Saint-Étienne 1973-1976
NO PRIMEIRO QUARTO DO SÉCULO XXI, pode soar estranho, que mesmo com hegemonias recentes de Lyon e Paris Saint-Germain, um dos maiores vencedores do Campeonato Francês, em toda a história, segue sendo o Saint-Étienne. Os Vert et Blancs, eternos representantes da classe operária da cidade homônima, têm 10 títulos da competição. Muito disso se deve à força demonstrada pela equipe na década de 1970, após alguns sucessos na anterior.

Em pé: Curkovic, Janvion, Piazza, Farison, Bathenay, Synaeghel, Lopez; Agachados: H. Revelli, Rocheteau, Larqué, P. Revelli.
Time: Saint-Étienne
Período: 1973-1976
Time base: Curkovic; Janvion (Merchadier), Piazza, Lopez, Farison (Repellini); Bathenay, Larqué, Synaeghel (Santini); Rocheteau (Triantafyllos/Bereta/Saramagna), H. Revelli e P. Revelli. Téc.: Robert Herbin
Conquistas: Tricampeonato francês e bicampeonato da Copa da França
Comandado pelo então jovem Robert Herbin, ex-jogador do próprio clube e que fez a transição direta de papeis, trocando as chuteiras pela prancheta sem tempo para descansar, o Saint-Étienne ficou conhecido pelo vistoso jogo que praticava. Buscava, por meio da posse e da técnica, impedir que o rival sequer pudesse desenvolver seu próprio jogo.
Com a técnica e habilidade de seus jogadores, abusando do jogo pelos flancos, idealizava superar a tática e o lado físico do jogo; e em grande medida conseguiu, transformando-se, para muitos,em um verdadeiro ícone cult do futebol europeu.
A formação do time
Em 1972, o time alviverde precisou lidar com um baque importante. Principal estrela do elenco que conquistara o tricampeonato francês no final dos anos 1960 (além de duas copas da França), o malinês Salif Keita deixou o clube, partindo para o Olympique de Marseille. A imponente figura do artilheiro precisava ser substituída a altura; a equipe perdera ninguém menos do que o Jogador Africano do Ano de 1970.
Apesar disso, a estrutura do time campeão não foi completamente alterada, o que tornou menos difícil a transição. No ataque, o talentoso dueto formado pelos irmãos Revelli continuava, atormentando as defesas adversárias, com os gols de Hervé e a habilidade de Patrick. Nos outros setores, contudo, houve mais alterações.

Foto: Reprodução
Sobretudo na defesa, um novo encaixe começou a se dar em 1972, em função das chegadas do zagueiro argentino Oswaldo Piazza e do lateral Gérard Janvion. Outra importante novidade foi a ascensão do volante Dominique Bathenay, da base para os profissionais — bem como a contratação do experiente goleiro iugoslavo Ivan Curkovic, ex-Partizan.
A rapidez com que o time reconquistou coesão foi tanta que oculta completamente o fato deste nada ter conquistado em 1972-73. O melhor estava por vir e parecia que todos o sabiam.
A retomada do domínio doméstico
Em 1973-74, o torcedor acostumado aos êxitos da década anterior voltou a sentir o prazer de ser campeão e vibrou orgulhoso com o que sua equipe demonstrou.
Com um ataque poderoso (o segundo melhor da competição, com 74 gols marcados em 38 jogos) e uma defesa forte (a segunda melhor do certame, com 40 tentos sofridos), mostras de um coletivo impressionantemente bem formado, o time somou oito pontos a mais que o Nantes, vice-campeão — foram apenas seis derrotas em todo o ano.
Vale lembrar que, à época, as vitórias somente somavam dois pontos.
Além disso, após bater o Monaco no Parc des Princes (2 a 1), em Paris, o time conquistou o doblete, vencendo também a Copa da França.

