O dia não poderia ter começado pior. Da dúvida quanto aos fatos lidos ao acordar à certeza deles minutos depois, o choque se mantém vivo. Mais cedo, algumas lágrimas não foram contidas por meus olhos, enquanto a mente, que se recusava a aceitar o que estava a sua frente, tentava acreditar que se tratava de um pesadelo. Aquele belo uniforme verde, com o qual os amantes do futebol brasileiro se acostumaram e que inspirou a torcida de todo o país, deu lugar ao negro do luto, naquilo que já é reconhecido como a maior tragédia da história do futebol.
|
|
Como aceitar que Danilo, aquele mágico que usava suas luvas como varinhas, não retornará ao relvado da flamejante Arena Condá? De onde tirar forças para compreender que aquele seleto e histórico grupo de jogadores há poucos dias recebido com euforia por uma torcida crescente, unida e apaixonada não mais poderá dar emoções a seus torcedores? Não tem jeito. Certas coisas são assim, simplesmente não são para ser entendidas; talvez por isso seja tão necessário viver com intensidade e paixão, e isso não faltou aos Guerreiros da Chape. Triste é precisar de um acontecimento como esse para voltarmos a lembrar disso.
A despeito de toda a tristeza, indignação e sensação de injustiça que um “roubo” tão abrupto provocam, além do luto que demorará a passar, nós, amantes do futebol, precisamos tentar pensar em coisas boas, lembrar a ChapeTerror por aquilo que a caracterizou, sua força, seu destemor e sua grandeza. É assim que aqueles heróis merecem ser lembrados. E, sim, eles foram heróis, não apenas pelos êxitos esportivos, mas pela capacidade de fazer o coração de uma cidade bater em compasso único e por conquistar a admiração e simpatia de todo o país.
Honrar a memória das vítimas dessa tragédia é nosso dever, inescusável, diga-se – como outrora foi em Turim e Manchester, que sofreram fados semelhantes e persistiram. Esse dever é imperativo e tão importante que gerou uma comoção sem precedentes. Todos por uma causa, um propósito solidário, um ideal. Todos unidos para manter a tradição do Índio Condá viva e a chama de seu espírito crepitando.
É cedo demais para falar mais, até porque ainda precisamos transmitir tudo o que de mais positivo tivermos, pela vida e saúde de Alan Ruschel, Neto e Folmann. É claro: não podemos nos esquecer dos demais falecidos, jornalistas, tripulantes e toda a sorte de pessoas envolvidas naquilo que deveria ser um espetáculo incrível, a final da Copa Sul-Americana.
Muito menos podemos olvidar as famílias e amigos. Se o choque e a dor são públicos, a mera tentativa de mensurar a dor desses soa ultrajante.
No entanto, volto a ressaltar a importância atual do papel do amante do futebol e do público em geral. Diante da grandeza dos feitos da equipe de Chapecó, esses nada mais podem fazer do que ajudar a eternizar as memórias daquele que pode ser considerado o elenco de maior êxito de toda a história da Chapecoense; aquele grupo que fez do sonho realidade, levando todo brasileiro que acompanha futebol a ser Chape por um tempo.
A necessidade da preservação da memória desses heróis é vital por isso: para que a fatalidade na terrível viagem para a final não seja o final da melhor época da equipe. Para que a esperança permaneça e o time consiga se reerguer.
Os próximos passos não serão fáceis e a comoção deste dia triste precisa se transformar em ação, o discurso de apoio se transmutar em atitude; por respeito ao ocorrido, pela memória dos envolvidos, seus familiares e amigos e para manter viva a esperança de um clube que conquistou a admiração de todos e sofre hoje com um fardo pesado demais para carregar só.