A sucessão forçada que levou Alex Ferguson ao Mundial de 1986
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Eram aqueles os anos 80 e a Escócia, ao contrário do que se viu nas décadas seguintes, possuía um time respeitável. Havia muitos selecionáveis atuando no futebol inglês e outros tantos provenientes do Aberdeen, o time que Ferguson treinava quando não estava auxiliando Stein junto ao selecionado escocês. Naquela instância, a espinha dorsal do país estava baseada no Liverpool: a defesa tinha Alan Hansen, o meio-campo Graeme Souness (que mais tarde se transferiria para a Sampdoria) e o ataque ele, o grande Dalglish. E no banco tinha Stein, o técnico que levara o título da Copa dos Campeões da Europa pela primeira vez para o Reino Unido, comandando o Celtic.
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Já um respeitável senhor de 62 anos (menos de um mês antes de completar 63), a lenda do Celtic não suportou as tensões da partida. Seu tão combatido coração parou. Stein infartou após o jogo e não viveu para ver sua obra completa. Deixou na Terra uma história indelével; reservou à memória seus feitos grandiosos. Mas não foi só essa a sua herança. Seu passamento deixou nas mãos de seu auxiliar a missão de se classificar para a Copa do Mundo. Terminadas as eliminatórias europeias, a Escócia teria que enfrentar a Austrália na repescagem. Ferguson precisou assumir as rédeas.
Após o triste fim de vida de Stein, a Scottish Football Association decidiu que o melhor naquela altura era preservar ao máximo o trabalho que vinha sendo feito e o auxiliar passou a interino. Não havia tempo para adaptações ou respiros. Logo, no final de novembro, viria o primeiro jogo do play-off que levaria Escócia ou Austrália ao segundo Mundial sediado no México.
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Com Dalglish alinhado no ataque britânico, o país recebeu os Socceroos. Fez o dever de casa e encaminhou sua viagem à América. Novamente, Cooper foi às redes, marcando um gol vital, o primeiro da dupla que asseguraria o carimbo no passaporte escocês – Frank McAvennie completou o placar. Na volta, a despeito da longa viagem, os comandados de Alex seguraram um zero a zero que foi suficiente. Aos 45 anos, o treinador disputaria sua única Copa do Mundo.
Antes da viagem para o México, Ferguson teve mais algumas oportunidades de treinar sua equipe. Foram quatro os encontros amistosos antes do Mundial. O primeiro deles foi uma vitória magra, 1 a 0, contra Israel. Na sequência, veio um triunfo empolgante por três bolas a zero contra a Romênia, um resultado preocupante frente à Inglaterra (derrota por 2 a 1) e um empate insosso perante a Holanda, 0 a 0. No entanto, logo, toda e qualquer empolgação vinda da disputa da Copa do Mundo se esvaiu. O sorteio dos grupos foi cruel.
O técnico do Uruguai de então, Omar Borrás, sentenciou: o Grupo E era o grupo da morte. Além de escoceses e uruguaios, ele contou com Dinamarca (a Dinamáquina de Sepp Piontek) e Alemanha Ocidental (que seria vice-campeã). A verdade é que não havia como os britânicos avançarem, o desafio a enfrentar era maior do que as capacidades da equipe, especialmente porque Dalglish não foi ao México. Como? Isso mesmo.
Embora a versão oficial dos fatos aponte uma lesão no joelho do já experiente craque (possuía na altura 35 anos), a lenda urbana verifica outra realidade. Alex Ferguson deixou de fora o zagueiro, companheiro e subordinado de Kenny, que acumulava as funções de jogador e treinador no Liverpool, Alan Hansen. Naquele momento, questionava-se a forma e o comprometimento do beque com a causa escocesa, em uma narrativa que nunca delimitou muito bem seus meandros.
No Mundial, a partida inicial, contra a poderosa Dinamarca, significou a primeira e merecida derrota escocesa. O 1 a 0 não refletiu o tamanho da superioridade da esquadra escandinava. Na sequência, os britânicos até saíram na frente contra a Alemanha, mas esta logo empatou com Rudi Völler e virou no início do segundo tempo, com gol de Klaus Allofs. Ainda assim, uma vitória contra o sanguinário Uruguai (que havia sido destroçado pelos dinamarqueses, 6 a 1) classificaria o país à fase seguinte. Não obstante, nem mesmo a vantagem numérica, já que José Batista foi expulso, levou a Escócia a inaugurar o placar, que permaneceu intacto. O país foi logo eliminado. Não houve vexame, mas a passagem de volta foi logo marcada.
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A breve trajetória de Ferguson no comando da Seleção Escocesa terminou por aí. Não foi um fiasco, mas deixou a desejar. Fergie podia até ter a mesma capacidade como treinador que Stein (ou ser até mesmo superior, já que é impossível mensurar tal critério), porém não tinha sua experiência. Era uma estrela ascendente, tendo conquistado títulos importantes pelo Aberdeen. Passado o Mundial, começou seu longo e frutífero casamento com o Manchester United. O resto é história.