A eficiente política bávara: de Élber a Lewa
NO SÁBADO, 04 DE JANEIRO DE 2014, o Bayern de Munique anunciou sua mais recente aquisição. Trata-se do excelente centroavante Robert Lewandowski, do rival Borussia Dortmund. O polonês acertou com os bávaros um contrato de cinco anos, que começa a valer no meio deste ano.

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O já amplamente divulgado acerto não pegou os torcedores aurinegros de Dortmund despreparados, o que não será um fator atenuante para a raiva pelo outrora adorado atacante. Depois da “traição” de Mario Götze, as esperanças no Vale do Ruhr foram depositadas nos pés de Lewandowski e Marco Reus e agora passarão unicamente aos pés do meia alemão, que já fez várias juras de amor eterno ao Borussia e não deixou de demonstrar sua tristeza com a partida de seu “irmão” Mario Götze.
A despeito de serem tratadas como “traições”, as decisões de Lewandowski e de Mario Götze são reflexo da política de contratações do poderosíssimo Bayern de Munique. Com um time formado majoritariamente por jogadores da base do clube (casos de Lahm, Alaba, Badstuber, Kroos, Schweinsteiger e Thomas Müller), a equipe completa seu elenco com uma ou outra estrela internacional e, principalmente, com jogadores do mercado nacional. E aí está um dos grandes segredos de seu sucesso.
Imperioso em seu país, o Bayern possui um poder econômico extremamente superior ao de qualquer outra equipe da Alemanha, e assim poderia disputar suas contratações com equipes como Real Madrid, Barcelona, Manchester United ou Chelsea, mas não é o que faz. E tem suas razões.
O campeonato alemão é um dos mais competitivos do planeta e, apesar da soberania bávara, várias equipes conseguem jogar um futebol de boa qualidade, de forma que se encontra material humano de ótimo nível no país. Ao contratar jogadores “nacionais” a equipe se beneficia em vários aspectos. O primeiro deles, obviamente, é a melhoria qualitativa de seu plantel. Ademais, enfraquece seus rivais, que não possuem estabilidade financeira capaz de repor as peças perdidas com o dinheiro arrecadado (isso quando há arrecadação. Lewandowski, por exemplo, se transferirá para o Bayern sem custos) e contrata atletas já adaptados ao futebol alemão.
Na sua história recente muitos são os exemplos, mas considerando a chegada de um centroavante, devemos nos ater aos avançados. Nos últimos 20 anos, como veremos, sete outros atacantes se encontraram em situação semelhante à do polonês em foco.
Giovane Élber

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Pouco conhecido no Brasil, de onde saiu aos 18 anos, deixando o Londrina rumo a Milão, onde defenderia o poderoso Milan, Élber começou a conhecer o sucesso quando, emprestado, foi jogar o Campeonato Suíço pelo Grasshopper, em 1991. Com excelente desempenho, foi vendido aos helvéticos e permaneceu na Suíça até 1994. Nesse período, em 69 jogos marcou 41 gols.
Enquanto o Brasil conquistava o Tetracampeonato Mundial, Élber se mudava para a Alemanha, onde defenderia o tradicional Stuttgart . Em três temporadas disputou 87 jogos e marcou 41 gols – aqui vale a lembrança de que a temporada inicial do brasileiro foi bem mais fraca que as sequentes, tendo marcado apenas oito gols.
O faro artilheiro e um título da Copa da Alemanha na temporada 1996/1997 levaram o Bayern a se interessar pelo atacante e contratá-lo para a temporada seguinte. Élber brilhou intensamente nas sete temporadas em que defendeu os bávaros. Ao todo, marcou 92 gols em 169 jogos e conquistou o tetracampeonato alemão e o tricampeonato da Copa da Alemanha, além de uma UEFA Champions League e um Mundial de Clubes.
Claudio Pizarro
Destaque precoce no futebol peruano e na seleção de seu país, Claudio Pizarro trocou o Alianza Lima pelo Werder Bremen em 1999, aos 20 anos. No período em que defendeu os alviverdes, marcou 29 gols em 56 jogos e foi o vice-artilheiro da Bundesliga na temporada 2000/2001.
Contratado pelo Bayern para a temporada 2001/2002, fez sucesso e permaneceu até a metade de 2007, contabilizando 71 gols em 174 jogos. Vendido ao Chelsea, não foi bem sucedido e retornou à Alemanha para jogar novamente no Werder Bremen. Após quatro temporadas, refez o percurso de nove anos atrás e retornou ao Bayern, onde ainda joga. Na atual passagem, Pizarro anotou 7 gols em 23 partidas. Ele é ainda o estrangeiro que mais vezes marcou na Alemanha.
Lukas Podolski
Aos 18 anos, Lukas Podolski já se destacava no Colônia. Aos 19, e mesmo na segunda divisão, já atuava pela seleção alemã. Depois de 81 jogos e 46 gols pelo Köln, firmou contrato com o Bayern, aos 21 anos.
Mas em Munique não conseguiu o mesmo sucesso. Marcou apenas 15 gols em 71 jogos, nas três temporadas em que esteve lá. Com a concorrência de Luca Toni e Miroslav Klose, perdeu espaço e acabou retornando ao Colônia, onde voltaria a ficar em evidência. Atualmente defende o Arsenal, da Inglaterra.
Miroslav Klose

