A inusitada estreia de Molina pela Seleção Espanhola

O Deportivo La Coruña é o único
clube galego a ter conquistado o Campeonato Espanhol em todos os tempos. Isso
se deu em 2000. Na oportunidade, a equipe contava com grandes jogadores; gente
como Mauro Silva, Djalminha e Roy Makaay. O período próspero do Depor coincidiu com tempos sombrios do
Atlético de Madrid, rebaixado à segunda divisão. Assim, logo
após o título nacional, o time contratou o goleiro colchonero, José Francisco Molina. Anos antes, este havia estreado com a camisa da Seleção
Espanhola, em circunstâncias pouco usuais.

José Francisco Molina Spain
Foto: Getty Images


A meta da Fúria foi durante muitos anos defendida por um ícone. De
longa história com as camisas de Athletic Bilbao, Barcelona e Valencia, Andoni
Zubizarreta fez seu primeiro jogo por seu país em 1985 e só largou o osso em
1998, quando decidiu se aposentar. Foi durante um bom tempo o jogador com mais
internacionalizações da história espanhola – foi ultrapassado por Xavi, Sergio
Ramos e Iker Casillas. Mesmo assim, a transição foi rápida: ainda que tenha
começado nas mãos de Santiago Cañizares, nome marcante da história do Valencia,
terminou nas seguras e vitoriosas luvas de Casillas.
José Francisco Molina
Foto: Getty Images

Diante disso, houve sempre pouco
espaço para outros goleiros. Porém, Molina chegou lá e esteve nos elencos que
disputaram a Eurocopa em 1996 e 2000, além de marcar presença na Copa do Mundo
de 1998. Alcançou o total de oito internacionalizações, a maior parte delas
entre o fim de 1999 e a Euro 2000. Nesta ocasião, até começou o certame como
titular, mas falhou no gol que sentenciou a Fúria
a uma derrota perante a Noruega e perdeu a posição. Mas nada é tão estranho
quanto o dia de sua estreia.

Curiosamente, aquele 24 de abril
de 1996, também colocou os espanhóis frente a frente com os noruegueses.
Defendendo a meta da Roja esteve lá
ele, Zubizarreta, o capitão. Conforme o jogo foi avançando, sem que o zero
deixasse o placar, o treinador espanhol – o histórico Javier Clemente,
eternamente lembrado pela conquista do bicampeonato espanhol com o Athletic
Bilbao – promoveu substituições. Por atacado, diga-se.
Era passado o minuto 53 quando de
uma só vez sacou Julen Guerrero, Fernando Hierro, Guillermo Amor e Luis Enrique,
apostando em Kiko, Donato, Juanma López e Alfonso. Era tudo o que podia fazer,
já que só contava com 16 jogadores no banco de reservas, restando apenas o
goleiro Molina. No entanto, aquele dia não traria boa fortuna aos hispânicos.
Para além de não superar a defesa escandinava, Clemente teve um problema mais
grave, doze minutos antes do final da partida.
Molina Deportivo
Foto: Getty Images

López, que entrara já na etapa
final, sofreu uma lesão e colocou um problema na cabeça do treinador da Fúria. Ele passou a ter duas opções: ou
atuava o resto da partida com um jogador a menos ou apelava para seu goleiro
reserva e virgem de partidas pela Seleção Espanhola. Escolheu a segunda
alternativa e lotou seu arqueiro suplente na ponta esquerda, onde pudesse
ocupar espaços, sem ter muita influência no jogo. No entanto, não foi bem isso
o que aconteceu. À época dos fatos, o periódico Mundo
Deportivo
relatou a estranheza daquele momento insólito:

“Todos os espanhóis que estavam
em Oslo ficaram estupefatos, mas a história se consumou com o ‘agravante’ de
que Molina não destoou tanto e esteve a ponto de marcar o gol da vitória em um
chute por baixo que tirou tinta da base da trave norueguesa. No total, o
goleiro colchonero realizou oito
intervenções, cinco corretas, duas perdas de posse e o chute citado”
.

Goleiro marcante com as camisas
de Atlético de Madrid e Deportivo La Coruña, Molina se forjou em um personagem
curioso da história do futebol. Além dos títulos com as camisas rojiblanca e branquiazul e de sua singular estreia com a camisa da Fúria, ainda superou um câncer nos
testículos, ficando fora da maior parte da temporada 2002/03, em decorrência do
agressivo tratamento. Todavia, venceu também essa batalha. Jogou até 2007, às
vésperas de completar seus 37 anos. Hoje é treinador. Sua trajetória é marcante
e poderia ser ainda mais: já pensou se aquele chute tivesse balançado as redes norueguesas?

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