A importância dos alas no Chelsea

Após viver uma temporada de
fracasso em 2015/16, o Chelsea precisava mudar rapidamente. Ainda com a aludida
campanha em andamento, anunciou que seu treinador para o presente ano seria
Antonio Conte e começou a juntar seus cacos. Contudo, mesmo diante da chegada
do comandante italiano, as dúvidas quanto à qualidade do elenco dos Blues permaneceram; as chegadas de David
Luiz, N’Golo Kanté, Marcos Alonso e Michy Batshuayi pareceram pouco diante das
evidentes necessidades demonstradas durante a última temporada. No entanto, com
pouco tempo tudo mudou. Com o esquema tático 3-4-3 implantado, o time cresceu e
muito disso se deve à contribuição de seus alas.

Victor Moses Marcos Alonso Chelsea


Para qualquer pessoa que
acompanha o futebol europeu ficou clara a impressão de que a escolha feita por Conte
parecia um devaneio completo. A formação com três zagueiros, sendo eles o
habitualmente amalucado David Luiz, o inseguro Gary Cahill e o improvisado Cesar Azpilicueta não inspirou nenhuma confiança. Além disso, é possível que a
escolha dos alas tenha causado tanta estranheza quanto.
Marcos Alonso Chelsea
Quem era Marcos Alonso, o
escolhido para cobrir o lado esquerdo, até chegar ao Chelsea? Um simplório
lateral de vocação ofensiva formado no Real Madrid, com passagens regulares por
Bolton e Sunderland e algum destaque na Fiorentina. Apenas. Do outro lado, pela
direita, as dúvidas não poderiam ser maiores, uma vez que o winger Victor Moses, no clube há um bom
tempo e de saídas por empréstimo e retornos infrutíferos, confirmou-se a
preferência do treinador italiano.

No entanto, Antonio Conte viu,
com uma sequência enorme de bons resultados (15 vitórias nos últimos 16 jogos na Premier League),
todos se renderem às suas ideias, que se confirmaram brilhantes. Muito disso,
deve-se à qualidade do desempenho mostrado por seus alas.

Contando com a proteção de três
zagueiros e, normalmente, de dois volantes (Kanté e Nemanja Matic),
Moses e Alonso têm sido importantíssimos na construção das jogadas ofensivas do
Chelsea e na forma como a equipe atua. Seu papel tem sido vital, inclusive,
para a evolução da forma técnica de Eden Hazard e Pedro Rodríguez. Por quê?

Antes, belga e espanhol (que era
reserva do brasileiro Willian até pouco tempo), precisavam atuar muito
mais abertos pelos flancos, distantes do meio-campo e do centroavante Diego
Costa. Com a presença dos alas, ambos podem avançar em constantes diagonais e
circular com maior liberdade pelo ataque. A amplitude que precisavam dar ao jogo
da equipe anteriormente não é mais necessária; essa tarefa cabe a Alonso e
Moses, que a tem desempenhado com perfeição.

Além disso, como têm vocação ofensiva natural, os alas do Chelsea constantemente procuram Hazard e Pedro, propondo tabelas, fazendo jogadas de ultrapassagem e chegando à linha de fundo, para, com calma, buscar Diego Costa na área dos adversários dos Blues. Evidente prova disso, é a quantidade de jogadas que ambos já criaram nas partidas que disputaram na Premier League, como demonstra o gráfico abaixo:

Tais dados confirmam a realidade aqui retratada. Demonstram a enorme evolução de Eden
Hazard, a procura constante por Diego Costa e a participação efetiva de Moses e
Alonso no ataque. Com uma equipe com jogadores de grande talento no setor
ofensivo não é de se esperar que os alas participem tanto da construção de
jogadas ofensivas, mas no Chelsea eles o fazem. Vale ressaltar que foi
justamente em uma noite em que os alas não estiveram bem, contra o
Tottenham, que o Chelsea perdeu extensa invencibilidade.
Além do trabalho ofensivo, os
alas têm sido importantes para dar compactação à equipe, que pode variar seu esquema tático durante as
partidas, conforme a necessidade. Eventualmente, Azpilicueta avança para a
lateral direita e, com Alonso, fecha uma linha de quatro defensores, com Moses
na segunda linha de marcação. Em outros turnos, com os retornos de Hazard e
Pedro, é uma linha de seis meio-campistas que se impõe. Tudo isso favorece, enormemente, o desenvolvimento do jogo do Chelsea na hora da recuperação das bolas e depende do papel exercido
por seus alas.

“Em muitas partidas ele (Moses) vai mais à frente e eu fico mais atrás,
mas isso depende de como o outro time joga e é bom ter variação e diferentes
opções. O Victor está fazendo um grande trabalho e espero que possamos
continuar ajudando o time como temos feito nos últimos jogos”
, disse Marcos
Alonso após a recente vitória do Chelsea contra o Hull City, em entrevista
veiculada no site oficial do clube.

Victor Moses Scores Chelsea

Aliás, como já citado, é importante mencionar
que, quando não apresentam bom nível, seja deixando a retaguarda muito
vulnerável – permitindo que seus adversários se utilizem de eventuais espaços deixados
em seus avanços – ou quando sua contribuição ofensiva é ineficiente, o time
como um todo sente e tem perceptível queda no nível coletivo. Exemplo evidente
foi visto na falada derrota para o Tottenham.

Seja como for, é impossível
dissociar o sucesso recente do Chelsea da mudança de esquema tático adotada por
Antonio Conte e, a seguir, da importante função exercida por seus alas. O
treinador italiano enxergou além do que torcedores e analistas foram capazes e
tirou dois coelhos da cartola; Deu confiança a Marcos Alonso e Victor Moses e,
com isso, viu o futebol de seus comandados evoluir e o torcedor passar a olhar
com outros olhos para suas alternativas.

No momento, o clube londrino tem
uma equipe extremamente coesa e, assim, vê seus jogadores tecnicamente mais
privilegiados se destacarem muito. No entanto,
esse destaque só é possível em razão do entendimento coletivo das ideias de
Conte, o que passa, acima de tudo, pela compreensão do jogo daqueles que
participam do balanço defensivo. É aí que entram seus alas, jogadores que têm
tido papel ofensivo importante e facilmente percebido e que, ademais, são
importantes quando o time precisa se defender, o que muitas vezes não é tão
fácil de notar.

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