Os Girondinos têm seis títulos franceses, mas o último foi conquistado
na já distante temporada de 2008/09. Recentemente, a mais relevante conquista
do time foi a da Copa da França, em 2012/13. Em tempos de hegemonia financeira do
Paris Saint-Germain e de consolidação de um modelo competitivo e sustentável
por parte do Monaco, o clube não tem passado perto das conquistas. Mesmo assim,
o brasileiro entendeu que a possível ida para a França poderia lhe acrescentar
muito.
Bordeaux apresentou um projeto ao garoto. A evolução do desempenho do time
desde a chegada de Malcom é notória, assim como a do brasileiro,
individualmente. Em sua primeira campanha no clube, viu o time terminar a
temporada apenas com a 11ª posição; na segunda, já terminou em sexto lugar; e,
no promissor início de campanha de 2017/18, ocupa a terceira colocação.
investimentos foram feitos. Dentre outros, desembarcaram no clube o volante
Otávio, destaque maior do Atlético-PR nos últimos anos, o atacante Nicolás De
Preville, que veio de boa temporada com o Lille (30J e 14G, na última Ligue 1),
além do selecionável e experiente goleiro francês Benoit Costil, que chegou sem
custos, vindo do Rennes. Há hoje muito equilíbrio no elenco, que conta com
atletas de vasta experiência, como o capitão Jérémy Toulalan, outros chegando a
seu auge, e alguns ascendendo, como é o caso do próprio Malcom.
perceber que a oportunidade poderia não o levar às conquistas, mas contribuir
muito com sua evolução em solo europeu. Sem sofrer a pressão por resultados
imediatos comum aos clubes maiores, Malcom foi para uma equipe que lhe permite
adaptação tranquila ao futebol praticado no Velho Continente. A maior prova de
seu acerto é a permanente evolução técnico-tática que vive desde que
desembarcou no clube. Hoje, é um dos grandes destaques da Ligue 1.
Pouco após o
acerto com o Bordeaux, o atacante chegou a falar sobre o assunto e sobre sua
evolução sob o comando de Tite:
“O meu empresário disse que havia
outros clubes interessados, com propostas boas, mas o Bordeaux oferece uma
série de coisas que nós buscávamos […] Ele [Tite] me ajudou muito, em tudo…
Na volta para marcar, na parte ofensiva[…] Com o Tite, passei a defender o campo
inteiro. Foi o principal para a minha evolução”, revelou ao Yahoo, em março de
2016.
jogador já tem cinco gols marcados e quatro assistências, em 13 partidas.
Segundo o portal de estatísticas Whoscored,
foi o melhor em campo em quatro ocasiões. Isso tudo, vale a lembrança, aos 20
anos. Quem pode dizer o que teria acontecido se tivesse partido para um gigante
desde o início? É claro que poderia ter sido bem-sucedido, mas exemplos do
contrário são fartos, como as carreiras de Keirrison, Wellington Silva, Lucas
Silva, Gabriel Barbosa ou Phillipe Coutinho (que teve imensas dificuldades em seu
início na Internazionale), para citar uns poucos nomes, não nos deixam mentir.
destacou algumas qualidades do garoto:
“Vocês precisam vê-lo no dia a dia […] Ele tem atuado como tradutor
para seus novos companheiros brasileiros. Ele não tem sido afetado por tudo o
que tem sido dito. Ainda que seja jovem, ele também é muito maduro”, disse Jocelyn
Gourvennec, ao Guardian.
talento e consciente de suas funções no campo, Malcom, que hoje atua
majoritariamente pelo flanco direito (valorizando mais a qualidade de sua perna canhota), vai mostrando seu talento e repetório.
Inevitavelmente, já tem sido veiculado o interesse de outras equipes em seu
futebol. Jornais do mundo inteiro vêm falando sobre ele. Em maio, o Manchester
United foi especulado como destino, no futuro próximo poderá ser outro gigante.
O fato é que o jogador que desembarcar em outra equipe estará muito mais
preparado para obter êxitos do que aquele que deixou o Corinthians. Isso tudo
porque fez uma decisão correta na hora de deixar o futebol brasileiro.