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Com o sucesso, o Saint-Étienne voltou a disputar a Copa dos Campeões e passou a dividir as atenções entre as competições domésticas e a poderosa disputa continental. Talvez por isso em 1974-75 não tenha sido tão brilhante na Ligue 1 — mesmo fazendo mais do que o suficiente para conquistar o bicampeonato. Com menos pontos e menos gols, conseguiu vantagem de oito pontos para o Olympique de Marseille, de Paulo César Caju e Jairzinho, e voltou ao topo.
Aliás, o sucesso do Campeonato Francês repetiu-se na copa nacional. De volta ao Parc des Princes, o Saint-Étienne brilhou novamente, desta vez contra o Lens, 2 a 0. Apesar disso, o êxito na própria pátria parecia pouco para os Vert et Blancs.
Para se eternizar como um dos grandes times da história do futebol europeu, teriam que mostrar força contra os mais fortes; precisariam fazer bonito na Copa dos Campeões.
No meio do caminho, havia um Bayern
A escalada de sucesso do Saint-Étienne seguiu a toda. Nas partidas internacionais de 1974-75, sem dificuldades, eliminou o Sporting CP na primeira fase, brilhando a estrela de Hervé Revelli. A seguir, após sofrer derrota pesada para o Hajduk Split na Iugoslávia, 4 a 1, os franceses conseguiram o impensável: bateram o time do Leste Europeu por 5 a 1 na volta e seguiram em sua caminhada. Ainda na Cortina de Ferro, os Verts bateram o polonês Ruch Chorzów. Tudo isso para conhecerem seu algoz.
Quem acredita em carma, reconhece no Bayern de Munique o do Saint-Étienne.
Em meio a um contexto de viradas e muitos gols, o time francês chegou às semifinais da Copa dos Campeões, junto a Barcelona, Leeds United e o citado clube bávaro, seu adversário. Se antes a equipe se garantira sempre que jogou em casa, um empate sem gols na partida de ida se mostrou um mau agouro.
O adiamento do sonho continental veio na partida de volta, em que gols do Kaiser, Franz Beckenbauer, e de Bernd Dürnberger mandaram o Saint-Étienne para casa. Ele retornaria, no entanto, já no ano seguinte.

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Mantendo-se no topo na França em 1975-76 o Saint-Étienne, que via se firmar a estrela de Dominique Rocheteau, O Anjo Verde, suou, mas conquistou novamente a Ligue 1, com três pontos a mais que o Nice. Dessa vez, o título copa não veio, disputado por Olympique de Marseille e Lyon. Sucesso maior o Saint-Étienne encontrou na Copa dos Campeões.
Após passar, com facilidade, pelos dinamarqueses do KB e pelo Rangers, sofrer para conseguir uma reviravolta e transformar o 2 a 0 inicial do poderoso Dynamo de Kiev em um 3 a 2, no placar agregado, e conseguir a vitória pelo magro placar de 1 a 0 contra o PSV Eindhoven, o mais famoso alviverde francês chegou à final. Contra quem?
Novamente, o Bayern. Em Hampden Park, na cidade do Rangers, este se viu vingado.
Talvez o dado mais curioso da final tenha sido o fato de que, em meio a uma infinidade de jogadores de talento, coube ao volante, a peça mais segura do Bayern, a tarefa de marcar o solitário gol do título bávaro. Franz Roth pôs fim ao sonho do Saint-Étienne, sentenciando a França a uma espera até 1992-93, para ver um de seus clubes finalmente vencer a competição continental, o Marseille.
O grande time
Como mencionado, o gol alviverde era defendido por Ivan Curkovic. Diz o velho ditado que “todo bom time começa com um bom goleiro”; a máxima foi respeitada em Saint-Étienne. Um dos líderes do time, o iugoslavo se confirmou uma grande contratação, atuando em quase todas as partidas do clube no período e passando a ser reconhecido pela própria agremiação como o melhor goleiro de sua história. É lembrado particularmente bem pelo brilhantismo das defesas praticadas nas partidas contra o PSV, na Copa dos Campeões de 1975-76.

