A epopeia europeia do Dynamo de Shevchenko e Lobanovskyi
Ainda que tenha sido ex-jogador de talento indiscutível, o
comandante tem lugar cativo na eternidade pelo que fez fora das quatro
linhas. Paralelamente ao que aconteceu na Holanda nos anos 70, Lobanovskyi
construiu, à sua maneira, um time de futebol disciplinado, adepto da marcação
pressão e possuídor de destacável consciência coletiva — nada muito distinto do que desenvolveu
Rinus Michels à frente do Ajax. Dessa forma, colocou o clube ucraíno na história, com conquistas nacionais e internacionais e desenvolvendo o talento
de Oleh Blokhin.
terceira como treinador), à equipe. As duas anteriores haviam sido
notáveis e vitoriosas, mas já não remanescia nenhum de seus antigos comandados
e o clube vivia momentos de tensão fora das quatro linhas. O Dynamo havia sido
suspenso por três temporadas das competições da UEFA. Supostamente, tentara subornar
o árbitro espanhol Antonio Lopez Nieto, antes de uma partida de UEFA Champions
League, em 1995 contra o Panathinaikos. A punição foi posteriormente revista e
o clube perdeu, apenas, a disputa da competição na própria temporada 1995/96.
feitos incríveis. Conduzindo uma safra de jovens de enorme talento, equilibrada
pela experiência de outras peças, fez com que os ucranianos voltassem a ser
temidos. Nesse sentido, a maior de suas estrelas era ninguém menos que
Shevchenko, um garoto que chegara aos profissionais do Dynamo em 1994 e,
desde a temporada 1995/96, empilhava gols pela equipe e chamava atenção, tanto
que logo se tornou selecionável.
Em 1997/98, o clube da capital ucraína disputou a UEFA
Champions League e fez papel honroso. Após despachar o modesto Barry Town, do
País de Gales, e passar apertado pelos dinamarqueses do Brondby, chegou à
disputa da fase de grupos e superou um desafio impressionante. Azarão no Grupo
C, deixou Barcelona, Newcastle United e PSV Eindhoven comendo poeira e avançou.
Só perdeu uma vez, para a equipe inglesa e fora de casa. Por outro lado, soterrou
os catalães em duas oportunidades, vitória por 3 a 0 em casa e massacre de 4 a
0, em pleno Camp Nou, com hat-trick
de Sheva.
a temporada seguinte, uma vez que, embora tenha avançado às quartas de finais,
parou na Juventus, que havia sido vice-campeã e o seria novamente, perdendo
para o Real Madrid.
Com o tetracampeonato ucraniano, o Dynamo voltou à UEFA
Champions League em 1998/99. Novamente, o clube de Lobanovskyi demoliu o
pequeno Barry Town e passou dificuldades na fase que se seguiu, eliminando o
Sparta Praha nos pênaltis. Assim, chegou ao Grupo E, o qual compartiu com Lens,
Arsenal e Panathinaikos, avançando com louvor (apenas uma derrota, para o
Panathinaikos).
Rebrov), o clube chegou às quartas de finais, mas dessa vez as superou. O rival foi ninguém menos que o Real Madrid, o campeão da edição
anterior e que alinhava figuras como Roberto Carlos, Fernando Hierro, Fernando
Redondo, Clarence Seedorf e Raúl em sua esquadra. Do lado ucraniano, todavia,
estava a presença marcante e fundamental de Sheva.
Guti isolou chute após boa trama, Fernando Morientes parou em Oleksandr
Shovkovskiy e Raúl cabeceou bola perigosa. Os ucranianos também deram trabalho
ao goleiro alemão Bodo Ilgner, em chutes de fora da área. Porém, foi de uma jogada
curiosa que saiu o primeiro tento da partida. Shovkovskiy bateu o tiro de meta,
a bola foi escorada no meio do caminho e Shevchenko ganhou campo para avançar e
balançar as redes — era o prenúncio do que viria a seguir. De falta, Predrag
Mijatović ainda empatou, nada que tenha impedido o time de brilhar na partida
de volta.
Ilgner puxou Sheva pelas pernas: pênalti cobrado pelo próprio ofendido e defendido
pelo arqueiro germânico. No rebote, contudo, o goleador não perdoou. Já o
segundo gol… Foi uma verdadeira pintura, a perfeita execução do que Lobanovskyi
sempre enxergou como seu ideal de jogo. A bola foi recuperada na
defesa, gerida com cuidado, paciência e movimentação constante do time, para
que a oportunidade fosse criada. Shevchenko deu o passe à frente, avançou,
recebeu a bola novamente, tabelou e foi colocado de frente para Ilgner, que
nada pôde fazer. O Dynamo estava nas semifinais.
equipe que seria vice-campeã, dessa vez o Bayern de Munique. Apesar da derrota,
4 a 3, no placar agregado, o surpreendente time de Lobanovskyi não deu vida
fácil aos bávaros, que tiveram que se superar. Na capital ucraína, Shevchenko
colocou o Dynano em vantagem por dois gols. Primeiro, foi lançado em
velocidade, superou a defesa alemã e tocou na saída de Oliver Kahn. A seguir,
cobrou falta que não desviou em ninguém e balançou as redes. Também de falta,
Michael Tarnat diminuiu para o Bayern, que foi para o vestiário com
desvantagem de um gol no intervalo.
gol aberto, o Dynamo chegou ao terceiro tento, marcado por Vitaliy Kosovskyi.
No entanto, a persistência alemã se fez presente. Ignorando o fato de que os
donos da casa eram mais perigosos, Stefan Effenberg marcou de falta e Carsten
Jancker, livrando-se de seu marcador dentro da área ucraniana, deu números
finais ao encontro: 3 a 3. No segundo, Kahn parou os visitantes e
Mario Basler, em belíssima jogada — deixando dois marcadores para trás e
finalizando com maestria de fora da área — marcou o solitário tento que colocou
os alemães na final.
“Não chorei após a
partida, mas meu desapontamento foi profundo. (…) Ainda estou certo de que o
Dynamo era mais forte naquela temporada; os alemães, basicamente, tiraram três
gols do nada”, afirmou Kosovskiy, em 2009, ao site oficial da UEFA.
Após essa temporada, Sheva, o artilheiro da competição com
oito gols (ao lado de Dwight Yorke, do campeão Manchester United), partiu para
o Milan, clube em que, mais tarde, finalmente ganharia a competição continental
mais prestigiada da Europa. Lobanovskyi ainda permaneceria no comando do Dynamo
até 2002, mas, sem sua estrela maior, embora tenha mantido o reinado em
território nacional, não voltaria a surpreender o continente. O fim de sua
brilhante carreira se deu em razão de complicações decorrentes de um AVC,
ocorrido em maio daquele ano.
figuras como o goleiro Shovkovskiy, os defensores Kakha Kaladze e Oleh Luzhny,
além do meia bielorrusso Valyantsin Byalkevich e do excepcional Rebrov, no ataque. Contudo, a
mente da equipe era seu treinador e o coração seu artilheiro, pelas capacidades
de organização e motivação do primeiro, instinto de matador e poder de decisão
do segundo.
Kakha Kaladze tb jogaria no Milan futuramente!
Por muitos e muitos anos!