Henrikh Mkhitaryan e o conflito Nagorno-Karabakh
NA ÚLTIMA SEXTA-FEIRA (28), foram sorteados os grupos da Liga Europa 2015-16. Contando com a notável participação do Borussia Dortmund, que fez má campanha na Bundesliga 2014-15 e não conseguiu vaga para a Liga dos Campeões, o sorteio ganhou ainda mais relevo. Por trás da faceta futebolística intrínseca ao sorteamento, um conflito geopolítico ganhou as manchetes de periódicos de todo o mundo.
Em um grupo com PAOK (GRE), Krasnodar (RUS) e Qäbälä (AZE), o conflito entre Armênia e Azerbaijão, o afamado e sangrento Conflito Nagorno-Karabakh, voltou à tona. Por quê?
O Borussia conta com um atleta armênio, Henrikh Mkhitaryan. A inexistência de relações diplomáticas entre o país natal do camisa 10 aurinegro e o Azerbaijão, nação do Qäbälä, pode impedi-lo de entrar em campo na partida entre os adversários, que acontecerá na casa do clube azerbaijano.
Entenda o conflito
O ano era 1988 e a União Soviética encontrava-se em um processo rápido de esfacelamento. Liderada por Mikhail Gorbatchov, a supernação dava indícios de uma mudança profunda de mentalidade, consagrada pelas famigeradas Perestroika e Glasnost, projetos de reabilitação econômica-política-social. No entanto, a herança de autoridade e sangue de tempos anteriores fez-se presente entre armênios e azerbaijanos.
A disputa pelo domínio da montanhosa região de Nagorno-Karabakh, um enclave situado em território azeri, foi iniciada. A contenda tem raízes político-religiosas, tendo sido local de convivência pacífica entre católicos armênios e muçulmanos de origens turcas e persas. Entretanto, com a ascensão do império soviético, que impôs uma política de poder centralizador, pulverizando a força de pequenas sociedades organizadas (política conhecida como Divide and Rule – Divida e Governe), a situação passou a ser hostil entre os diferentes grupos, que se atacaram muitas vezes nos anos que se seguiram.
Assim, no tenso final da década de 80, o conflito estourou e permaneceu vivo por seis longos anos, com um cessar fogo em 1994 e nenhuma solução concreta até os dias atuais. Entre 1988 e 1994, aproximadamente 30.000 pessoas morreram e mais de um milhão emigrou em decorrência da disputa.
No momento, embora a região situe-se no Azerbaijão, a maior parte da população tem origem étnica armênia. Ademais, após referendo, a região proclamou-se autônoma em 1992, mas nunca foi reconhecida internacionalmente.
Desde 2008, o Grupo Minsk, designado pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) para tentar solucionar a controvérsia com a assinatura de um acordo de paz, vem relatando progressos. Entretanto, até os dias atuais, nada de concreto foi resolvido.
O que Mkhitaryan e o Borussia têm a ver com isso?
Com a falta de diálogo entre Armênia e Azerbaijão, este não permite a entrada de armênios em seu território, não concedendo vistos. Dessa forma, Mkhitaryan não poderia ingressar no país e defender o Borussia Dortmund na partida contra o Qäbälä. Além disso, segundo alguns veículos da imprensa europeia, o atleta chegou a ingressar no país, justamente na região do conflito, em 2011, o que ensejaria sua imediata prisão assim que pisasse em solo azeri.
“Esperamos que isso não aconteça. O Henrikh é um jogador muito importante para nós, com suas brilhantes performances nas últimas semanas”, disse o porta-voz do Borussia, Sascha Fligge, ao canal germânico Sport1.
Haverá solução para o conflito que permita o ingresso do camisa 10 aurinegro no Azerbaijão? Quem sabe… O fato é que, futebolisticamente, o clube alemão perderá muito se não puder contar com seu armador, que vive seu melhor momento no Signal Iduna Park desde sua milionária contratação, na temporada 2013-14. Em 2015-16, em sete partidas oficiais disputadas, Mkhitaryan marcou oito gols e criou seis assistências, desempenho assombroso.