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No início do período retratado, a lateral direita não tinha um dono bem estabelecido. Alain Merchadier, jogador mais apto ao trabalho defensivo, sendo, inclusive, alternativa para a zaga, era uma das opções. Outro que sempre atuou pelo setor foi Pierre Repellini, este ainda mais versátil que seu companheiro, podendo atuar em ambas as laterais e no meio-campo, sendo também lembrado pela boa técnica.
A despeito disso, ambos perderam gradualmente seu espaço, em razão da avassaladora afirmação de Gérard Janvion, lateral ofensivo e veloz que aos poucos se adaptou também às exigências defensivas da função, representando a Seleção Francesa na Copa do Mundo de 1982 como zagueiro.
Pelo outro lado, sempre que esteve disponível o titular foi Gérard Farison. A princípio um ponta esquerda, foi adaptado à lateral, por onde passou quase toda a sua carreira. Dono de veia ofensiva exacerbada, era perigo constante em seus avanços ao ataque, sempre fazendo parcerias infernais com o ponta canhoto escalado. Suas eventuais ausências eram supridas pelo mencionado Repellini.

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A defesa central, por sua vez, era um setor composto por uma dupla inquestionável. De um lado, o argentino Oswaldo Piazza; do outro o franco-argelino Christian López. Peças importantes de suas seleções, impunham respeito com a camisa do Saint-Étienne. Ao contrário do que essa frase parece pressupor, não eram atletas de estilo agressivo e grosseiro, pelo contrário. Destacavam-se com desarmes limpos, jogo aéreo firme e qualidade na saída de bola. Era como se os Vert et Blancs tivessem dois líberos em campo. López é também lembrado pela forma como parou o craque Oleg Blokhin, em 1976.
No meio-campo, havia quatro jogadores talentosos, que disputavam três vagas.
Dominique Bathenay, o mais jovem, apareceu em 1973 e logo se tornou imprescindível. O mais defensivo dos médios alviverdes, era um marcador consistente, sabia sair jogando com qualidade e tinha em seu chute de média distância um de seus melhores predicados. Uma de suas potentes finalizações é particularmente lembrada: um chute que atingiu a trave do Bayern de Munique na final da Copa dos Campeões.
Capitão dos Verts, Jean-Michel Larqué era um dos mais experientes e um dos maiores ídolos da torcida do Saint-Étienne. Inteligente, dotado de visão de jogo privilegiada e um perfeito entendedor dos espaços que o campo lhe oferecia, foi um desses jogadores que se tornam ícones.

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Além dele, como presenças importantes, o time contou com Christian Synaeghel, de bom condicionamento físico, para o qual não existia bola perdida, e Jaques Santini, atleta versátil, que exercia com qualidade qualquer das funções do meio-campo — um faz-tudo.
No ataque, havia apenas uma certeza: a titularidade do goleador Hervé Revelli. Jogador que mais vezes marcou na Ligue 1 com a camisa do Saint-Étienne (com 175 tentos) e o terceiro maior artilheiro da história da competição, era um atacante prolífico, que sabia se utilizar muito bem da forma como a equipe jogava, sempre recebendo bolas das pontas.
Normalmente, aberto pelo flanco direito, jogava o irmão de Hervé, Patrick Revelli. Rápido e habilidoso, lembrado pelo bigode, representava perigo constante, tanto pela qualidade para driblar quanto pela aptidão para cruzar bolas na área adversária.

