A aposta palmeirense que pode quebrar paradigmas

Sempre que um
time brasileiro troca de treinador, as mesmas opções são ventilados pela
imprensa. Nomes consagrados sempre voltam a ser cogitados. Uma vez ou outra, há
a lembrança de alguma nova possibilidade que conseguiu algum sucesso e está em
ascensão. Esse é o quadro do futebol brasileiro, tão óbvio quanto falido.

Na contramão, o
Palmeiras, que está claramente aquém das pretensões de seu torcedor para o ano
de seu centenário, inovou. Apostando num conceito diferente, contratou Ricardo
Gareca, argentino ex-Vélez Sarsfield. Uma escolha que pode levar à quebra de
paradigmas no Brasil.

Muito tem se
falado da falência do futebol brasileiro, que apresenta um jogo pouco atraente,
com muitos erros de passes, baixa qualidade técnica e enorme quantidade de
faltas. Esquemas táticos óbvios e times excessivamente voltados para a marcação
afastam, cada dia mais, o torcedor dos estádios.

Quando o
Palmeiras demitiu Gilson Kleina e apostou, inicialmente, num contato com
Vanderlei Luxemburgo, que já tivera duas passagens pelo alviverde mas não faz
nenhum trabalho sólido há muitos anos, o futebol brasileiro viu-se, novamente,
numa situação corriqueira. Entretanto, devido à sua nova política financeira, o clube não fechou com Luxemburgo, e, apostou, por fim, em Ricardo
Gareca.

Otamendi, Tobio e Bella refletem o bom trabalho de base

Para quem não
sabe de quem se trata, Gareca foi o comandante do Vélez Sarsfield no
interregno entre 2009 e 2013, período em que conquistou três vezes o Campeonato
Argentino e deu chances a vários jogadores jovens, como os zagueiros Fernando
Tobio, Nicolás Otamendi, o lateral direito Gino Peruzzi e os meias Lucas Romero,
Agustín Allione, Héctor Canteros, Iván Bella e Ricky Álvarez.


Além disso,
durante sua passagem por El Fortín, o
clube virou sinônimo de futebol bem jogado, com força, muita técnica e coração.
O trabalho só não foi melhor devido às campanhas na Copa Libertadores da
América, que foram abaixo das expectativas.


Importante
ressaltar, ainda, o orçamento  que o
treinador teve disponível nesse período. Em toda a sua passagem, a contratação
que mais onerou os cofres do José Amalfitani foi a do meio campista Augusto
Fernández (pré-convocado para a atual Copa), que custou 2,42 milhões de libras
e foi contratado após as vendas de Otamendi, Jonathan Cristaldo e Marco
Torsiglieri, que somadas geraram quase 15 milhões de libras de lucro. Se serve
como comparação, o meia Wesley chegou ao Palmeiras, em 2012, por cerca de 6
milhões de euros.

Resta, muito
evidente, a grande capacidade do treinador em gerir um clube financeiramente
débil, apostando e dando moral para a garotada das canteras e se reforçando com um ou outro jogador experiente (o que
não necessariamente precisará fazer no verdão).

No Palmeiras,
ainda que não haja uma situação confortável, em termos financeiros, a condição
é bem melhor do que aquela que detinha nos tempos do Vélez. Além disso, a condição de
treinamento, a estrutura, é bem superior.
Hoje no City, Pellegrini é exemplo da qualidade sul-americana


Outro ponto
interessante de ser levado em consideração, é a necessidade que o próprio
treinador tem de apresentar um trabalho de qualidade fora da argentina,
 pois isto poderia render-lhe a afirmação em nível mundial, como
aconteceu, por exemplo, com o chileno Manuel Pellegrini, bem sucedido na
Argentina.

O idioma, tema
sempre tratado quando especula-se a contratação de um treinador estrangeiro,
pode ser um entrave para o sucesso do treinador, mas está longe de ser uma
condição determinante, até porque, com boa vontade, é totalmente possível o
entendimento entre o argentino e seus comandados, mesmo porque, o time já possui
falantes do castelhano, casos de Jorge Valdivia, Mauricio Victorino, Sebastián
Eguren e William Mendieta, capazes de fazer a interação.

Como qualquer
aposta, a contratação de Gareca representa um risco, mas, se bem sucedida, a opção do Porco pode representar um bem enorme para todo o país. Precisamos nos
reinventar e talvez – reconheçamos – isso passe pelo aprendizado com outras
escolas. 

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