A grande chance de Fabian Delph

INGLÊS, CANHOTO, BOM PASSADOR E PARTICIPATIVO: este é Fabian Delph, um dos novos contratados do Manchester City e um atleta que promete ajudar muito, dando ainda mais dinâmica ao meio-campo onde Yaya Touré reina soberano. Aos 25 anos, o jogador parece ter atingido um bom nível de maturidade como futebolista e apresenta-se pronto para desfrutar de oportunidades em uma nova e importante casa. Embora ainda seja jovem, Delph é atleta profissional desde os 17 anos e tem muita bagagem nos campos ingleses, um passado de destaque individual e fracasso coletivo.

Fabian Delph Aston Villa

Foto: Stu Forster/Getty Images

1º porto: Leeds United

Nascido na cidade de Bradford, Delph deu seus primeiros toques na bola no Bradford City, de sua cidade natal. Contudo, não demorou quase nada para o garoto chamar a atenção do tradicional Leeds United, que foi o seu destino, no já longínquo ano de 2001, quando o clube ainda vivia dias tranquilos na Premier League. Galgando os degraus do sistema de base dos Peacocks, ganhou sua primeira oportunidade profissional aos 17 anos, após capitanear o time reserva.

Não obstante, sua estreia aconteceu em uma temporada terrível para o clube – no ano de 2007, que levou o time ao fundo do posso, como o descenso à League One, a terceira divisão inglesa. Embora mostrasse talento, o jogador voltou ao esquecimento na temporada 2007-2008, entrando em campo em apenas duas ocasiões. Entretanto, bons dias, individualmente, o aguardavam na campanha seguinte.

Em 2008-2009, o jogador virou titular e brilhou. Com 50 partidas no ano e respeitáveis seis gols, o meio-campista central chamou a atenção de grandes equipes e o Arsenal chegou a abordá-lo, sem sucesso. Com o fim da temporada e sem o acesso à Championship por pouco (o time terminou o ano em quarto lugar), o Leeds não conseguiu manter seu talento em Elland Road. Delph, por aproximadamente £ 6,5 Milhões, partiu para o Aston Villa.

Fabian Delph Leeds United

Foto: Paul Burrows/Action Images

Antes de mudar-se para os Villans, o garoto ainda conquistou vários prêmios. Com um belíssimo último ano, Delph foi coroado melhor jovem da Football League (que envolve jogadores da segunda à quarta divisões inglesas), ganhou um lugar no time do ano da League One, votado pela PFA, foi eleito o melhor jogador do Leeds tanto por seus companheiros quanto pelos torcedores e recebeu a láurea de melhor gol dos Peacocks na temporada.

2ª parada: Aston Villa

Contratado ainda muito jovem, Delph não chegou ao Villa Park com muito prestígio. Embora fosse tratado como grande esperança para o futuro, teve de aguardar por chances no banco de reservas. Em 2009-10, entrou em campo apenas 15 vezes, marcando um gol. Jogador de personalidade forte, demorou a se firmar no novo clube. Naquele momento, todavia, fazia sentido que tivesse dificuldades para crescer no time, uma vez que havia atletas qualificados no elenco vivendo bons dias (em 2009-10, o time foi finalista da League Cup e semifinalista da FA Cup).

Tendo que disputar posição com jogadores como o ídolo Stiliyan Petrov, James Milner, Steve Sidwell, Ashley Young e Stewart Downing, Delph não encontrou espaço imediatamente, e pior, ao final de sua primeira temporada, sofreu uma lesão gravíssima nos ligamentos do joelho.

De volta à cancha em meados da temporada 2010-2011, ele seguiu com problemas de ordem médica e entrou em campo apenas sete vezes. No ano seguinte, Delph não começou bem a temporada e foi emprestado ao Leeds United, em uma tentativa de recuperar o futebol de seu início precoce de carreira. A despeito disso, teve mais contratempos com lesões, desta vez no tornozelo, e retornou ao Aston Villa com apenas cinco partidas disputadas pelos Peacocks.

Em 2012-2013, havia chegado a hora de o jogador despertar. Recuperado de suas lesões, o inglês finalmente ganhou espaço nos Villans. Sob o comando de Paul Lambert, Delph mostrou importância no elenco e versatilidade, tendo atuado como volante, meia central e meia-esquerda. Conseguiu, ao final do ano, se estabelecer como titular, disputando 32 jogos e marcando um gol. Começava ali a senda de destaque individual do meio-campista no Aston Villa.

 

“Ele reclama de tudo, o Fabian! Ele reclama de coisas que são incríveis. Você precisa desse tipo de jogador do seu lado, pessoas que reclamam pelo prazer de reclamar. Você precisa deles porque isso mostra que ele quer vencer. É seu senso de humor, o que ajuda nosso vestiário. Ele reclama pelo prazer de reclamar”, relatou Paul Lambert ao Sky Sports, ao final de janeiro de 2014.