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Pelo outro lado, contudo, a disputa pela vaga de titular era mais disputada. Jogador histórico, Georges Bereta foi o primeiro a exercer o papel.
Referência eterna da equipe, tendo a defendido entre 1966-74, tinha uma perna canhota infernal, boa para o drible e eficiente nas finalizações. Foi o primeiro capitão da “Era Herbin”.
Com sua saída, o posto ficou vago e foi disputado, inicialmente, entre Christian Saramagna e Yves Triantafyllos, já que o jovem Rocheteau ainda não estava pronto. Enquanto o primeiro era mais talentoso, hábil no manejo da bola, o segundo tinha mais “faro de gol”. No entanto, Saramagna sofreu com muitas lesões e Triantafyllos deixou o clube em 1975.
O lugar estava mesmo destinado a pertencer a Rocheteau.
Embora seja lembrado como ponta pelo lado direito, Rocheteau foi muitas vezes, mormente em seus primeiros anos, usado pelo flanco esquerdo e até mesmo como referência. De carreira atrapalhada por lesões, é considerado um dos melhores franceses de todos os tempos. Seu peculiar estilo, com cabelo longo e dribles insinuantes, logo o tornou um jogador instrumental para o sucesso da equipe e um dos favoritos da torcida.
Posteriormente, brilhou com a camisa do Paris Saint-Germain.
Partidas importantes no período:
34ª rodada da Ligue 1 1973/74: Saint-Étienne 2×0 Lyon
Estádio Geoffroy Guichard, St. Étienne
Árbitro: Robert Frauciel
Público 34.338
Gols: ’11 Bereta e ’80 Revelli (Saint-Étienne)
Saint-Étienne: Curkovic; Janvion, Piazza, Lopez, Repellini; Bathenay, Larqué (P. Revelli), Synaeghel; Bereta, H. Revelli e Rocheteau. Téc.: Robert Herbin
Lyon: Chauveau; Lhomme, Mihajlovic, Baeza, Domenech; Chiesa, Ravier, Maneiro; Di Nallo, Lacombe, Mariot. Téc.: Aimé Mignot
36ª rodada da Ligue 1 1974/75: Saint-Étienne 4×1 Olympique de Marseille
Estádio Geoffroy Guichard, St. Étienne
Árbitro: Robert Wurtz
Público 36.521
Gols: ’27 P. Revelli, ’66 Lopez, ’68 Larqué, ’71 Bathenay (Saint Étienne); ’17 Paulo César Caju (Olympique)
Saint-Étienne: Curkovic; Janvion, Piazza, Lopez, Farison; Bathenay, Larqué, Synaeghel (Santini); P. Revelli, H. Revelli e Sarramagna. Téc.: Robert Herbin
Olympique: Charrier; Lemée, Trésor, Zvunka, Bracci; Buigues, Eo, Emon; Paulo César Caju, Jairzinho e Bereta.Téc.: Jules Zvunka
Final da UEFA Champions League 1975-76: Bayern de Munique 1×0 Saint-Étienne
Estádio Hampden Park, Glasgow
Árbitro: Károly Palotai
Público 54.864
Gol: ’57 Roth (Bayern)
Bayern: Maier; Hansen, Schwarzenbeck, Beckenbauer, Horsmann; Roth, Kapellmann, Dürnberger; Hoeneβ; Rummenigge e Müller. Téc.: Dettmar Cramer
Saint-Étienne: Curkovic; Janvion, Piazza, Lopez, Repellini; Bathenay, Larqué, Santini; P. Revelli, H. Revelli e Sarramagna (Rocheteau). Téc.: Robert Herbin
Em 75 quando perdeu pro bayern na semi ok mas na final de 76 os verdes mereciam o titulo pois engoliram os alemaes com bolas nas traves e chances claras mas cometeram o erro de nao fazer o gol inicial pois saindo na frente ia obrigar o bayern a se virar.lembrando tambem que o saint etienne campeao frances de 81 tinha uma dupla incrivel no ataque que eram o holandes jhonny rep e mi hel platini que juntos ganharam o ultimo frances dos verdes e perdedam duas finais seguidas da copa da franca e nao tiveram sucesso na europa.