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Segundo maior artilheiro em Copas do Mundo com 14 gols, Miroslav Klose brilhou pela primeira vez no futebol com a camisa do Kaiserslautern, quando atuou ao lado do brasileiro Lincoln e sob o comando de Andreas Brehme. Lá permaneceu entre 1999 e 2004, quando se mudou para o Werder Bremen, onde substituiu o brasileiro Aílton e formou um poderoso tridente ofensivo com o croata Klasnic e o francês Micoud. Depois de três temporadas de sucesso, tendo, inclusive, sido o artilheiro da Bundesliga na temporada 2005/2006, Klose foi para o Bayern em 2007, sem custos.
Na equipe de Munique Klose passou quatro temporadas, e embora não tenha ido mal, não repetiu o sucesso obtido nos clubes anteriores e na seleção alemã, muito disso devido à concorrência com Mario Gómez, e acabou na Lazio, da Itália, onde permanece até hoje.
Mario Gómez
Formado no Stuttgart, ganhou destaque na temporada 2006/2007, quando, inesperadamente, seu clube conquistou o Campeonato Alemão. Fazendo dupla com o brasileiro naturalizado alemão Cacau, Gómez marcou 14 gols em 25 jogos e foi o 4º na artilharia da temporada. Na temporada seguinte não conquistou o título, mas foi o vice-artilheiro com 19 gols, cinco atrás de Luca Toni.
Seu faro de gols levou o Bayern a apostar em seu futebol, contratando-o na temporada 2009/2010. Sem muita técnica e habilidade, mas com bom posicionamento e finalização foi bem no clube bávaro, conquistando uma infinidade de títulos e anotando 75 gols em 115 jogos. Com a chegada de Guardiola, treinador que não tem muito apreço por centroavantes de ofício, Gómez optou por sair e foi para a Itália jogar na Fiorentina.
Ivica Olić

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O croata Ivica Olić ganhou notoriedade internacional quando fez ótima dupla de ataque com o brasileiro Vágner Love no CSKA de Moscou. Lá conquistou três campeonatos russos e também uma Copa da UEFA. Em 78 jogos marcou 35 gols pelo clube russo.
Já conhecido no mercado, em 2007 foi contratado pelo Hamburgo, onde permaneceu por duas temporadas e marcou 29 gols em 78 jogos. Seu bom desempenho chamou a atenção do Bayern, que o contratou em 2009. Contudo, em Munique o croata não passou de um reserva, sendo ainda lembrado por ter perdido um pênalti na final da UEFA Champions League da época 2011/2012 contra o Chelsea. Sua saída para o Wolfsburg, em 2012, não foi lamentada. No período em que atuou pelos bávaros marcou 13 gols em 55 jogos.
Mario Mandžukić
Outro atacante croata, Mario Mandzukić chegou ao clube em 2012 após a Eurocopa, da qual foi artilheiro. Seu retrospecto no Wolfsburg indicava que o atleta sabia marcar gols, mas também ajudava seus companheiros nessa tarefa, já que na temporada 2011/2012 ele anotou 12 gols e proveu 10 assistências.
Até o momento, seu futebol agrada. Desde que chegou a Munique, Mandzukic balançou as redes 25 vezes em 40 jogos, uma delas na final da Uefa Champions League 2012/2013, quando o Bayern levou o título.
Qual destes outros atacantes servirá de modelo para Lewandowski não é possível afirmar. Considerando seu momento, ele tem tudo para brilhar no Bayern, tornando-se um dos grandes jogadores da história bávara. Cercado de excelentes atletas, o atacante polonês poderá alcançar seu nível máximo – se é que ainda não o alcançou.
Seu futuro muito promete, mas só o tempo mostrará quem levou a melhor nessa história. Até lá, o Bayern promete mais uma temporada de títulos, com uma equipe construída sob uma política muito própria e certeira.