Embora o Villa tenha vivido anos ruins desde a temporada 2011-2012, Delph conseguiu ficar em evidência nos últimos dois anos. Regular, foi titular durante toda a temporada 2013-2014, atuando em 36 partidas, marcando quatro gols e provendo três assistências. Nesta campanha, o jogador ainda fez jogos emblemáticos, como na magra vitória contra o Chelsea, quando marcou o tento do triunfo, após iniciar a jogada e aparecer na área dos Blues para concluí-la.

Com o destaque, veio um prêmio: Delph tornou-se capitão da equipe, aumentando sua influência dentro e fora de campo. Em 2014-2015, disputou 32 jogos, marcou duas vezes e assistiu seus companheiros em cinco turnos, ajudando sua equipe a chegar à final da FA Cup, após fazer um jogo brilhante contra o Liverpool na semifinal.

Tamanho fulgor, obviamente, não passou despercebido e, ao final da temporada, o inglês foi vendido ao Manchester City, por £ 8 Milhões. Antes do final de sua passagem pelo Villa Park, ainda foi eleito nas duas últimas temporadas o melhor jogador do Aston Villa, em votação realizada com os torcedores do clube.

Chance nos Three Lions

O sucesso individual de Delph no Aston Villa não passou despercebido aos olhares de Roy Hodgson, treinador da Seleção da Inglaterra. Membro das Seleções Sub-19 e Sub-21, o jogador demorou a ser chamado para os Three Lions, mas sua grande chance chegou em 2014, após o fracasso bretão na Copa do Mundo.

Mostrando um diferencial em relação aos seus concorrentes de meio-campo – sua grande e intensa movimentação e aproximação –, o atleta ganhou a confiança do treinador que o transformou em figurinha carimbada em suas convocações. Com Delph, que tem dividido o meio com Jack Wilshere e Jordan Henderson, a Inglaterra venceu cinco partidas e empatou uma.

“O Roy Hodgson o ama (…) conversei com o Roy sobre algumas coisas e ele mencionou Tom Cleverley e Delph. Ele gosta dos dois. Eu gosto que o Delph vá à frente. Penso que ele tem a habilidade para abaixar os ombros e ultrapassar os adversários”, disse, em março último, Tim Sherwood, último treinador de Delph no Aston Villa.

Fabian Delph representing England

Foto: PA Photos

Oportunidade e possível impacto no City

Na última temporada, o Manchester City demonstrou extrema carência em seu meio-campo. Dependente de Yaya Touré, o clube sofreu com a falta de intensidade e ligação entre seus atletas de meio com as ausências do marfinense Touré (em oito ocasiões válidas pela Premier League em que não pode contar com o africano, o City venceu três vezes, empatou cinco e perdeu uma). Embora tenham qualidades, Fernando, Fernandinho, James Milner e Frank Lampard não conseguiram suprir a falta de movimentação causada pela falta de Touré.

Possivelmente, essa foi uma das razões da contratação de Fabian Delph pelo clube da cidade de Manchester. Embora não tenha a força de Touré, o inglês demonstra grande desenvoltura no controle do meio-campo, sendo eficiente na recuperação de bolas, na distribuição, e até mesmo na aproximação dos jogadores de frente. Com ele, Yaya ganha um parceiro e um substituto.

Em 2014-15, na Premier League, o inglês teve 86% de média de acerto de passes, 48% de aproveitamento nas roubadas de bola, recuperou 82% das bolas que tentou e cometeu apenas 13 faltas.

Além disso, Manuel Pellegrini passa a contar com novas possibilidades táticas. Acostumado a jogar em um tridente na meia-cancha, Delph facilmente se adaptaria a uma formação com Touré e mais um (Fernando ou Fernandinho), o que poderia ser uma válida alternativa para muitas partidas e serviria também para dar mais liberdade para os avanços e a individualidade de Yaya Touré.

Novo camisa 18 dos Citizens, Delph já se provou no futebol inglês e está acostumado a sua intensidade. Dono de características muito úteis, não deve ter problemas de adaptação, até mesmo porque contará com a companhia de Raheen Sterling, seu parceiro na Seleção Inglesa. Chegou a hora de Delph se provar e, finalmente, o inglês terá a oportunidade de brilhar individual e coletivamente.

Wladimir Dias

Idealizador d'O Futebólogo. Advogado, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Escrita Criativa. Mestre em Ciências da Comunicação. Colaborou com Doentes por Futebol, Chelsea Brasil, Bundesliga Brasil, ESPN FC, These Football Times, revistas Corner e Placar. Fundou a Revista Relvado.

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