A passagem de Renaldo pelo La Coruña
O LA CORUÑA NÃO CONSEGUE SER SOMBRA do que foi nas décadas de 1990 e início dos anos 2000. Nesse período, passou por lá um grande contingente de jogadores brasileiros da melhor estirpe. De Bebeto a Djalminha, passando por Rivaldo e Mauro Silva, o clube da bela e praiana cidade hispânica viveu dias gloriosos, logrando êxitos imensuráveis, tais como um Campeonato Espanhol, duas Copas do Rei e três Supercopas da Espanha.

Foto: El Ideal Galego
Foi nesse panorama que, em 1997, Renaldo Lopes da Cruz, artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1996 com 16 gols – junto com Paulo Nunes –, foi eleito um dos atacantes da Bola de Prata da revista Placar e vendido ao Dépor por 1,9 milhões de dólares.
Rápido e habilidoso, no Atlético Mineiro, fez excelente dupla de frente com Euller e criou a alcunha de “carrasco”, muito em função de seu grande desempenho contra o Cruzeiro. Pelo Galo, onde viveu seus melhores momentos, marcou 79 gols em 183 jogos.
Com esses predicados, o baiano foi vendido ao clube espanhol, que acabara de perder Bebeto. Apesar disso, sua passagem pela Espanha não foi das melhores. Sua estreia, frente ao Barcelona, na 18ª rodada do Campeonato Espanhol, foi com derrota por 1 a 0 em casa. O primeiro dos cinco gols que faria pelo clube saiu na rodada 23, empate contra o Celta de Vigo por 2 a 2. Seus outros tentos seriam marcados contra o Real Oviedo (2), Racing Santander e Valencia.
Conquanto o time tenha assegurado a terceira colocação no campeonato nacional, atrás apenas de Real Madrid e Barcelona, bastou o interesse do Corinthians em seu futebol e sua trajetória pela Espanha começou a declinar. Fracas participações no clube paulista levaram o jogador a atuar longas temporadas longe dos holofotes, na segunda divisão da Espanha.
Las Palmas, Lleida e Extremadura foram seus destinos antes de retornar ao futebol brasileiro.

Foto: AEC
Apesar de falastrão, o jogador que chegou à Galícia se comparando à Rivaldo e Ronaldo é lembrado na Espanha por ter sido um “brasileiro incomum”.
Dizia-se que não se queixava de saudades ou da comida, o que era normal à época. Por outro lado, mostrava-se um profissional dedicado no dia-a-dia. Três problemas são tidos como essenciais para sua não-adaptação: a saúde de seu filho, que permanecera gravemente doente no Brasil, e a de seus pais, que faleceram nos meses de fevereiro e de março daquele ano de 1997.
“Sou uma mescla entre Ronaldo e Rivaldo, mas me comparo com Ronaldo. Tenho a mesma velocidade, o mesmo drible e a mesma chegada. Já o demonstrei no Brasil. Sou como Ronaldo, mas com ‘e’”, disse em sua chegada ao La Coruña.
De volta ao Brasil, virou mais um grande andarilho do futebol brasileiro. Seu grande destaque? A vice-artilharia do Campeonato Brasileiro de 2003 pelo Paraná Clube. Ao final de sua carreira, e com mais de 20 times em sua conta, o atacante admitiu um carinho especial pelo Atlético Mineiro. Lá chegou, inclusive, a defender a meta em partida contra a Caldense, após expulsão de Taffarel.
“O Atlético marcou a minha história. Fui artilheiro, cheguei na Seleção. É o clube do meu coração. Tenho um carinho enorme pela torcida, que sempre me respeitou muito […] Euller foi o meu grande companheiro de ataque de toda a carreira. Até porque, ao lado dele, tive o meu melhor momento.”
Bom de bola, Renaldo poderia ter tido maior destaque na Península Ibérica. Luizão, seu substituto no Dépor, também não foi bem. Em 1996, chegou a ser convocado por Zagallo. A despeito de não ter tido boa passagem pela Galícia, o atacante sempre será lembrado. Afinal, quantos jogadores ousariam se comparar a Ronaldo e Rivaldo?